Das Origens do Nome “Sardoal”

A ideia de que o nome “SARDOAL” resulta da abundância de sardões (lagartos) na zona, cimentada com a figuração de um desses répteis no brasão do Concelho, o que já acontecia no selo antigo que tem inscrita a data de 1500, pode resultar de uma confusão com o significado medieval da palavra “Sardão”, que entre outros podia ser o de azinheira ou carrasqueiro, existindo diversas localidades com este nome, cuja etimologia é a de terreno agreste com carrasqueiros ou sardões.

Se nos recordarmos que o povoamento vegetal com pinheiro bravo é recente (não terá ainda cem anos) e que a flora dominante anteriormente era a do sobreiro, em primeiro lugar ou equiparada à da oliveira, seguindo-se o castanheiro e a figueira, o que pode ser confirmado consultando as antigas matrizes prediais rústicas do Concelho e se tivermos em conta a tradição toponímica portuguesa com uma profusão de povoações cujo topónimo resultou da flora dominante, bastando para isso recordar como exemplos:Carvalhal, Carrascal ou Carrascais, Sarzedas, Cercadas, Souto, etc., não será muito difícil de aceitar que o topónimo “SARDOAL” possa resultar da influência na zona do povoamento vegetal e da predominância de espécies como o sobreiro, a azinheira e o carrasqueiro..

Atente-se também e a título de curiosidade no diálogo retratado por Gil Vicente na “Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela”, entre a Serra e Lopo e Jorge, dois foliões do Sardoal:

Serra: Peço-vo-lo que canteis

À guisa do Sardoal

Lopo: Esse é outro carrascal

Esperai ora e vereis

Serra: Sois vós de Castela, manos

Ou lá debaixo do extremo?

Jorge: Agora nos faria o Demo

A nós outros castelhanos!

Queria antes ser LAGARTO

Pelos Santos Evangelhos!

Abordada de forma muito sumária aquela que é, na nossa perspectiva, uma forte hipótese para a origem do nome SARDOAL, passaremos a desenvolver um pequeno trabalho, explanando um pouco do que conhecemos sobre as origens da Vila de Sardoal, configurando-a, em parte, às origens da freguesia de Sardoal., fazendo notar que até 8 de Março de 1928, o Concelho de Sardoal era constituído apenas por duas freguesias: Alcaravela e Sardoal.

A freguesia de Valhascos foi criada pelo Decreto nº 37 555, de 15 de Setembro de 1949.

Algumas referências sobre as origens da Freguesia de Sardoal.

Jacinto Serrão da Mota, no seu trabalho manuscrito “Memórias Restauradas do Antigo Lugar e Villa do Sardoal”, escrito entre 1754 e 1762, referindo-se à freguesia de Sardoal, escreve o seguinte:

“Segundo a antiguidade que pelas circunstâncias referidas alcançamos do Sardoal, certamente devemos ter por antiga a sua paróquia e freguesia. Muitos têm por tradição e verdade que noutro tempo fora em S.Simão, ermida sita na aldeia de Alferrarede ( antiga designação da actual aldeia de S.Simão), desta Vila, sem mais fundamentos do que conservar-se ali pia baptismal, o que podia ser como freguesia anexa e não como Matriz. Porém nem disto há memória, mais do que o referido indício. (Antes do Concílio de Trento-1563, todas as freguesias tinham pia e autorização para baptizar, visto que não havia registo obrigatório. Haver pia de baptismo na Igreja de S. Simão e conservar-se a Feira chamada de S.Simão, no dia deste Santo-28 de Outubro, denota grande antiguidade e dele foi antigo orago e padroeiro, antes que o fossem S.Tiago e S.Mateus).

“De que foi em Nossa Senhora dos Remédios, junto ao Castelo de Abrantes, se há documentos não os vi, mas conserva-se a antiga posse de os Párocos desta Vila irem ali oficiar a missa da Festa de San’Tiago, todos os anos de tempo que não há memória.

Querem que sendo como ainda está, esta freguesia de San’Tiago e S.Mateus se dividia em duas ou por maior comodidade dos párocos ou dos fregueses. Ali era San’Tiago. S. Mateus era nesta Vila, defronte da Igreja da Misericórdia onde hoje(1754) se conserva um arco de pedra a que chamam de S.Mateus, por se dizer haver sido ali a sua Igreja.

