1. Introdução
Para compreender melhor a situação política que se viveu no Sardoal, nos últimos anos da Monarquia e nos primeiros anos da República, é necessário conhecer um pouco da realidade portuguesa dessa época.
A revolta militar de 31 de Janeiro de 1891, apesar de malograda, constitui uma referência importante, para compreender a evolução política que se seguiu, porque acicatou a consciência cívica, trazendo ao de cima a situação de desgaste e crise das instituições vigentes.
Essa revolta militar tem muitos pontos comuns com o 25 de Abril de 1974, pesem embora os 83 anos que as separam.
Em primeiro lugar porque não existia a possibilidade de derrubar o regime por via pacífica, porque a representação parlamentar dos republicanos era diminuta, pelo que a via do golpe militar começou a ganhar corpo. No entanto, o número de oficiais simpatizantes com a República era muito pequeno e era muito difícil que o movimento surgisse a partir da capital.
Nessa altura, no Porto, reuniram-se um conjunto de condições que permitiram pôr de pé um movimento militar, que teve por principal aliciador um jornalista marginal, Santos Cardoso, que dirigindo-se a numerosos oficiais e sargentos, apenas entre a classe destes últimos encontrou audiência. Muitos eram republicanos por formação. Por outro lado, razões internas da carreira militar tiveram uma influência importante, porque os sargentos consideravam direito da sua classe o preenchimento de um terço das vagas do quadro geral de sargentos e protestavam porque esses lugares estavam a ser preenchidos por cadetes com o curso da Escola do Exército. Por isso, houve no Porto uma grande reunião de sargentos para protestar contra tal situação que causava descontentamento geral, chegando a defender-se a organização de um movimento revolucionário liderado por subalternos, ideia que contava com a oposição dos próprios oficiais republicanos.
A ordem de transferência de alguns sargentos precipitou a organização da revolta. Na noite de 31 de Janeiro de 1891, alguns sargentos amotinaram tropas nos quartéis e reuniram-se no Campo de Santo Ovídio, dirigindo-se à Praça Nova. Repetiam-se os passos da Revolução de 1820.
Com cerca de 800 soldados sublevados, entre os quais o sardoalense Victor Mora, havia apenas três oficiais: O capitão Leitão, o Tenente Coelho e o Alferes Malheiro.
Das janelas da Câmara do Porto, o Dr. Alves da Veiga, proclamou a República, nomeando-se um governo provisório, do qual não fazia parte qualquer membro do Directório Republicano, o que demonstra a espontaneidade do movimento e de certa forma o seu carácter local, já que do anunciado governo provisório apenas faziam parte, republicanos do Porto.
O movimento que, inicialmente, parecia triunfante, depressa se viu dominado, com a fuga de muitos revoltosos e apenas o Alferes Malheiro, com os seus sargentos, que se haviam refugiado na Câmara do Porto, ofereceu resistência durante cerca de hora e meia.
Apesar de não ter tido reflexos a nível nacional, a revolta do Porto foi o sinal visível de um profundo mal-estar e da aspiração da regeneração da vida pública que dava força ao ideal republicano, o que não evitava que tomasse consistência uma aspiração de reforço do poder e até de crença na utilidade do governo pessoal do Rei.
D. Luís, falecido em 1889, tinha granjeado um grande prestígio, em resultado de um espírito liberal, transigente, modernizado, acessível às inovações.
D. Carlos, considerado um príncipe moderno, brilhante, cultivado, começa o seu reinado, numa situação caracterizada pela desorganização dos partidos e pela inércia das classes, em que ele emerge como a única força que no País ainda vive e opera.
O antigo díptico partidário regenerador-progressista, perdera os seus créditos e por isso a primeira tentativa de formar um ministério foi entregue a João Crisóstomo de Abreu e Sousa, o que significava uma tomada de posição do Rei contra as camarilhas partidárias que o rotativismo desacreditara. Este governo durou cerca de dois anos. Do segundo ministério de D. Carlos, foi encarregado o Professor José Dias Ferreira, defensor do que se chamava então “monarquia de esquerda”. O Ministério Dias Ferreira, constituído por personalidades cujo prestígio não dependia dos grupos políticos a que pertenciam, mas do valor pessoal dos seus membros, durou apenas treze meses, desfazendo-se, em resultado de profundas divergências entre Dias Ferreira e Oliveira Martins.
