20. Notícias de há 100 anos (VIII)

JORNAL DE ABRANTES

9 de Abril de 1911

Correspondências de Sardoal

Na penúltima quinta-feira soube-se que o Sr. Aurélio Neto tinha pedido demissão do lugar de administrador do concelho.

Imediatamente, reuniram a comissão administrativa e política, que deliberaram a não só instarem com o Sr. Neto para continuar no lugar que com tanto zelo e proficiência tem desempenhado, mas também dirigir-se ao Sr.Governador Civil, comissão distrital e Dr. Ramiro Guedes, para que empregassem os seus esforços a fim de o moverem de tal intento.

No domingo, o Sr. Neto declarou às comissões que desistia do seu pedido de demissão, porque tinham sido tantas e tão grandes as provas de simpatia e deferência que tinha recebido de todos e que o deixaram penhorado em extremo, por isso, que continuaria no seu posto enquanto merecesse a confiança de todos e que se tinha pedido a demissão, não era por atritos ou dificuldades que tivesse tido na política do concelho, mas sim, por razão de ordens diversa que nada tinham com a política daqui, onde só tem recebido atenções e deferências.

Rejubilamos com o facto do Sr. Neto ter desistido do seu pedido, que no caso de se ter convertido na realidade, traria dificuldades insuperáveis à política deste concelho, porque dificilmente se encontraria quem como ele desempenhasse o cargo de administrador, com geral aplauso, de ter cumprido e ter feito cumprir a lei.

A sua política aqui tem sido de atracção e reconciliação e Sardoal antigo baluarte monárquico, se hoje está convertido à fé republicana, como ainda há pouco afirmou de uma maneira inequívoca e categórica, na manifestação que fez ao Sr. Dr. Ramiro Guedes quando nos visitou, deve especialmente ao Sr. Neto pela boa política que tem feito, porque dado a verdadeira interpretação às palavras que simbolizam a República, Liberdade – Igualdade - Fraternidade.

Por isso associamo-nos às manifestações de simpatia feitas ao Sr. Neto e endereçamos-lhe os nossos agradecimentos pela sua desistência e às Comissões Administrativa e Política, as nossas felicitações pela nobre atitude que tomaram a fim de obstar a que se realizasse um facto que viria prejudicar em extremo a política Republicana Concelhia.

16 de Abril de 1911

Correspondencias-Sardoal

Daqui a algumas horas deve apresentar-se pela primeira vez nas ruas desta vila a Filarmónica União Sardoalense.

É formada por músicos das duas que aqui existiam, que num gesto nobre e sublime, congregaram os seus esforços e uniram as suas vontades para trazer ao Sardoal alguns trechos de deliciosa música.

Os rivais de ontem, são os companheiros de hoje, por isso, se em alguns ainda existe o ressentimento ou paixão oriunda de lutas atrasadas, bom será que tudo se esqueça, para se pensar no futuro com ardor e entusiasmo para que o Sardoal progrida e possa apresentar uma banda digna de ser apreciada pelos mais exigentes amadores da arte de Mozart.

Deve ser este o ideal de todos os executantes, para que o seu gesto tome mais realce e dignificação, e para todos que têm contribuído com os seus esforços e boa vontade para esta união, continuem a dispensar o seu auxílio e apoio, para que prossigamos na estrada do progresso da civilização até que essa divina arte nos traga a harmonia dos seus, e harmonia de todos os sardoalenses.

A banda é composta de 34 executantes que se apresentarão com os seus novos fardamentos de ka-ki.

A direcção tenciona promover uma kermesse para os dias das festas do Sr. dos Remédios, que se realiza nos dias 29 e 30 do corrente, para atender às despesas com a compra do fardamento e instrumentos novos.

Este ano não se realiza aqui as festas da Semana Santa.

Não sabemos a que atribui-lo visto que a autoridade administrativa só proibiu a realização da procissão, para evitar conflitos como os que se deram em Coimbra, Condeixa, Viana do Castelo, Guimarães, etc, etc.

Mas o culto interno, esse ninguém o proibiu e podemos mesmo garantir que a autoridade seria inflexível para todos que tentassem perturbá-los dentro dos templos.