No arquivo da Igreja que não vi, poderá constar o como ou quando se trasladou a dita freguesia para o lugar onde hoje está, porque sem embaraço do que em alguns livros da Fábrica, no Cartório da Câmara, se encontram obras na Igreja que denotam serem mais conserto do que fundação. Num pergaminho passado por D.Gonçalo, Bispo da Guarda, no ano de 1450, que achei entre outros do mesmo cartório, manda que o Prior e seus parceiros constranjam com censuras aos fregueses, tanto deste lugar como dos montes, a que paguem para as obras do corpo da Igreja, alpendres e campanário. Em outros mais se faz menção da Igreja de S.Mateus e até ao presente não há mais nada que nos informe se é verdade que a houve.

Antes de ser vigararia foi priorado de grande dote, pois de suas rendas, repartindo-as por quatro benefícios que criara, se sustentam quatro beneficiados e de manhã e tarde assistem em perpétuo louvor de Deus na dita Igreja e no coro dela há mais dois capelães que servem no dito coro, com os quais o Vigário, congregando-se por sua devoção ao dito colégio e rezando nele algumas das horas canónicas, faziam esta colegiada muito mais magestosa, com o que muito se enobrecia este povo.

O tempo em que se criou a vigararia não tenho a certeza dele até ao presente, nem me acomodo com a tradição popular nesta parte.

Prometeu-se-me mostrar algumas memórias a este respeito, que tudo e o mais que constar se porá em lugar separado com relação a este.

As anexas que tem esta freguesia, fora algumas ermidas particulares, de que se fará menção, são as seguintes: Na Mourisca a Igreja de S.Sebastião que tem ...(ilegível) fregueses, cujo cura apresenta ao pároco desta Vila. Em Montalegre tem a ermida de San’Tiago e S. Domingos da Roda. No Andreus a ermida de S.Guilherme e a antiquíssima Nossa Senhora dos Barbilongos, assim era chamada pelo século de 500 e hoje com a invocação de Nossa Senhora da Saúde. -Esta invocação nasceu no ano da peste por se mandarem para ali os feridos dela a curar em barracas que para isso se fizeram. Ali era o lugar da cura e se chamou da Saúde. Foi no ano de 1580, aproximadamente, da peste neste Reino e do dito ano a esta parte teve princípio a invocação de Nossa Senhora da Saúde, chamada dantes a Senhora dos Barbilongos, aludindo a uns monges de grandes barbas que ali viveram.-Em Alferrarede (actual S.Simão) tem a referida ermida de S.Simão com pia baptismal, de que há muito não se usa. Por baixo da mesma Igreja e já no termo de Abrantes tem a ermida de S.Miguel. No alto do monte, caminhando dali ou de S.Simão para esta Vila, tem outra de S.Domingos. Nos Valhascos tem a ermida de Nossa Senhora da Graça, contígua com outra arruinada que se diz ter sido a do Salvador, tem mais a de S.Bartolomeu num sítio do mesmo nome. Em Entrevinhas, eregida nos nossos tempos, no ano de 1713, a de Santo António, feita pela devoção dos moradores daquela aldeia e à sua custa.

Tem neste limite a ermida de Santa Maria Madalena, cuja casa se acha muito arruinada, que parece faltar a devoção com que no século de 500 se interessava em seus cultos a principal nobreza desta Vila e cujo zelo chegou a ser tanto que à sua custa mandou vir de Roma, indulgências para as pessoas da sua confraria. Tem junto à Vila as ermidas de S.Francisco e S.Sebastião.

Dentro da Vila a do Espírito Santo, Santa Catarina e Sant’Ana.

As Capelas que há dentro da Igreja são distintas e declaradas em seu lugar separado com clareza dos seus criadores, segundo os cartórios públicos onde o achei e constam em palimpsestos de onde passaram a este texto.

As ermidas na freguesia de Mourisca são a do Espírito Santo, S.Simão e Nossa Senhora dos Matos que dizem ser angelical. A fábrica menor da freguesia da Alcaravela, priorado do Crato e visitada pelo ordinário deste Bispado e seus fregueses também aqui obrigados. De sorte que separados os da dita freguesia de Mourisca, tem a freguesia de San’Tiago e S. Mateus desta Vila 1730 fregueses -1088 na Vila e 642 nos montes, entrando neste número os moradores dos Casais e Sentieiras que são do termo de Abrantes, mas são fregueses do Sardoal.