A Dias Ferreira seguiu-se Hintze Ribeiro, um talentoso açoriano do Partido Regenerador que se revelou um estadista eficiente e seguro e D.Carlos fez o que lhe foi possível para lhe criar condições de governo, impedindo a guerrilha parlamentar.
O Parlamento não funcionou em 1894-1895 e o Partido Progressista, como protesto contra a política de Hintze Ribeiro, não apresentou candidatos às eleições de Novembro de 1895. O novo Parlamento não tinha, assim, representantes da oposição: todos os deputados representavam o Partido Regenerador, o que conduziu a uma ditadura de facto, centralizada na radicalização agressiva do Partido Progressista.
A questão mais urgente era a das finanças públicas, em resultado dos empréstimos externos que tinham financiado a construção dos caminhos-de-ferro, chegando o governo alemão a projectar uma demonstração naval no Tejo, para forçar o pagamento.
Em 1898, a Inglaterra e a Alemanha assinaram uma convenção que previa a partilha dos territórios de Angola, Moçambique e Timor, que deveriam constituir a garantia de um vultuoso empréstimo que se previa, Portugal não pudesse pagar. No entanto, o Governo Português recusou a proposta de empréstimo que chegou a ser formalizada e intensificou os esforços militares em África, para neutralizar a penetração militar que as grandes potências ali estavam a fazer, fomentando a revolta das populações nativas.
A governação estava cada vez mais sujeita à força da opinião (V.g. caso do Comandante Augusto Castilho), reforçado em resultado do aumento das classes médias, fruto do crescimento económico. O aparecimento de alguns jornais na segunda metade do século XIX: - “DIÁRIO DE NOTÍCIAS”, “O SÉCULO” e de muitos outros periódicos (523, em 1900) deu ressonância aos episódios da vida política, transformando em questões apaixonantes factos que, sem a intervenção dos jornais, não teriam qualquer ressonância.
Essa politização da opinião e o recurso a grandes manifestações de rua para dificultar a acção do governo, faz com que os sectores conservadores se alarmem com a situação e exijam do poder constituído a manutenção da ordem, desencadeando-se acções repressivas, que motivaram os protestos da oposição e atrai-lhes a adesão de largas camadas da população. É por essa altura que as forças da ordem começam a utilizar armas de fogo.
Como em todos os tempos a repressão aumentou a intensidade das manifestações e a partir de 1895, a questão da “ordem pública” passa a constituir problema político de primeiro plano.
Em 1896, organizou-se a Carbonária, associação secreta destinada a combater, por todos os meios, especialmente a luta armada, as instituições vigentes, que se estabeleceu sob a direcção de Luz Almeida, sendo essencialmente popular, anticlerical e revolucionária.
Foi neste quadro, em que por um lado se verificou estarem esgotadas as possibilidades do rotativismo partidário, o que leva a que o projecto republicano encontre aceitação nas camadas mais jovens e nos sectores recém chegados à classe média e em que por outro lado se colocava o melindroso problema da ordem pública, espada de dois gumes que acabaria por levar ao triunfo republicano, que se afirmou o Ministro João Franco Pinto Castelo Branco (Conselheiro João Franco), talvez o último grande vulto da Monarquia, em que se confiava como homem-providência. Pertencia ao Partido Regenerador, mas tinha um pensamento social liberal, próximo, até, dos programas socialistas, mas enérgico defensor da autoridade do Estado.
Em 13 de Fevereiro de 1896, ainda no governo Hintze, fez-se publicar uma lei que estabelecia as regras do julgamento sumário e se criava a pena de deportação dos autores de delitos contra a ordem. Esta lei odiosa ficaria a constituir um dos principais cavalos de batalha dos republicanos, que durante muitos anos reivindicaram a sua abolição.
Caído o Ministério Hintze, em 1897, foi formado um governo presidido por José Luciano de Castro, constituído por progressistas, que se manteve até 1900, ano em que os regeneradores voltaram ao poder, formando um governo que não incluía o homem forte do partido: João Franco.
Em 1901, dá-se então a cisão interna dos regeneradores, com a saída de João Franco e de cerca de 30 deputados, os quais em 1903 formaram o Centro Regenerador Liberal, novo partido liderado por João Franco. Também no Partido Progressista aconteceu em 1905, uma dissidência liderada por José Alpoim, Ministro da Justiça no Governo presidido por José Luciano.
