Mais uma história com animais

Post date: Oct 20, 2009 8:12:00 PM

Advertência prévia: Não vale a pena procurar a associar os animais que entram nas histórias a pessoas ou situações reais, porque qualquer semelhança com a realidade… é mera coincidência!

O bode do Chico das Cabras

O Chico das Cabras vivia e vive numa aldeia do concelho de Sardoal, era sapateiro e agricultor, mas nos meses de Abril, Maio e Junho, descobriu uma forma engenhosa de aumentar substancialmente o seu rendimento, socorrendo-se para o efeito das aptidões de um bode, que pelo excelente desempenho do seu mester ganhou a alcunha de “Zéze Camarinhas”…

Naquele tempo era usual que a maioria das famílias tivesse duas ou três cabras, como fonte de rendimento suplementar, para o que as cabras contribuíam com o leite para a produção de queijos, com os cabritos, uns para consumo próprio e outros para venda <e com o estrume que produziam no curral que servia para fertilizar as terras.

Dado o reduzido número de cabras que cada família possuía, não se justificava que cada uma tivesse um bode para emprenhar as suas cabras, havia pessoas que, tendo um bode, constituíam um rebanho recebendo as cabras de muitas famílias, esperando que o bode fosse escolhendo as suas eleitas para o acto da «cobrição», sendo as cabras devolvidas aos seus donos logo que a consumação do acto estivesse confirmada. Como contrapartida recebiam um pagamento em dinheiro e podiam aproveitar o leite que as cabras produziam para fabricar queijos.

Durante cerca de três meses era esta a actividade do Chico das Cabras, que formava sucessivos rebanhos com dezenas de cabras que o bode, afincadamente, fecundava, sendo famoso nas localidades em redor pela sua «produção» e pela sua eficácia na fecundação, sendo muito poucas as cabras que tinham que vir uma segunda vez para os currais do Chico das Cabras. Esta eficaz desenvoltura do bode fazia com que a afluência de animais fosse grande, aumentando de forma muito substancial o pecúlio do Chico, cujo desafogo financeiro começava a ser muito apreciado e invejado. Tudo graças ao seu bode “Zézé Camarinhas”!

Naquele tempo, como agora, a Câmara Municipal de Sardoal atravessava sérias dificuldades financeiras, o que levou a que o seu Presidente, ao ter conhecimento da prosperidade do Chico das Cabras e da sua origem, começasse a congeminar a melhor forma de fazer reverter para o Município os rendimentos do Chico e após uma longa reunião com as chefias e com os assessores jurídicos, concluiu-se que o procedimento legal mais adequado seria a municipalização do “Camarinhas”, passando o mesmo a ser propriedade municipal, passando os munícipes a trazer as suas cabras para serem fecundadas às instalações municipais, onde o bode passaria a exercer as suas funções.

Para que ele se sentisse mais ambientado com a mudança fizeram-lhe um curral nos quintais das traseiras da Casa Grande, onde foram semeados diversos canteiros de forragem para alimento do bode e das suas visitas, até porque uma alimentação exclusivamente constituída por rações, teria um custo elevado, incompatível com o depauperado estado das finanças municipais.

Nos primeiros dias tudo decorreu com normalidade, fazendo o “Zézé Camarinhas” jus à sua fama de cobridor, para grande satisfação do Presidente da Câmara, encantado com este inesperado reforço das receitas municipais.

Mas passados alguns dias, a produção começou a diminuir e o bode, que habitualmente despachava três ou quatro dezenas de cabras por dia, começou a reduzir o seu desempenho, passando a despachar apenas três ou quatro fêmeas por dia, com dramáticos reflexos no erário municipal.

Perante esta redução das receitas o Presidente sentiu-se na necessidade de chamar o “Camarinhas” ao seu gabinete, procurando perceber o que se passava:

- O que é que se passa contigo, “Zézé”? Quando andavas com o Chico das Cabras despachavas dezenas de cabras por dia e agora é o que se vê! Não produzes para a comida… Estás doente? Tens saudades do campo? Queres alguma coisa que não te estejam a dar? Precisas de Viagra ou de alguma ração especial?

Perante, esta catadupa de perguntas e após alguns instantes de silêncio, o bode respondeu:

- Nada disso! Eu estou bem e não preciso de nada, mas o senhor presidente desculpe que lhe diga, mas eu agora sou funcionário da Câmara! E sempre ouvi dizer: na terra do bom viver, faz como vires fazer!...

Convém referir que tudo isto se passava no tempo em que os animais falavam.