As capelas particulares vêm a ser no termo de Abrantes a Ermida de S.Bento na Quinta do Pouxão e Nossa Senhora da Conceição na Quinta das Sentieiras e no termo do Sardoal, a de Nossa Senhora da Lapa.

E são as que podemos apresentar pertencentes à Igreja do Sardoal.”

Noutro passo das suas “Memórias Restauradas”, refere ainda Serrão da Mota:

“Número dos fregueses que tem a freguesia desta Vila e seu termo:

Tem esta freguesia de San’Tiago e S. Mateus da Vila do Sardoal, 694 fogos, pessoas de comunhão 1586 e de confissão sómente 144. Tem a Vila 330 fogos. Pessoas de comunhão 1016 e de confissão 72, o que tudo consta do Livro dos Confessados que vi com o Vigário, o Reverendo António Caldeira de Andrade, hoje, em 31 de Outubro de 1754.

Prometemos tratar mais largamente das coisas pertencentes à Igreja desta Vila, sendo-nos mostrados papéis que disso tratavam, como se nos tinham prometido. Hoje, porém, perderam-se as esperanças de poder vê-los, porque achando-se os que havia na cidade de Lisboa, por motivo de certa demanda em respeito de Benefícios, temos, por desengano que pelo terramoto do ano passado de 1755, no primeiro de Novembro, em que destruiu e queimou a maior parte daquela cidade. Com tantos cartórios que no distrito que compreendeu o incêndio nada livrou às chamas e às ruínas, são perdidas as esperanças de jamais podermos ver os ditos papéis, os quais ainda que por acaso pudessem livrar ao incêndio, porque talvez estivessem onde este não houvesse chegado, não será preciso menor milagre ou casualidade, segundo as mudanças da cidade em diversos abarracamentos em que está, o poderem ser restituídos e uns papéis, que no tempo presente, nada em Lisboa se tem por coisa de menos importância. E assim dizendo o que sómente sabemos, tanto por tradição e algumas confrontações de escrituras que antes temos visto, como por vestígios que ainda estão, é sem dúvida que a primeira freguesia de S. Mateus, foi defronte da porta principal da Misericórdia, aonde entre uns quintais de diversos moradores, ainda hoje se vê um arco de cantaria tosca que denota ser mais de porta que de cruzeiro; também pela altura de mais de 4 covados ao solar da rua, se infere ser porta travessa e não principal, porque havemos de supôr que a tal igreja teria a porta principal voltada contra o ocaso do sol e para a frente da Misericórdia.

A ocasião que houve para se transplantar deste lugar a dita freguesia de S. Mateus, como não há papéis que o declarem, podemos inferir que por incómodo ou por arruinada se trasladou a dita freguesia. O tempo não se pode inferir. Mas seria ao tempo que o Prior que então era, erigiu os quatro Benefícios, pois é de crer que a antiga Igreja não teria coro, por desnecessário, nem seria tão espaçosa como a que hoje existe e que por estes motivos, ou talvez por arruinada se trasladou para o lugar onde hoje é.

Também pode concorrer para o mesmo fim, porque a força maior do antigo lugar de Sardoal, ficava da Misericórdia para baixo e compreendia o que hoje são quinchosos subúrbios, tanto sobre a parte de S.Francisco, como sobre a Ribeira Pequena e vizinhanças do Paço, em cujos distritos se vêem, ainda hoje muitos vestígios de serventias antigas, como portadas que há e outros.

Foi em aumento o dito lugar como confirma na Doação que lhe fez de Vila e cresceu para esta parte norte e Chafariz da Murteira ou Rua do Vale, como consta por tradição. Com este aumento do lugar e para esta banda ficar mais distante aos moradores, a dita freguesia e por a tirarem de lugar ensapado e que não podia deixar de ser estreito. Outrossim por sua muita antiguidade ou ruína, eregeram sua nova situação no lugar onde hoje se vê, por ser lugar mais espaçoso, alegre e desafrontado, no cimo do monte, que respeitando as vistas das duas ribeiras se representa monte, não de mediana grandeza.

Aqui, pois, se edificou a dita freguesia ou matriz, igreja tão grande e campeira e com os mesmos espaços que hoje ocupa, sinal por onde se mostra não ser povoação já pequena. È verdade que se lhe não deu a altura que hoje tem, porque no século de 500 e já depois de ser o Sardoal Vila, se faz menção nos livros da fábrica, de obras na dita igreja, nos quais escreverei uma antiqualha que se hoje tornasse a ter uso, não estaria a dita igreja, tanto em termos de se lhe arruinarem os telhados, como se diz que está.