Em Abrantes, todas estas festas se realizam dentro dos templos, sem ofensas para as crianças mais liberais, visto que ninguém é obrigado a assistir.

23 de Abril de 1911

Correspondencias-Sardoal

Realiza-se no dia 30 as festas do Sr. dos Remédios feita a expensas da Santa Casa da Misericórdia. A mesa da Santa Casa esforça-se para lhe dar um grande brilhantismo, por isso é de esperar que decorra bastante animada.

Haverá festa de igreja, arraial, fogos de artifício etc, etc.

No mesmo dia e no mesmo local também se realiza uma kermesse, cujo produto é destinado à Filarmónica União Sardoalense.

Está próximo o dia 1 de Maio e apesar de aqui haver uma associação dos artistas, não nos consta que se pense em festejos nesse dia.

Bom será que essa associação tome a iniciativa de qualquer festa que sirva de estímulo dos operários sardoalenses para evitar que eles sejam atacados de inércia que a todos prejudica.

Estamos numa época em que as referências sociais se sucedem e em que as aspirações do operariado português estão sendo satisfeitos sem sofismas:

Por isso necessário se torne que ele mostre que é um elemento forte, disciplinado e consciente, com que o governo da República pode contar, desde que a sua orientação seja pelo bem do país, e pelo engrandecimento da Pátria Portuguesa, como até aqui tem sido.

Estamos certos que a classe dos proletariados sardoalenses não deixará passar despercebido esse dia que todos os países cultos festejam como sendo um dia de confraternização operária universal.

7 de Maio de 1911

Valhascos

O Sr. António Esteves foi há tempos à Exmª câmara, queixar-se que João Lopes Caldeira, andava fazendo umas escavações em caminho público, sendo porém certo que tal serviço era feito com autorização da câmara.

Ora, o mesmo António Esteves, trazendo há muito em mira apossar-se do aludido caminho, pediu licença para fazer umas obras com o fim de impedir o transito público, vindo deste modo apossar-se do terreno que compreendia o mesmo caminho.

Esta é que é a verdade.

Agora se vamos a queixas, ouça o Sr. Esteves: Queixe-se o mesmo Caldeira, de que o Sr lhe estragara uma oliveira existente em uma sua propriedade.

Queixa-se ainda o Caldeira que temos uma parede que entestava com o Esteves, esta devido ao mau estado, caíra para o adro do Esteves, e que ele, sem sua autorização dera a pedra ao Miguel Amaro.

E, queixa-se também o mesmo Caldeira, que tendo mandado para o lagar do Esteves 52 alqueires de azeitona da última colheita, este se recusara a dar-lhe o respectivo bagaço, nem a sua importância, e que tendo sido chamado à presença do Sr. Administrador do Sardoal, negou o facto.

Ora, o Caldeira, prova com testemunhas a verdade do que afirma, ficando provado que o Esteves, não tem dúvida alguma em sujeitar-se por tão pouco.

O público que avalie da moralidade do Esteves.

5 de Maio de 1911

21 de Maio de 1911

Sardoal - Comício

No passado domingo realizou-se nesta vila um comício de propaganda republicana que presidiu o Sr. Dr. António Dias Milheiriço.

Eram duas horas da tarde quando o Presidente deu a palavra ao administrador do concelho Sr.Aurélio Neto, que produziu um brilhante discurso em que mostrou ao povo o que era a República. Falando sobre o acto eleitoral disse, que podia ele ser muito ou pouco concorrido, no entanto que a lei que havia de ser fiel e rigorosamente cumprida.

Em seguida usou a palavra o Sr., Tenente Moreira que falou sobre a revolução francesa, aconselhando todos os patriotas que não se deixassem iludir pelos manejos reaccionários que só visam dificultar a marcha e consolidação da República.

Em seguida teve a palavra o Sr. Emaus, director da Fábrica União Fabril, que disse nada pretender da República porque era cidadão livre e que da República nada mais exigia que o bem da sua Pátria, porque um povo que tão heroicamente expulsou as instituições que o roubavam e exploravam era digno de uma Pátria livre e merecedor de uma administração honesta e honrada.