Em Maio de 1906, deu-se a demissão do último Ministério regenerador, presidido por Hintze Ribeiro, “O Ministério dos 58 dias”, tantos quantos durou.
João Franco foi incumbido de formar governo, com um projecto anunciado como ”tolerante e liberal” e em que se prometia a revogação da Lei de 13 de Fevereiro.
Acreditando que podia ultrapassar pela esquerda o movimento republicano, procede a uma profunda transformação do Estado e realizando reformas sociais de interesse operário que lhe atraíam o voto das camadas trabalhadoras. Anunciando que queria “caçar no mesmo terreno” dos republicanos, levou a que estes percebessem que o Franquismo representava um perigo para o seu partido, mobilizando todos os esforços para derrubar o Ministério, com a acção enérgica e notável dos deputados republicanos António José de Almeida e Afonso Costa e grandes manifestações de rua, como o funeral de Heliodoro Salgado e uma greve académica que começou em Coimbra e rapidamente se estendeu a todo o País, incluindo os alunos das escolas secundárias. O governo mandou encerrar as Câmaras, dissolvendo o Parlamento. Iniciava-se a ditadura de João Franco, que provocou um enérgico movimento de repúdio e contestação, com violentas manifestações de rua, em que a Carbonária teve um papel relevante, severamente reprimido pelas forças policiais. A revolução republicana tomava corpo e os seus dirigentes foram presos (Afonso Costa, Egas Moniz, António José de Almeida, João Chagas, França Borges, etc.) e o governo preparou um decreto que autorizava a sua expulsão do País ou o degredo para as Colónias, que D. Carlos assinou, em Vila Viçosa, em 31 de Janeiro de 1908.
No dia seguinte, ao desembarcar em Lisboa com a Família Real, no momento em que ia a entrar na Rua do Arsenal, um popular aproximou-se e desfechou dois tiros que o mataram instantaneamente. Outro atirador alvejou o Príncipe D. Luís Filipe, atingindo-o, também, mortalmente. O Infante D. Manuel recebeu ferimento ligeiro. Consumava-se o Regicídio, que ocorreu num momento estratégico importante. Com o fracasso da tentativa de 28 de Janeiro, a fuga de José Alpoim e a prisão de todos os chefes republicanos, parecia que aquilo que se chamou “o franquismo” e que traduzia o pensamento político de D. Carlos, iria triunfar. No entanto, morto D.Carlos, João Franco desapareceu da cena política. Formou-se então um governo de coligação entre o Partido Regenerador e o Partido Progressista, presidido por uma personalidade independente. Para presidir a este Ministério foi escolhido o Almirante Ferreira do Amaral, com grande folha de serviços, que tinha abertas as portas do Paço, mas que dispunha de amigos entre os republicanos.
Entre o sector republicano, também se fizeram sentir e muito as consequências do regicídio. O acto partira da Carbonária, sociedade secreta republicana, não aceite pelo Directório do Partido, que no entanto, ficou claro, prestou um serviço à causa republicana, ao decidir a morte do Rei. Logo após o Regicídio, a Carbonária deixa de ser um pequeno movimento clandestino e terrorista e torna-se o grande motor popular da revolução e segundo o seu chefe, Luz de Almeida, no Outono de 1909, atingia 3 400 membros, disseminados por todo o País, tendo conseguido a adesão de figuras importantes como o Engenheiro António Maria da Silva e o Comissário Naval Machado dos Santos, contando com o apoio do Contra-Almirante Cândido dos Reis.
Em Abril de 1908, realizaram-se eleições de que resultou a quase completa desagregação do bloco franquista. Os antigos partidos recuperavam, no conjunto a posição maioritária, mas nenhum deles tinha a maioria absoluta. Ainda em 1908 os Regeneradores retiram a confiança política ao gabinete de Ferreira do Amaral, provocando a queda desse Ministério. Sucedem-se vários Ministérios: Campos Henriques (25 de Dezembro de 1908), Sousa Teles (11 de Abril de 1909), Venceslau Lima (14 de Maio de 1909), Veiga Beirão (22 de Dezembro de 1909) e Teixeira de Sousa (26 de Junho de 1910), indicando as datas referidas o início das suas funções.
A linha geral destes governos foi a prática de uma política liberal, anticlerical, condescendente perante as oposições.
A 5 de Outubro de 1910, caía a Monarquia e nascia a República.