É de saber que por este anos andava a administração da fábrica em pessoas seculares(no ano de 1771 se tornou a passar a Fábrica para os seculares), por eleição da Câmara, a quem davam contas e consequentemente aos provedores de que havia livros de receita e despesa e ainda estão. Num destes livros que se achaava no arquivo da Misericórdia, constaaa que o jornal dos trabalhadores não passava de 50 réis por dia: por isso se podiam fazer obras naquele tempo, com tanta diferença ao presente, que vai de um tostão aos três tostões que hoje ganham.”

Também o Capitão Manuel António Morato, na sua “Memória da Notável Vila de Abrantes”, escrita no século XIX, referindo-se à fundação da Igreja de S.Tiago (em Abrantes), escreve o seguinte:

“As mesmas conjecturas nos levaram a marcar o ano de 1341, como aquele em que se edificava a Igreja de S. Pedro, nos obrigam a pensar o mesmo sobre a edificação da Paróquia de S. Tiago, por isso que palavras e letras também soltas e destacadas, assim o parecem confirmar nos deteriorados apontamentos do Bispo D. Frei João da Piedade.

A esta freguesia pertenciam os moradores do Sardoal e dela se separaram no reinado de D. Afonso V, passando a formar freguesia à parte, com invocação de S.Mateus e S. Tiago e a primitiva igreja ficou desde então considerada ermida , com invocação de Nossa Senhora dos Remédios, mas debaixo da jurisdição do Pároco do Sardoal, que apresentava nela ermitão.”

Sobre este assunto nada se consegue apurar no” Chartularim Universitatis” (17 vol.) e na “Monumenta Henricina”(15 vol.), que trazem muitos documentos religiosos dessas épocas passadas. O mesmo acontece na obra “Portugalia Monumenta Vaticanae”(3 vol.), assim como no”Corpo Diplomático Português” (17 vol.), referência que me foi facultada pelo ilustre Sardoalense Dr. Manuel José de Oliveira Baptista, que igualmente me referiu que não lhe custa acreditar que essa separação religiosa se deva a D. Afonso V, Monarca que estanciou no Sardoal com alguma frequência e daí fez publicar um razoável número de diplomas. De D. Duarte também há cartas reais emanadas do Sardoal, assim como de D.João III.

OUTRAS NOTAS SOBRE A FREGUESIA DE SARDOAL

Em 1712, o Padre Carvalho da Costa, na sua “Corografia Portuguesa”, Vol.3º, pags. 190-196, refere-se da forma seguinte ao Sardoal:

“Que 1 légua a nornordeste da Vila de Abrantes, em lugar baixo, está situada a Vila do Sardoal, que tem 600 vizinhos com muita nobreza, 1 igreja paroquial colegiada, da invocação de Santiago e S. Mateus, Vigararia, que apresentam alternadamente o Bispo da Guarda e o Marquês de Fontes; que tem coadjutor, tesoureiro e 4 beneficiados, que já apresentou o vigário e são hoje da colação ordinária.

Que é Comenda da Ordem de Cristo, de que é Comendador o Duque do Cadaval; que tem Igreja da Misericórdia, Casa mui rendosa, Hospital e estas ermidas: O Espírito Santo, que está na Praça, Santa Catarina com ermitoa, S.Sebastião, S. Francisco e o Convento de Nossa Senhora da Caridade, de frades piedosos, com uma ermida de Santo António, dentro da Cerca. É abundante de azeite, vinho, caça e todo o género de frutas, recolhe algum pão e tem 2 fontes, 2 poços e muitas cisternas. Assistem ao governo civil desta Vila, dois juízes ordinários, 3 vereadores, 1 procurador do concelho, escrivão da câmara, um juiz dos orfãos com seu escrivão e mais oficiais e não entra nela, em correição, o Corregedor de Tomar, senão o Provedor a exercitar o seu ofício.

Que há no termo desta Vila, 8 juízes de vintena e estes lugares: Cabeça Ruiva, Alferrarede, Montalegre, Mógão, Andreus, que são 3 aldeias com 1 ermida de S. Guilherme, Alferrarede com outra de S.Simão, Valhascos, que são 3 aldeias, Mivaqueiro, Cabeça das Mós, Entre as Vinhas, Entre as Serras, Tojal e Lercas.

