Apresentação

Letreiro

Tudo o que eu sou, o sou por obra e graça

da comoção rural que está comigo.

Foi a virtude lírica da Raça

a herança que eu herdei do sangue antigo

Foi esta voz que em minhas veias passa

e atrás da qual, maravilhado, eu sigo.

Como um licor de encanto numa taça,

assim se quer esse condão comigo.

Olhai-me: - Eu vim de honrados lavradores.

De avós a netos, sempre os meus Maiores

fitaram o horizonte que hoje eu fito.

“O que estaria além da curva estreita?”

-E da pergunta, a cada instante feita,

nasceu em mim a ânsia p’ra o Infinito.

António Sardinha

Este soneto de António Sardinha, traduz de forma genial o espírito com que há muitos anos me dedico ao estudo da história do Sardoal, nos dois sentidos principais que são o respeito e homenagem aos nossos Antepassados e ao mesmo tempo a ânsia pelo conhecimento, que me permita recordar o passado com orgulho e ao mesmo tempo colher dele as lições que possibilitem ter os olhos postos no futuro, com esperança e serenidade. Mas antes de continuar quero deixar um protesto e declaração:

“Eu não sou cronista das grandezas do Sardoal, nem historiador das suas glórias passadas, mas um mero restaurador das suas memórias”

Tomo a liberdade de fazer minhas estas palavras escritas há mais de 250 anos, pelo ilustre Sardoalense Jacinto Serrão da Mota nas suas “Memórias Restauradas do Antigo Lugar e Vila de Sardoal”, cujo manuscrito se conserva no Arquivo Municipal de Sardoal, porque também eu não sou, nem quero ser, cronista ou historiador, mas apenas um mero restaurador das memórias do Sardoal, por ser a minha pátria e desejar honrá-lo, por mais ter que honrar-me dele.

Foi já com este espírito que escrevi, há alguns anos, o livro “Sardoal - Do Passado ao Presente - Alguns subsídios para a sua monografia”, editado pela Câmara Municipal de Sardoal em 1992, como foi com o mesmo espírito que escrevi outros livros e muitos textos avulsos sobre temas da história do Sardoal, entretanto publicados e não publicados, porque é minha profunda convicção que só se pode amar, verdadeiramente, alguém ou alguma coisa, quando se conhece bem o objecto do nosso amor ou da nossa paixão, seja nas suas virtudes ou nos seus defeitos.

Este trabalho de pesquisa e recolha a que me dedico há mais de 20 anos, tem-me proporcionado muitas alegrias que compensam, plenamente, o esforço desenvolvido, principalmente quando sou, com muita frequência, abordado por jovens estudantes em busca de elementos documentais para elaborarem trabalhos escolares sobre diversos temas da história do Sardoal. Foi a pensar neles que coligi um conjunto de apontamentos, alguns agrupados neste trabalho, muitos deles escritos por outras pessoas de reconhecido mérito intelectual que vão ser, sempre que possível, devidamente identificadas, no sincero desejo de que sejam entendidos os objectivos que me movem e que são, somente, a divulgação de trabalhos de qualidade, alguns pouco conhecidos, facultando aos Leitores novos elementos, sobre diversos aspectos da vida passada da nossa Terra.

Estão neste caso o já referido Jacinto Serrão da Mota, de quem, mais tarde, apresentarei uma transcrição quase integral das suas “Memórias Restauradas do Antigo Lugar e Vila de Sardoal”, escritas entre 1753 e 1775, um notável repositório de factos da história do Sardoal antigo, nunca publicado, que se conserva na forma de manuscrito no Arquivo Municipal; Gregório Cascalheira, um escritor sardoalense muito divulgado no seu tempo (anos 20 e 30 do século XX), com vasta obra publicada, de quem transcrevo uma parte do livro “Na Terra dos Gregórios”, em que relata de forma muito divertida e pitoresca cenas de um casamento que julgo ter-se realizado em Entrevinhas, por volta de 1925; o General Carlos Ribeiro que, tanto quanto sei, não era Sardoalense, de quem se transcreve uma curiosa memória sobre a Mina de Chumbo do Castelo das Caldeiras (Cabeça das Mós), publicada em 1857; o Revº Cónego Anacleto Pires Martins, natural da Presa, freguesia de Alcaravela, de quem volto a divulgar uma interessante memória sobre as ceifas no Alentejo e sobre os “ratinhos” do nosso Concelho; o Dr. Augusto Serras, de cuja obra “Alcaravela - Memórias de Um Povo”, publicada em 1993 pela Câmara Municipal de Sardoal, de quem, com a devida vénia e merecida homenagem, transcrevo algumas curiosas referências sobre os hábitos alimentares da população rural do nosso Concelho, particularmente da freguesia de Alcaravela; e o Dr. Manuel José de Oliveira Baptista, que me merece uma referência e um agradecimento especial, pelo incentivo e colaboração que sempre deu, generosamente, ao meu trabalho, e a quem devo a recolha e cedência de muitas das referências documentais que lhe serviram de suporte e a quem o Sardoal está a dever uma homenagem pública e solene, de reconhecimento pelo trabalho, sempre discreto, mas de grande qualidade, que desenvolveu ao longo de muitos anos, em prol do estudo e divulgação da história da nossa Terra, que se deve honrar de tão ilustres e dedicados Filhos.

Cabe-me, ainda, agradecer de forma muito especial, a colaboração que me foi prestada pelo Sardoalense Sr. António Moleirinho Marçal, que me cedeu um vasto conjunto de recolhas da Imprensa Regional, que cobrem de forma exaustiva um período que vem desde o final do século XIX até à actualidade, laboriosamente colhidas em inúmeras horas de paciente trabalho, principalmente na Biblioteca Nacional. Trata-se de um inestimável contributo para o estudo da história local, a que só o tempo concederá a devida importância, de que quero deixar público reconhecimento neste trabalho.

Merecem-me, também, uma chamada de atenção especial, algumas pessoas de que desconheço a identidade, que no princípio do século XX foram correspondentes no Sardoal de diversos Jornais Regionais, pela qualidade literária e informativa dos seus trabalhos, que nos permitem, mais de 100 anos depois, perceber muitas coisas da vida quotidiana daqueles tempos conturbados.

Porque dentro de menos de um ano se comemorará o I Centenário da República começarei por dedicar uma atenção especial ao período que vai de 1890 a 1920, que corresponde aos últimos dez anos da Monarquia e aos primeiros dez anos da República.

Sardoal, 12 de Outubro de 2009

Luís Manuel Gonçalves

DEDICATÓRIA

Para a Fátima,

para o Luís Filipe,

para o Pedro Miguel,

para o Tiago Miguel.

Minha Mulher e meus Filhos,

pela apoio e incentivo ao meu trabalho

e pela paciência com que sempre aceitaram

as minhas faltas no convívio familiar

motivadas pela sua elaboração.

Para a minha Mãe

e para o meu Pai

(já falecido mas sempre presente na minha vida),

pelo trabalho e sacrifício que lhes motivou a minha

formação académica.