Depois, falou o Sr. Tenente Barreto, que mostrou o grande trabalho que iam ter os constituintes, e por isso era necessário escolher deputados de incontestável valor intelectual e moral porque era lá que se havia de discutir e aprovar a lei fundamental depois.

Por isso, que a todos competia escolher deputados homens que aliado um passado honesto e honrado tivessem inteligência lúcida e clara.

Por último teve a palavra o Sr. Capitão António Maria Batista, candidato às constituintes que falou largamente sobre a obra do Governo Provisório que era colossal e profícua para os intentos e interesses do nosso país.

Falando sobre a expulsão dos jesuítas disse, que este acto foi a melhor obra depuradora que o governo tem produzido, porque essa infame seita só visava a governar-se, prejudicando o país porque lhe dava albergue e prejudicar o Clero nacional, e num rasgo de eloquência que entusiasmou todos os que escutavam, qualquer padre que estivesse ouvindo, convidava a ir àquela tribuna desmentir.

Falando sobre o seu programa político disse, que seria sempre pelo povo, pela Pátria e pela República.

Dissertou largamente sobre constituintes e sobre bases em que havia de assentar a constituição republicana.

Do seu longo discurso que nos foi impossível reproduzir mais fielmente vê-se que tem um largo plano político delineado, e que no caso de ser eleito será um acérrimo defensor dos interesses da Pátria Portuguesa.

Como ninguém mais quisesse usar palavra o Sr. Presidente felicitou o povo da sua terra pela maneira como decorreu o comício, elucidando-o sabre a formação das listas para evitar que elas fossem concretizadas e que só votassem em candidatos de reconhecida probidade.

E encerrando o comício deu um viva á república que foi entusiasticamente correspondido.

Todos os oradores foram aclamados com entusiasmo, sendo os seus discursos interceptados com vivas e palmas.

De manhã também esteve nesta vila o Sr. Martins Júnior em propaganda da sua candidatura.

Falou largamente ao povo expondo o seu programa político.

Hoje realizam-se comícios em S. Domingos, Cabeça das Mós e Valhascos.

Na próxima quinta-feira nos Andreus e Alcaravela.

Foi aqui mal recebida a escolha dos candidatos às constituintes, por nessa lista virem dois nomes que são completamente desconhecidos nesta região e que nada sabem das necessidades da maioria do circuito que se propõem.

Potro

Cardão de 25 meses, vende o Dr. Caroço. Sardoal

JORNAL DE ABRANTES

4 de Junho de 1911

O Acto Eleitoral

O acto eleitoral realizou-se aqui com toda a ordem, e liberdade, sendo grande a

concorrência de eleitores.

Na semana anterior tinha um grupo republicano realizado comícios de propaganda

nos Valhascos, Cabeça das Mós, Alcaravela, S. Tiago, Andreus e Entrevinhas. Muita

gente havia de profetizava pouca concorrência à urna e portanto um fiasco para os

propagandistas, no entanto os factos demonstraram o contrário porque a percentagem de votantes foi de 60% o que representa uma vitória, porque pouco maior foi a de Lisboa, onde a educação e a instrução do povo é em mais elevado grau.

Isto vem provar que o povo se emancipou da tutela monárquica que sobre ele pendia

e que está pronto a contribuir quando em si couber, para a consolidação da República,

como sendo o ideal que mais se coaduna com as aspirações das sociedades modernas.

Foi a primeira vez que os eleitores não se viram assediados com pedidos de votos e

imposições de toda a espécie; por isso eles se mostravam alegres e sorridentes, ao deitar o voto com toda a liberdade sem se estarem a esconder de A ou B para que não vissem em quem iam votar, como é bela a liberdade!

Entraram na urna 569 listas que deram o seguinte resultado:

Dr. Ramiro Guedes – 569 votos

Dr. João José Luís Damas – 387 votos

Capitão António Maria Batista – 381 votos

João Augusto Silva Martins – 105 votos

Carlos Maria Pereira – 54 votos

Castro Melo Ribeiro – 48 votos

Alberto Marques – 8 votos

A Comissão Política discordando da maneira como o Directório escolheu os candidatos, apresentou a sufrágio dos seus eleitores uma lista em que se encontravam os três primeiros candidatos, que como se vê obtiveram a grande maioria de todo o concelho, causou aqui grande impressão e grande júbilo o facto de serem eleitos os Srs. Drs. Ramiro Guedes e João José Luis Damas, que aqui são bastante conhecidos, e com certeza sem prejudicar a Pátria pugnarão para tudo o que possa contribuir para o engrandecimento do círculo que o elegeu.