Que em Montalegre há uma ermida de Santiago com muitos casais e azenhas, cujos moradores pertencem à freguesia da Vila, aonde vão numerados. Que este termo tem mais as ermidas seguintes: Nossa Senhora dos Barbilongos, S.Domingos, S. Miguel, Santa Maria Madalena, S. Bartolomeu e Nossa Senhora da Graça.

Que as ribeiras que há neste termo são a de Cadavás(?) que tem muitas hortas e 4 lagares de azeite; a de Alferrarede com muitas hortas e pomares de gostosas frutas e 7 lagares de azeite e a Ribeira das Rezes(?) com 3 quintas, 2 azenhas, 4 lagares de azeite e 1 ermida de Nossa Senhora, que se achou numa lapa, de que tomou o nome, aonde hoje está uma devota imagem de Santa Maria Madalena.”

Nas “Memórias Paroquiais de 1758”, o Pároco de Sardoal, refere que a Vila do Sardoal pertence à província da Extremadura, sendo do Bispado da Guarda e da Comarca de Tomar.

Na resposta ao quesito nº5 refere:”Tem termo seu, o qual compreende algumas aldeias, como são: Aldeia de Andreus, que tem 77 vizinhos, a aldeia de Entrevinhas, que tem 42 vizinhos, a aldeia dos Valhascos, que tem sessenta e oito vizinhos, a aldeia de S.Simão, que tem dez vizinhos e além disso tem outros casais dispersos por várias partes e uma freguesia separada, de que dará notícia o seu prior”.

No quesito nº 6 refere:”A paróquia está dentro desta Vila e todas as ditas aldeias e casais acima ditos a ela pertencem e ainda alguns mais, como são os Casais das Sentieiras e os Casais chamados do Revelho.”

Resposta ao quesito nº 7:”Que o orago da paróquia é de S.Tiago e S.Mateus, tem duas naves e oito altares, que são:O altar-mór, em cuja tribuna estão colocadas as imagens dos ditos Santos Apóstolos e no meio a imagem da Senhora da Conceição. Da parte direita tem o altar colateral, onde está a Árvore de...(ilegível) e no cimo dela a imagem da Senhora com o título do Rosário e na banqueta outra imagem da Senhora do Pranto. Segue-se o altar do Menino de Deus, na nave da parte direita, com a sua imagem e depois o altar de S.João Baptista, com a sua imagem.

Da parte esquerda tem o altar colateral de Santa Luzia, com a sua imagem e outra de S.Brás e outra de Santa MariaMadalena e um retábulo do descimento da Cruz, de pintura.

Segue-se o altar do Senhor das Chagas com a imagem do mesmo Senhor, crucificado, na nave da parte esquerda. Depois o altar de S.Pedro Apóstolo, com a sua imagem e últimamente o altar de S.José, com a sua imagem.

Tem a dita Igreja quatro Irmandades. A primeira é de S.Pedro, chamada dos Clérigos Pobres, que são os que fazem a dita Irmandade. A segunda é a do Santíssimo Sacramento. A terceira da Vera Cruz ou dos Santos Passos. A quarta a da Senhora do Rosário.

Resposta ao quesito nº 8:”O pároco é vigário que apresenta a Rxcelentíssima Duqueza de Abrantes. A renda que tem é, sómente, a tenuíssima côngrua de quarenta mil réis, que ao princípio se assinou. E o pé de altar que também é moderado, a respeito da grande freguesia que tem, chegará, quando muito, a cem mil réis por ano.”

Resposta ao quesito nº 9:”Tem quatro beneficiados, cada um dos quais tem a ração certa de dois moios de trigo, um de centeio, sessenta almudes de vinho, dez alqueires de azeite, dez tostões e nada mais e são apresentados pelo vigário.”

CONVENTO DE SANTA MARIA DA CARIDADE

Para melhor nos situarmos nas origens do Convento de Santa Maria da Caridade, transcreveremos aqui um excerto na obra “Santuário Mariano e História das Imagens Milagrosas”, de Frei Agostinho de Santa Maria-1711-Vol III-Pag. 109 e seguintes:

“Acima da Vila de Abrantes a uma légua, se vê a Vila do Sardoal, povoação pequena, mas a gente dela pia e devota. Junto à Vila fica em sítio alto e sadio descoberto a todos os ventos, com uma vista para o Tejo, um Convento de Religiosos da Província da Piedade, fundado naquele povo pelos anos de 1571.