Tornar-se-ia muito extenso e maçador para o leitor, esmiuçar, num trabalho deste tipo, todas as querelas políticas relacionadas com a gestão autárquica e não só, que se desenvolveram no Sardoal, ao longo dos últimos 10 anos da Monarquia. Por isso, irei apenas desenvolver algumas situações que julgo poderem ilustrar, que neste, como em muitos outros campos, o Sardoal pouco mudou e se há 90 anos os interventores políticos tinham origens sociais bem defenidas, hoje a situação não é muito diferente, ainda que os pólos geradores se tenham deslocado em termos sociológicos, como adiante se verá. Em 1904, a luta político-partidária ainda se centrava muito intensamente no binário Regeneradores/ Progressistas.
ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS EM 1904
Em Março ou Abril de 1904 deixou a presidência da Câmara Municipal, Júlio Bivar Salgado, cuja obra não terá feito grande história, a fazer fé nos registos da época, sendo substituído pelo Sr. António Carvalho Tramela, importante comerciante no Sardoal. Bivar Salgado estava ligado ao Partido Regenerador e a Avelar Machado, enquanto Carvalho Tramela aparecia apoiado pelo Dr. Victor Mora, ligado ao Partido Progressista.
Em termos de Imprensa Regional, principal fonte deste estudo, é evidente que o “JORNAL DE ABRANTES” apoiava o Partido Regenerador e que o “ECHO DO TEJO” apoiava o Partido Progressista.
No “JORNAL DE ABRANTES”, de 11/09/1904, a propósito de uma polémica em torno da Irmandade dos Passos, escrevia-se o seguinte:
...Mas se o chico vai ficar, por algum tempo, em paz, às moscas, etc. e tal, o mesmo não acontecerá a uns parvajolas que tanto lustre estão dando a esta terra, desde que o Sr. Salgado deixou a presidência da Câmara. Aquilo por lá tem sido um gasto de dinheiro que se continua pelo escandaloso. Mudou-se, disparatadamente, sem manifesto proveito o Chafariz da Rua Bivar Salgado; não se fez o lavadouro, apesar de haver verba especial para ele, verba que já nem bem se sabe onde pára. Levantam-se estátuas ali para os lados da Baía, parece que mandadas erigir pelas leis da Física, como papagueava o Vereador Tramela. Limpou-se a canalização que conduz a água que abastece a Vila e para ficar alguma coisa mais limpa, a Câmara Tramela que, à saída do Sr. Salgado ficava sem dívidas e ainda com alguns contos de mil réis, tirou-se-lhe de tal modo as teias de aranha que chegou até a estar já sem dinheiro para pagar aos seus empregados - sem que os munícipes que cuidam de olhar a sério para estas bagatelas lhes fosse dado lobrigarem obras que justificassem tanto dinheiro desaparecido do cofre municipal! E, é para uma administração de Tramela e quejandos que todo o concelho faz o sacrifício de pagar mais 15%...
Fala-se que brevemente vai haver eleição camarária algo disputada e também se diz que um médico do partido pensa em arranjar Câmara à sua imagem e semelhança... Se outros motivos, que a seu tempo desfilarão, nos não levassem a crer que ele sairá bem tosquiado do cometimento, não seria o da ilegalidade de se constituir patrão de si mesmo que nos daria possibilidades de nunca o vermos e aos seus, sentados maquelas cadeiras celebradas pela honrosa passagem dos vereadores Serras e grupo Tramela, Chico da Silva, porquanto o vereador que actualmente faz de presidente, considerando que a caridade bem ordenada deve começar por nós, já se fez senhorio de si mesmo, arrendando uma sua casa para habitação do mestre escola, por mais uns mil réis do que a antiga que o referido mestre habitava há uma dúzia de anos.
Mas não há que ver; o mesmo resolveu agora sair da casca, sem recurso de Herodes e, por isso, pode o Tramela & C.ª, ir fazendo das suas, que o Endireita-Espinhelas não tarda em fazer entrar nos eixos a safada troupe de que faz parte o homem da bota de cortiça. E deixa andar, corra o marfim!...
No “ECHO DO TEJO”, de 2/10/1904 anunciam-se as movimentações para a apresentação de listas regeneradoras, num tom pejorativo e no mesmo jornal, em 16/10/1904, dá-se como certa a possibilidade de expulsar da Câmara a vereação regeneradora, nos seguintes termos:
No Sardoal encaminham-se, também, as coisas para expulsar a Câmara e Vereação Regeneradora, que ali é cordialmente odiada pela péssima conduta administrativa. Não queremos hoje adiantar mais por serem prematuras outras considerações.