Aos dois ilustres deputados endereçamos as nossas entusiásticas saudações.

JORNAL DE ABRANTES

4 de Junho de 1911

Nova Empresa de Viação

Acaba de estabelecer-se na vila de Abrantes, a Empresa de Viação de Francisco

Moleirinho, com carros para todos os serviços. O público tem a lucrar com o benefício

que deriva da concorrência. Ver anuncio na secção respectiva.

Anuncio

Nova Empresa de Viação de Francisco Moleirinho. Abrantes, Rua do Cabo, pegado à antiga Cocheira Dupin. Esta nova empresa está montada em condições a bem servir o público mais exigente, pois tem bons carros e gado.

9 de Julho de 1911

Festas nos Andreus

Teve lugar nos dias 29 e 30 de Junho nesta pitoresca aldeia a festividade da N.S.ª da

Saúde e S. Guilherme:

Alvorada no dia 29 despertou-nos a tradicional gaita de foles.

Às 9 horas deu entrada a Banda União Sardoalense que depois dos cumprimentos de

estilo percorreu as ruas juntando fogaças que moçoilas, joviais e garridamente vestidas, vinham ofertar à senhora.

Houve missa em que foi celebrando o Revº Ventura, acolitado pelo Revdº Alpalhão

e Silva Martins. De tarde bailes campestres por todos os cantos, os rapazes dirigiam

às raparigas idílios amorosos e os velhos como já não sentissem o calor da mocidade

prestavam homenagem ao Deus Baco em fartas e copiosas libações.

A música no coreto sob a regência do hábil maestro Sr. Lopes, executou algumas peças

do seu vasto repertório.

À noite fogo de artifício do afamado pirotécnico de Mouriscas, Francisco Marques

Amante, o que agradou a todos, e, para todos os lados os mesmos idílios e mesma

harmonia.

No dia 30 houve missa pelo Revº Alpalhão, de tarde bailes campestres à noite

queimaram-se algumas peças de fogo e deitou-se um lindo aeróstato que subiu

maravilhosamente, à sua subida um grupo de rapazes entoou a Portuguesa.

A fachada da Igreja e o coreto nas duas noites esteve iluminada a acetileno, o que

produziu um lindo efeito.

Eis como passaram 2 dias e 2 noites sem que uma nota triste viesse transtornar o brilho da festa e alegria dos camponeses.

Zig Zag

Utensílios para lagar de azeite

Vende-se uma prensa móbil, de grande força, máquina a vapor com força a 5 cavalos,

moinhos e outros utensílios pertencentes a lagar.

Quem pretender dirija-se a J.M. Pires Coelho. Sardoal, Valhascos.

20 de Agosto de 1911

Dr. Armando Mora

Concluiu a sua formatura em direito este nosso ilustre amigo.

Estudante aplicado e inteligente, conseguiu atravessar toda a sua vida académica

contando bastantes distinções, e este ano apesar de fazer o 4º e 5º ano obteve a

classificação final de distinto, o que para ele não só representa uma glória, mas também uma justa e merecida compensação para o seu árduo e extenuante trabalho.

Foi pelo seu esforço, dedicação e trabalho que conseguiu sempre impor-se à admiração dos seus professores, que nele viam uma vasta inteligência aliada a uma grande força de vontade.

Quem com ele finaliza com tanto brilho a sua vida académica, com certeza que na

advocacia ou magistratura há-de ser sempre uma figura de destaque que se há-de impor pelos seus métodos profissionais e pessoais.

Ao novo bacharel e sua exmª família as nossas calorosas felicitações.

De regresso de Coimbra chegou ontem a esta vila o Exmº Sr. Dr. Armando Mora.

Os seus amigos prepararam-lhe uma manifestação de simpatia tendo ido alguns à

estação de Alferrarede esperá-lo.

