Viagens

Post date: Mar 8, 2010 9:43:10 PM

Li, com atenção, a acta nº3/2010, relativa à reunião ordinária da Câmara Municipal de Sardoal realizada no dia 2 de Fevereiro de 2010 e li, com particular atenção o seu teor respeitante aos pontos 7 e 8 da respectiva ordem de trabalhos e é sobre esses dois pontos que pretendo partilhar, com os meus leitores, algumas reflexões:

Ponto 7 – Proposta – Passeios 3ª Idade

Poderia efectuar uma análise mais detalhada se tivesse acesso à citada proposta, mas como a mesma não se encontra publicada terei que dirigir a minha análise para o que se encontra reportado na acta da reunião.

Refere-se aí que o Sr. Presidente informou que a viagem tem por destino o Santuário Mariano de Covadonga, na região das Astúrias (Espanha) e que a mesma seria uma alternativa a outras viagens para idosos com duração mais curta.

Informou, também, que seria uma viagem de dois dias com uma paragem intermédia em Salamanca para pernoitar e que no que concerne a custos a Câmara suportará os custos com os motoristas e gasóleo sendo a dormida e a alimentação suportada pelas pessoas.

Isto é o que consta na referida acta e julgo que a deliberação que aprovou a realização da referida viagem foi tomada com base nos pressupostos enunciados pelo Sr. Presidente.

Mas, para minha surpresa, li no site municipal uma informação aos Munícipes, anunciando a realização de duas viagens. Uma, com a duração de um dia, a realizar em território português. E uma outra viagem com a duração de três dias, tendo por destino a região das Astúrias, em Espanha.

Ao confrontar esta informação com o teor da acta nº 3/2010 constato que a bota não bate com a perdigota, a não ser que o assunto tenha voltado a ser discutido pelo Executivo Municipal para ratificação/rectificação da decisão tomada na reunião de 2 de Fevereiro, não tenho dúvidas que estamos perante uma manifesta ilegalidade que assenta no incumprimento de uma deliberação tomada pelo Executivo. Se estou enganado, peço desculpa mas, se não estou, pergunto: de quem é a responsabilidade?

Devo referir que a realização da primeira viagem, a que tem a duração de um dia, não me merece qualquer reparo e é, até,digna de aplauso.

Mas a realização da segunda, ao estrangeiro, suscita-me sérias reservas, porque entendo que não é vocação de uma Câmara Municipal funcionar como agência de viagens. Aliás, entendo que os potenciais interessados em participar naquela viagem ficariam melhor servidos se a sua organização fosse cometida a uma agência de viagens, com experiência na organização daquele tipo de eventos e não tenho dúvidas, face aos folhetos publicitários que são com frequência metidos nas nossas caixas do correio, que os eventuais participantes seriam melhor servidos se a organização da viagem fosse entregue a uma dessas agências de viagens, quiçá com menores custos.

Será que o Município de Sardoal que, como todos sabem, atravessa uma gravíssima crise financeira, não terá outras formasde gastar as limitadas verbas de que dispõe para cumprir as funções que lhe cabem no apoio social aos idosos do nosso Concelho? Tem, seguramente, e em próxima oportunidade poderei indicar algumas dessas formas!

Ponto 8 PropostaViagem de Estudo Jovens Alunos

Há vários anos que venho manifestando a minha profunda discordância com os moldes em que têm sido realizadas as famosas «viagens de estudo» a França com os estudantes do nosso Concelho (e não só). Que fique bem claro que eu nunca fui contra a realização de viagens de estudo, mas sim contra o modelo instituído e contra os critérios que têm presidido à organização dessas viagens. Neste aspecto subscrevo em absoluto a fundamentação que consta da declaração de voto apresentada pelos Vereadores do PS, onde justificam o seu voto contra a realização da viagem, excepto no que respeita à sugestão da ilha da Madeira, como destino de uma dessas viagens.