Havia já naquele sítio uma devota ermida, dedicada a Nossa Senhora com o título da Caridade, título que os Religiosos também impuseram ao Convento. Foi sempre esta ermida o Santuário mais célebre e de maior devoção que havia por aqueles arredores e assim eram nele as romarias contínuas.Porque de todos aqueles povos circunvizinhos era visitada. E assim recebiam todos da liberal mão daquela Soberana Mãe da Caridade muito grandes favores.

Uma notável maravilha refere o Cronista da Província da Piedade, dizendo desta sorte: que saindo os Religiosos a pedir esmola de pão, como costumavam e chegando a meia légua do Sardoal, a um lugar chamado Velhascos, onde os Religiosos costumavam ir de quinze em quinze dias, pedir esmola de sacola, chegando em uma ocasião a pedir à porta de um Irmão da Ordem, muito devoto dos Frades e da Senhora da Caridade, chamado João Gonçalves, mandou este à mulher que desse a esmola que costumava dar em todas as segundas-feiras, que era o dia em que pediam, ela, por ser pouco devota e por não ter pão para a semana toda, porque suposto que no sábado antecedente tinha amassado, havia tido tantos hóspedes no Domingo que lhe não ficaram mais que dez paes de toda a amassadura, se escusava de lha dar. Contudo o marido, sem respeitar as razões que a mulher dava para negar a esmola, mandou que logo lhe dessem seis pães, que detinha de costume. Não pode ela deixar de o fazer e suposto que pouca vontade, fez a esmola ficando só com quatro pães em casa. Porém, Deus que estima sempre a caridade e o que se despende com os pobres, mostrando os seus poderes, foi servido e também pelos merecimentos de Sua Santíssima Mãe, que não faltasse naquela casa o pão por toda a semana inteira, em que costumava dar a sua amassadura e havendo naquela família oito pessoas, todas comeram dos quatro pães os seis dias seguintes com muita abundância.Porque todas as vezes que a mulher ia buscar pão à sua arca, achava o que lhe era necessário para aquele dia, do que ficou tão admirada, que mudando a condição e conhecendo a sua pouca caridade, começou a ser mais devota dos Religiosos e a ter mais caridade com os pobres e a ter mais devoção à Senhora da Caridade obradora dessa maravilha a favor dos seus capelães.

Quanto à origem e princípios desta Santa Imagem da Senhora da Caridade, consta de uns livros antigos da Casa da Misericórdia (da mesma Vila do Sardoal) que no ano de 1549 enterraram os Irmãos da sobredita Casa, a Ermitoa de Nossa Senhora da Caridade. E consta mais de outro assento, que na mesma era, certa pessoa deixara doze mil réis de esmola à Ermida da Senhora da Caridade. Por onde se verifica ser muito antiga aquela Casa e que naquele tempo tinha ermitoa, que tinha cuidado da Casa da Senhora, da sua lâmpada e do asseio do seu Altar. E haveria tido outras muitas Ermitoas ou Ermitães.

(...)No lugar e trono da tribuna que fizeram na Capela-Mór colocaram outra Imagem da Senhora, que mandaram fazer a Coimbra, de madeira, a quem deram o título da Assunção. E a esta Santa Imagem festejam no seu dia, 15 de Agosto e nele se lhes dá de esmola um bom jantar.

E não consta, nem há quem se lembre, de que em algum tempo festejassem a Senhora da Caridade que é a Senhora titular e o orago do mesmo Convento e a Senhora que os recolheu na sua casa e que lhes fez nela tantos e tão grandes favores, pelos quais merecia todos os obséquios. A Vila semtre teve grande devoção a esta Senhora e por seu respeito, quando os Religiosos a nomeiam(quando nos sábados vão à esmola) se lhes acode com diligência. É esta Santa Imagem de pedra e tem a altura de quatro palmos e meio.

Não consta que aparecesse, mas vê-se que é muito antiga. Da Senhora da Caridade escreve o Padre Frei Manuel de Monforte e o Vigário do Sardoal Matias da Silva Cardiga, em relação que nos fez por mandado do Ilustríssimo Bispo da Guarda D.Rodrigo Moura Teles.