A sua entrada na vila foi anunciada por girândolas de foguetes e vivas à sua passagem.

À noite a Filarmónica União Sardoalense foi cumprimentá-lo percorrendo em seguida

as ruas da vila.

3 de Setembro de 1911

Festas nos Valhascos

É nos próximos dias 10 e 11 que se realizam nos Valhascos, as tradicionais festas de

N.S.ª da Graça, que promete, este ano ser revestida de grande brilhantismo, para o que não se têm poupado a esforços os seus promotores.

Além da missa a grande instrumental, fogo de artifício dos hábeis pirotécnicos da

aldeia, José Lourenço Galinha e Henrique Alves Ameixoeira.

2 de Outubro de 1911

Teatro no Sardoal

É hoje que aqui se realiza a festa artística do actor António Barbosa, subindo à cena

pela primeira vez a comédia em dois actos “A Mosca Branca” e alguns monólogos

e cançonetas, terminando o espectáculo com a comédia do teatro ginásio em

Lisboa “Espada e Noiva”.

Debutam neste espectáculo as amadoras Aurora Mascarenhas e Ester Garcia, e os

amadores, Diamantino Garcia, José Maria Santos, Joaquim Maria Serras e Lúcio

Grácio.

Atendendo à simpatia que o beneficiado goza entre os sardoalenses é de crer que este

modesto artista, tenha uma enchente completa.

O espectáculo é dedicado à direcção da Sociedade Filarmónica Sardoalense.

JORNAL DE ABRANTES

29 de Outubro de 1911

Sardoal - Correspondências

Aurélio Neto

Acaba de ser transferido de administrador deste concelho para o da Covilhã este nosso

ilustre amigo.

Desde da implantação da República que está à frente deste concelho, tendo sempre

desempenhado o seu cargo, com inexcedível e comprovada competência.

Veio para este concelho, onde rareavam os elementos republicanos e sai de cá deixando uma forte corrente de simpatia pela República muito em especial nalgumas freguesias do concelho onde a propaganda se fez com mais persistência. E isso deve-se não só a propaganda que ele e outros dedicados republicanos fizeram, mas também à sua correcta orientação administrativa.

A todos atendíamos com a mesma boa vontade e dedicação, e afoitamente o dizemos

saiu de cá sem ter cometido a mais pequena arbitrariedade, ou mais leve e represálias fosse contra quem fosse.

Por isso, ao vê-lo sair, não podemos ocultar o nosso pesar porque sabemos que o futuro nos demonstrará que ele faz cá falta.

Ao povo da Covilhã enviamos as nossas felicitações por ir ter como administrador um

republicano da velha data, intransigente em princípio e de convicção radicadas por vinte anos de luta política.

Novo Administrador

Tomou posse da administração deste concelho o Exmº Sr. António José da Silva.

Esta foi conferida pelo ex administrador Sr Aurélio Neto.

Ao acto assistiram alguns cavalheiros desta vila, tendo falado o Sr. Aurélio Neto, em

seu nome e dos republicanos daqui. Falou sobre a sua administração neste concelho, e o mau caminho que a República aqui queria enveredar.

O Sr. Silva agradeceu a todos a sua competência e declarou que não fazia política de

partidos nem homens, mas sim política republicana.

Oxalá que assim suceda, porque terá sempre os nossos aplausos, pois que, a dar-se

o contrário, também o combateremos, mas esse combate será sempre do campo da

lealdade e da correcção.

Tem sido sempre esta a nossa linha de conduta, e continuará sendo, porque de outro

modo, não entendemos política. Acima dos homens estão sempre os princípios.

12 de Novembro de 1911

Correspondência – Sardoal

Há tempos que aqui estavam destacados policias de Santarém, fazendo guarda dos

olivais para evitar que a azeitona fosse roubada. Eram pagos pelos proprietários, que

para esse fim se quotizaram, visto ser em extremo benefício, pois assim evitam os

abusos que no ano passado se deram, porque, muita gente havia que não se limitava a

apanhar a azeitona no chão, preferiam a que estava na oliveira, porque era mais fácil de apanhar e de melhor qualidade.