O Sr. Avelar Machado escreve a toda a gente que lhe acuda. Mas encontra em cada um daqueles a quem se dirige um penedo mudo e quedo dos seus caprichos e em harmonia com os seus interesses! Já se vê que se enganou.”
Ainda no mesmo número daquele jornal, vem uma correspondência sobre as manobras eleitorais dos regeneradores, criticando uma local do “JORNAL DE ABRANTES” por fazer insinuações contra uma comissão composta pelos Srs. Dr. Victor Mora, António Tramela e Jacinto Milheiriço, por terem andado a pedir aos eleitores para não votarem em crianças, malucos maus e pescadores de empregos, à conta dos votos dos eleitores, referindo a dado passo: “... E até o mandante que reina para dirigir a campanha vendo frustrados os seus intentos para fazer uma cilada igual à que fizeram há três anos, se retirou já, desanimado, alquebrado, além disso pelo efeito de uma citação - segundo é voz geral. A loucura destes sujeitos manifestava-se por todas as formas e vai até ao ponto de ameaçarem com o Sr. Avelar Machado, como se este senhor tivesse alguma coisa com a livre vontade dos eleitores para escolherem no seu concelho os indivíduos honrados e honestos mais competentes para bem administrar os seus dinheiros.
NOTA: AVELAR MACHADO (José Alves Pimenta de), militar ilustre e político, nasceu em Abrantes em 8 de Novembro de 1847 e morreu em Lisboa em 23 de Abril de 1909, com o posto de general de brigada.
Filiado no Partido Regenerador, foi eleito deputado pela primeira vez em 1881 e reeleito em 1884, 1898, 1899, etc. Em 1901, foi elevado ao pariato.
Estes remoques vêm, aliás, na sequência de uma correspondência assinada com o pseudónimo ZIG ZAG, publicada no “JORNAL DE ABRANTES”, de 9/10/1904 e para melhor os compreender, transcrevem-se algumas notas:
...O Senhor Tramela que o ano passado dava em Câmara carradas de razão ao Sr. Victor Mora, quando ele censurava a Câmara, também não se lembra agora que ele está em semelhantes condições às do Dr. Felicíssimo, no ano passado e não contente com isso desce a acompanhá-los pelas aldeias, porque também lhe muito convém que seja eleita uma Câmara toda sua, para ele a fornecer do seu estabelecimento, esquecendo-se, como actualmente faz, que se os outros seus colegas no comércio, também pagam as suas contribuições. O outro indivíduo (N.R.-Jacinto Milheiriço) que acompanhou os Srs. Victor Mora e Tramela, é o boticário e como, por trocas e baldrocas, quasi todas as receitas que avia são feitas pelo Sr. Victor Mora, aí está a razão porque também se em empenhou em aqui conservar este senhor, por muitos anos e bons. É tudo barriga e nada mais!...
Não queremos na Câmara nossa cá para o Sr. Victor poder belamente ganhar a dois carrinhos, o Sr. Boticário ter receitas para aviar e o Sr. Tramela poder sózinho fornecer a Câmara e gastar, físicamente, o que a vocês custa a gnhar.
Em 23/10/1904, uma correspondência com o título: ”O Sardoal navega às cegas”, definia um conjunto de regras que ao seu autor pareciam definir as condições para a escolha dos homens públicos:
A mais nobre regalia de um homem de bem - sustento dos povos e das nações, é a fidelidade ao dever. E quando se está revestido de autoridade, corromper ou sofismar os nossos deveres é uma profanação, é um sacrilégio. Há momentos em que o dever parece confundir-se com o interesse. Mas essa ideia é sobremaneira grosseira e não pode basear-se em actos dignos. Daqui resulta:
1º - Devem estar à testa dos negócios públicos cidadãos de reconhecida dignidade e moralidade;
2º - Os lugares de eleição não são hereditários, nem se conquistam por assalto;
3º - Devem expulsar-se dos lugares públicos os enfatuados, que à força de se engrandecerem, caem no ridículo;
4º - Aceitar a camaradagem de pedantes ou imbecis, cooperar com eles, é pertencer ao seu número;
5º - Os favores recebidos não podem abafar a voz do dever, o grito da consciência, base do bem estar social;
6º - O bem de um povo, não pode depender de caprichos e inconstâncias daqueles que o dirigem.