Em meados do século XVI, quando o Convento Franciscano de Santo António, de Abrantes, estava instalado, ainda, junto à Ribeira da Abrançalha, a norte da povoação que tem o mesmo nome, muitos habitantes do Sardoal frequentavam esse centro religioso, para os seus actos de piedade, visto situar-se a pouco mais de meia légua desta Vila, pelos atalhos que seguiam através dos pinhais que, a sudoeste de S.Simão, iam entestar com a antiga mata dos Beirins.

Porém quando o referido Convento de Santo António, foi transferido para junto da então Vila de Abrantes, um numeroso grupo de habitantes do Sardoal achou por bem fazer uma exposição ao Ministro Provincial da Ordem, pedindo-lhe a criação de um Convento no Sardoal, oferecendo-se, mesmo, para construir a raiz desse Convento.

A autorização, porém, tardou bastante em ser deferida, com o argumento de que ficariam relativamente perto um do outro e se afigurava, por isso como pouco curial, existirem dois conventos da mesma ordem em locais tão próximos. Mas a insistência foi tanta, segundo relata um cronista da Ordem, que “finalmente aceitaram o oferecimento, não podendo mais resistir aos rogos e importunações daquele devoto povo.”

Para esta mudança deu também licença o Bispo da Guarda e juntamente para se fundar o Convento do Sardoal, que se edificou no mesmo tempo. O teor da licença é o seguinte:”D.João de Portugal, Bispo da Guarda.Por este fazemos saber ao Vigário Geral de Abrantes, que o M.R.P.Fr. Maseu, Ministro Provincial da Província da Piedade, me fez saber que ele com os Padres da dita Província determinava mudar o seu Mosteiro de Santo António da Abrançalha, para outro chão junto das Bicas, mais perto da Vila e assim fazer um mosteiro novo na Ermida de Nossa Senhora da Caridade, na Vila de Sardoal e me mandou pedir para isso licença e aprovação. E por quanto serviço é de Nosso Senhor e mercê que nos faz em tomarem os ditos Padres mais Casas e estarem em lugar mais cómodo para a sua saúde e para bem do povo, em que tanto fruto fazem com o seu exemplo, confissões e pregações e tanto ajudam diante de N.Senhor, com as suas contínuas e devotas orações, penitências e sacrifícios. Nós lhe damos licença e autoridade conforme o Direito e o Santo Concílio e folgaremos ser muito parte em tão santa e necessitada obra e de tanto serviço e fruto. Pelo que vos mandamos que assim o guardeis e publiqueis ao povo, quando for necessário ou pelo M.R.P.Ministro ou outros Padres vos for requerido e lhes deis toda a ajuda e favor que necessário for e procedeis contra todos aqueles que por alguma via os quiserem impedir, sendo justo e necessário e para isso vos cometemos nossas vezes, porque a dita obra se faça com a benção de Deus e do P.S.Francisco e Santo António e a nossa. Dada em Lisboa sob o nosso sinal e selo aos 15 dias do mês de Agosto. Gaspar Homem a fez, de 1571. D.João de Portugal, Bispo da Guarda.Lugar do selo.”

O Convento “está muito perto da Vila” assinala o Cronista Franciscano que nos serve de apoio, “em sítio alto, sadio e descoberto a todos os ventos, beneficiando igualmente de uma boa vista para o Tejo.” O terreno circundante dispunha também de um belo pomar que “(...) produzia diversas frutas, as quais fariam grande inveja às que são regadas com copiosas águas. A cerca envolvente alargava-se, ainda por uma recosta abaixo de grande espaço útil, até um terreno de hortado que os frades pasaram a cultivar para ajuda do sustento da comunidade.”

A partir destes elementos de base, no ano de 1571, sendo Ministro Provincial Fr. Maseu de Elvas, se começou a construção junto à referida ermida, a qual, depois de bastante ampliada ficou servindo de Igreja Conventual.

“Toda a gente do povo, conforme as possibilidades de cada um, concorria liberalmente com suas esmolas para as referidas obras.(...) E, como naquele tempo, residisse nesta Vila, com carácter permanente, D.Duarte de Almeida, filho de D.Lopo de Almeida, terceiro Conde de Abrantes, devotadíssimo, não sómente foi dos primeiros a concorrer com as suas ofertas e donativos para a construção daquele grande e espaçoso edifício, como ainda nunca esmoreceu até à conclusão do Convento”, assim se refere o mesmo historiador franciscano, Frei Manuel de Monforte, acerca dessa figura da melhor nobreza sardoalense. D. Duarte de Almeida, está sepultado junto aos degraus da Capela-Mór, da Igreja do Convento.