Ora isto assim não podia ser, pois o Sr. Governador Civil entende que deve ser e trata

de mandar recolher os guardas ao distrito obedecendo não sei a que razões nem a que

critério. Mistérios que desvendaremos...

Esta ordem surpreendeu-nos imenso, porque ainda há pouco tempo ouvimos dizer a

suas excªs “os polícias estarão o tempo preciso e necessário e subsistir-se-ão para não

criarem relações”.

Os seus actos estão desmentidos as suas palavras de uma maneira tão frisante que nos

dá a impressão que á frente do distrito está um homem que melhor seria que o tivessem mandado para o regedor da aldeia de Paio Pires.

Esta é a verdade, a Câmara Municipal, como defensora dos interesses e regalias

municipais, compete reagir contra tal ordem, para mostrar ao Sr. Governador Civil, que não estamos no regime do posso, quero e mando, mas sim num regime democrático, em que todo o cidadão tem o direito de exigir o respeito que é devido à sua propriedade, pois que, só a ele exigem o pagamento das contribuições. Ao Sr. Administrador do concelho como delegado do governo e fiscal da lei, compete informar de quanto é prejudicial ao proprietário a falta de policiamento e que a sua estadia aqui, em nada prejudicava o governo e a câmara, pois eram pagos pelos particulares.

A ordem do Sr. Governador Civil não poderá ser mantida, a não ser que sua excª. ande

estudando novas teorias socialistas, em que o roubo seja preconizado como elemento depurador da sociedade, por muito útil e benéfico, porque, a ser assim, penitenciar-nos-emos de termos escrito estas minhas e lhe diremos: viva o socialismo moderno.

O Administrador deste concelho acaba de determinar que os sinos das igrejas desta vila não toquem mais de dois segundos por cada acto que se realiza nas igrejas.

Proibiu expressamente que eles toquem antes do sol nascente e depois de por o sol, a

não ser em caso de incêndio, que é obrigado, a qualquer hora e o tempo que for preciso.

Medidas como esta são sempre louváveis, porque não afectam crenças de ninguém e

acabam com esses toques constantes que para ali havia, que só serviam para incomodar quem residia próximo da igreja.

Mas o que é necessário, é que a sua ordem seja cumprida, porque nesta terra as medidas sensatas têm vida efémera. A ver vamos.

JORNAL DE ABRANTES

26 de Novembro de 1911

Correspondência-Sardoal

O correio da estremadura no seu último número, vinha-nos criticando por crermos que a polícia andasse guardando os olivais, mas a sua critica, era feita com aquela fina piada, que tanto a caracteriza nos seus momentos de bom humor que não resistimos à tentação de lhe responder, para patentearmos o nosso reconhecimento por não ter proporcionado a ocasião de mais uma vez mostrar-nos as incoerências do Sr.Governador Civil, pelos modos é o órgão lá de casa.

Diz-nos o prezado colega, que a missão de polícia, não é guardar oliveiras, nem fazer

serviços idênticos.

Pois nós dir-lhe-emos, que mais de uma vez temos visto polícias ao serviço de

particulares, desde que estes lhe paguem.

Tenha em vista o que se vê por toda a Lisboa, famílias que se retiram para fora

deixaram a sua casa guardada por um ou mais policias.

Olhe colega, ainda há dias os jornais diziam que a casa do Sr.José Luciano, estava

guardada por 3 polícias, sendo um pago por ele.

Pois não será o caso aqui idêntico?...

Positivamente que é; porque cá também os particulares que lhe pagavam para guardar

as suas propriedades, que hoje vêem constantemente roubadas, para honra e glória do

Sr.Governador Civil.

Para que os guardas não devem servir, é para distribuir discursos pelos domicílios, nem para entregar convites para manifestações expontâneas, isto é que não é admissível num regime democrático, a não ser que enveredássemos pelo mesmo caminho donde o Sr.Governador Civil vem, de fazer caciquismo ao lado da Sr.ª Condessa da Junqueira.

Siga o caminho que as comissões republicanas daí lhe estão indicando porque para

chefe do distrito, está mais que provado que não tem capacidade nem competência.

Não queremos terminar sem procurar ao nosso ilustre colega, que tão entusiasta é na

defesa do chefe do distrito, porque é que ele cá mandou os policias guardar os olivais se não era essa a missão deles?