De facto, uma viagem deste tipo só faria sentido se fosse integrada num projecto pedagógico de natureza interdisciplinar, coordenado pela E.B. 2,3/S Dra. Judite Serrão de Andrade e não tinha que ter um ou mais destinos no estrangeiro, uma vez que grande parte dos nossos alunos conhece muito mal o seu país, sendo para mim condição sine qua non, que a selecção dos participantes fosse feita pela Escola. Sei que esta solução deixaria de fora os estudantes universitários mas este escalão dispõe de muitas formas para viajar para o estrangeiro, seja através de programas de cooperação comunitária para jovens, seja através de outros programas de intercâmbio e turismo juvenil.

Mesmo assim, mantendo-se a decisão de realizar essas viagens ao estrangeiro é de elementar bom senso que as mesmas sejamorganizadas para que cada aluno tivesse uma única participação, para não voltar a acontecer o exagero de um aluno participar nas viagens em nove ou dez anos sucessivos.

Ninguém me convence nas mais valias educativas adquiridas pelos alunos numa viagem do tipo da que é proposta, até porque a maior parte do tempo é passado na estrada, parando-se apenas para dormir e em áreas de serviço para abastecimento de combustíveis e para tomar algumas refeições ligeiras, o que implica que se passe ao lado de muitas cidades e pontos de interesse importantes.

Tenho verificado, ao longo dos anos, que o Sardoal é um dos poucos municípios que não dispõe de um programa de concessão de bolsas de estudo para alunos carenciados e sei que o mesmo nunca foi equacionado devido às crónicas dificuldades financeiras que o Município de Sardoal tem vivido. Um programa deste tipo poderia ser uma boa alternativa às viagens ao estrangeiro, socialmente mais justo e mais importante para os jovens. Outra alternativa, para mim, mais relevante culturalmente seria a de gastar uma parte das verbas gastas nessas viagens na renovação dos fundos bibliográficos da Biblioteca Municipal e na modernização dos meios técnicos existentes no Espaço Internet ou na renovação do parque de viaturas afecto aos transportes escolares.

Quero deixar bem claro que não pretendo questionar a legitimidade política do Executivo Municipal para tomar as decisões que tomou. Mas, também, não admito que seja questionada a minha legitimidade em discordar, em absoluto, dessas decisões!

O reconhecimento dos erros, um pouco de modéstia e de humildade não fazem mal a ninguém e é nos tempos de crise que melhor se avalia a grandeza moral e política dos nossos dirigentes.

A eficácia de um modelo governativo, mesmo em termos locais, mede-se muito pela forma como são gastos os meios financeiros disponíveis, o que implica que os mesmos sejam usados com parcimónia e sensatez. Governar é tomar opções, estudando-as criteriosamente e avaliando o seu impacto, quer em termos imediatos, quer em termos futuros, especialmente quando se gasta o dinheiro que é de todos.

UM ESCLARECIMENTO PARA OS MEUS LEITORES

Chegaram-me reflexos da opinião de alguns dos meus prezados leitores que consideram que os meus textos são muito longos. Conforme referi quando iniciei a publicação deste site este trabalho iria ter duas componentes muito diferentes na forma e nos conteúdos: teria um espaço para divulgação das minhas reflexões pessoais sobre a vida da nossa terra, com textos cuja dimensão dependerá dos temas abordados e da sua complexidade e teria um outro espaço onde seriam abordados temas relacionados com a história do Sardoal, que eu pretendo, com alguma imodéstia, que possa funcionar como uma base de dados ao dispor de quem se interesse por aquela temática, especialmente destinado aos jovens que têm de realizar trabalhos académicos sobre a história do Sardoal. Disto resulta serem os trabalhos publicados extensos porque se destinam a consulta, mais do que a serem lidos imediatamente, ficando as opções ao critério de cada um, em função dos seus gostos e necessidades.

No que respeita às minhas reflexões prometo que passarei a fazer um esforço de síntese na sua elaboração.