Outro fidalgo que se sabe ter colaborado na construção do Convento, foi o Cavaleiro Francisco Lobato, da melhor nobreza sardoalense.

Segundo consta de uma lápide embutida na parede do lado do Evangelho, na Capela-Mór, foi este Convento reedificado em 1676, lançando a primeira pedra o 1º Arcebispo da Baía D. Gaspar Barata de Mendonça, natural do Sardoal, com a assistência do Provincial da Ordem, a quem por contrato celebrado em 1 de Abril de 1678 foi dado o seu padroado, tendo dado mil cruzados para a reconstrução e obrigando-se à ordinária de trinta mil réis anuais para a sua conservação e jaz sepultado num mausoléu na mesma Capela do lado da Epístola.

Sob o pavimento da Capela-Mór há um vasto carneiro, onde se encontram sepultados os membros da ilustre e nobre família Moura e Mendonça.

Um dos últimos descendentes desta família, D. Francisco Manuel de Mendonça, Cónego da Sé Patriarcal de Lisboa, sendo Provedor da Misericórdia do Sardoal, quando esta, em resultado da extinção, em 1834, de todas as Ordens Religiosas, por Joaquim António de Aguiar, foi transferida com o seu hospital para o Convento, comprou a cerca a ele contígua e fez logo dela doação à Santa Casa, da qual foi um grande benemérito, fazendo a expensas suas as obras indispensáveis para adaptar o edifício do Convento a Hospital. Faleceu este benemérito a 16 de Agosto de 1862, sendo seu herdeiro o Padre Gregório Pereira Tavares, falecido em 12 de Outubro de 1867, que só ficou senhor dos bens livres, pois outros mais havia vinculados, o qual manifestou grande zelo e dedicação pela Santa Casa da Misericórdia, satisfazendo valiosos legados.

O SENHOR DOS REMÉDIOS

Uma das mais profundas e sinceras devoções das gentes do Sardoal é o Senhor dos Remédios-epíteto carinhoso com que os seus habitantes sempre designaram a figura de Cristo, vergado sob o madeiro, a caminho do Calvário e cuja imagem, em tamanho natural, se venera numa capela anexa à Igreja de Santa Maria da Caridade. Segundo a tradição esta piedosa imagem, nos seus primeiros tempos, não estaria onde se encontra hoje, mas, sim, na parte interna do Convento dos Frades, um pouco para lá da portaria do rés-do-chão, que fica à esquerda sob a alpendrada da Igreja de Santa Maria da Caridade.

Só mais tarde viria a ser construída, expressamente, a pequena Capela, do lado direito do átrio exterior, para onde fora transferida. Muito delida pelo tempo, essa tradição que passava através de sucessivas gerações oferecia algumas reservas por não se abonar em qualquer documento escrito.

Porém, recentemente, investigações levadas a efeito na Torre do Tombo, permitiram encontrar o “AUTO DE NOTÍCIA” dessa transferência, que a seguir se transcreve:

“Colocou-se a Sagrada Imagem do Senhor dos Remédios na capelinha dela, dentro da portaria, aos 16 de Agosto de 1743.

E pelo grande concurso das gentes e perturbação que davam aos Religiosos se lhe fez a segunda capela em que está e para onde se trasladou aos 28 de Abril de 1748.

Pregou na festa da colocação o Ir.Fr. Diogo dos Prazeres, Missionário Apostólico do Real Seminário de Brancanes, que aqui se achava em Missão. Disse a primeira missa na segunda capela o Ir. Fr. Joaquim de Vale de Prazeres que foi quem mandou vir a dita imagem e diligenciou a fábrica das duas capelas e o ornato de castiçais, docel quartinado e as mais ornamentações do Altar, casulas e paramentos. Pregou o primeiro sermão no dia da trasladação o Ir.Fr. António do Fundão Barreiros.

Dourou-se e pintou-se a Capela no ano de 1750.”

NOTA: Os elementos que se referem ao Convento de Santa Maria Da Caridade e ao Senhor dos Remédios, foram colhidos, em grande parte, a partir do “BOLETIM INFORMATIVO DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE SARDOAL”, sendo seu autor o Ilustre Sardoalense Dr. Manuel José de Oliveira Baptista.