Porque é que depois de ter dito à nossa visita “que eles estariam cá até serem precisos se necessário fosse se substituiriam para não criar relações”?

Porque é que ele disse mais tarde a outros cavalheiros”que não tinha pensado em retirá-los apelando até para testemunho do chefe da policia do distrito”? Porque seria então que ele depois de tudo isto os mandou retirar?

Porque é um incongruente, um incompetente, um cacique.

Não acha colega?

10 de Dezembro de 1911

Padre João Lopes Andrade

Agradecimento

José Lopes Andrade e Américo Lopes Andrade, vêm por esta forma agradecer a todas

as pessoas que se dignaram acompanhar à sua última morada o nosso filho e irmão

e muito especialmente ao reverendo Pároco de Constância pela sensível alocução

proferida à beira da sepultura e a todo o povo de Santa Margarida que desde o começo da fatal doença até à última jazida tão carinhosamente manifestou o seu grande amor que lhe merecia o seu pároco.

5 de Dezembro de 1911

Correspondências – Sardoal

Higiene e Saneamento

Vamos hoje tratar de um assunto que muitos reputarão da mínima importância, mas que nós entendemos ser de máxima importância, porque é indispensável para o bem estar de todos os povos, porque o seu desenvolvimento progressivo, é como um clique que se opõe à entrada ou propagação de qualquer doença com carácter epidémico ou idêntico.

Além disso, quem visita uma terra para o que olha primeiro, é para o estado de asseio

ou imundície em que se encontra; e que todos os visitantes saíram bem impressionados deve ser a preocupação constante de todos os sardoalenses.

Pois senhores as ruas do Sardoal estão num estado de imundície que causa repulsão aqui e além vemos dejectos de toda a espécie e qualidade e isso não admira, porque há mais de dois meses que não são varridas.

Alega-se por isso a falta de verba no orçamento, pois é por isso mesmo que nós

abordámos hoje este assunto, porque estando para se confeccionar o novo orçamento,

nele seja incluída a verba indispensável para tal serviço, ou então que se crie um lugar

de varredor.

Era esse o meio mais prático e económico, temos aí um homem a quem se paga 120 ou 140 réis diários para tratar da iluminação, eleve-se este ordenado a 200 réis e teremos logo quem faça esse serviço e trate da limpeza das ruas, não só varrendo-as, mas também evitando que outros as sujem sem cair na alçada do código das posturas.

Aí fica o alvitre, a câmara que estude e verá se temos ou não razão no que afirmámos.

Canalizações de esgoto, também não temos, pois é necessário que se mande estudar

uma rede geral de canalização e que todas as vereações que transitem pelo nosso

município incluam todos anos no orçamento verbas para elas, e no fim de poucos anos,

teremos a canalização completa e então poderemos acabar com o despejo da água para a rua, como agora tem de fazer todos os que tem quintais.

É também preciso que se ponha em prática, o que mandam os códigos no que respeita

a caiação dos prédios, porque há por aí algumas ruas principais que são uma verdadeira vergonha.

Para que o Sardoal progrida e prospere é necessário trabalharem e trabalharmos muito

porque de mais necessita ele.

O dia 1º de Dezembro também aqui foi festejado.

De madrugada houve toque de alvorada pela Filarmónica União Sardoalense e à noite

tocou em frente do edifício dos Paços do Concelho que estava iluminado, assim como

edifícios particulares.

Nesse mesmo dia foi colocado na sala das sessões do nosso município o retrato do Dr.

Manuel de Arriaga venerando presidente da República.

Achamos justa e merecida homenagem mas entendíamos que deveria ser precedida de

uma sessão solene a colocação do retrato, embora para isso se tivesse de escolher outro dia, visto aquele, o povo do concelho não vir aqui, por ser dia de trabalho.

Já depois de escrita a correspondência, chega-nos a notícia que a Associação dos

Artistas resolveu tomar a iniciativa da fundação de um centro republicano, e que em

breves dias abrirá a inscrição de sócios.

Alegre notícia e desde já declaramos que merece toda a nossa simpatia, por isso no

próximo número falaremos mais detalhadamente.