Um Sardoalense
As eleições devem ter-se realizado no primeiro domingo de Novembro de 1904 e os reflexos do acto eleitoral aparecem no “JORNAL DE ABRANTES” de 13 do mesmo mês, que se refere às Eleições no Sardoal, nos termos seguintes:
Não foi só em Abrantes que a eleição tomou um carácter pessoal, tornando-se uma luta violenta entre os contendores. Em Sardoal aconteceu outro tanto. Aqui, porém, sem programa próprio, sem promessas de escola secundária, de luz eléctrica, de reformas de calçada que bem precisas seriam e até sem reforma do talho, que, afinal, está a pedir asseio, etc., etc.. Portanto as baterias assentaram contra este cavalheiro.
Isto de dizer que venceram os progressistas, é história. Eles sabem lá o que sejam progressistas ou regeneradores. O que querem é pagar menos. Isto a maioria. A minoria, o que pretende é ver-se livre do grupo Salgado. Conjugados e aproveitadinhos estes desejos, não foi difícil a vitória, conquanto exigisse muita propaganda.
Vamos, portanto, contar o que se passou:
O Digno Juiz da Comarca, nomeou em substituição do presidente da assembleia que foi eleito e a que se escusou, o Sr. Saldanha - nomeação que não agradou aos progressistas, berrata, o caso levado ao Governo e do Governador Civil e daí o aparecimento do Padre Mora, como delegado especial para presidir à assembleia.
Às oito e meia de domingo passado, notava-se já um movimento desusado de galopins dos dois grupos. Uns que vinham, outros que iam, um perfeito giro de alcatruzes na nora eleitoral. - Um pouco depois, aí vemos seguir sorrateiro, rua acima, o vice-presidente, sorteado, da assembleia, progressista de gema, fanático por José Luciano, até à medula do osso. Referimo-nos ao Sr. Francisco da Silva, um excelente cavalheiro e nosso amigo.
Uma vez na Igreja e logo que as 9 badaladas, repercutem pelos vales, ei-lo que toma a presidência, achando-se já presente a autoridade administrativa.
Propõe escrutinadores, secretários e suplentes e começou com os trabalhos. Eis senão quando chega o Sr. Saldanha, nomeado em substituição do Sr. Miguel Serrão e tenta presidir à assembleia, apresentando o competente ofício de nomeação. A autoridade não lhe
reconhece legitimidade, Saldanha insiste em ocupar a presidência e quer expulsar o vice-presidente.
Zaragata, altercação, uma vozearia dos demónios no templo de Deus. Vai então surge o Padre Mora, delegado especial do governo. - Justifica a sua qualidade, afasta os polemistas, toma o seu lugar e assume a presidência. Oh! Céus, que trovoada!! A polícia prepara-se e a força militar, posta de prevenção, dispõe-se à primeira voz. - Não foi necessário.
A tempestade desencadeara-se num copo de água. Saldanha entrega-lhe a papelada. Em seguida o Dr. Mora convida Silva a tomar a presidência o que se cumpre. Constitui-se depois, regulamentarmente e legalmente a mesa com os Srs. Padre Silva Martins, Padre Alves Ferreira, Francisco Simões, Serafim Freitas e Blandino.
Prosseguem os trabalhos serenamente. De vez em quando lá vem um protesto. A seguir um contra-protesto. Lá fazem entrar o Salgado na ordem e ainda um cabo de polícia que se recusava a fazer serviço. Às três e meia, contavam-se as listas que, pelo adiantado da hora ficam guardadas e seladas, com sentinela à vista.
Na segunda--feira continuam os trabalhos, que ainda não acabam nesse dia, concluídos, afinal, na terça-feira, com uma maioria de 159 votos em favor dos oposicionistas. SAFA! - que íamos vendo geitos de não acabar o escrutínio. À noite houve música, foguetes, vivório, vinho - o demónio!!
Saudou-se o Partido Progressista, deram-se vivas ao José Luciano, que quase ninguém conhece e poucos sabem que existe e foi uma vez o Partido Regenerador, no dizer das pessoas ilustres...
Esperem agora pelo baque, que há-de ser de arromba.
Rira bien qui rira le dernier.
10-11-1904
No mesmo dia e no “ECHO DO TEJO” as eleições municipais no antigo círculo 89, eram também notícia:
No Sardoal a derrota dos regeneradores foi completa. A lista governamental ganhou por 159 votos. Bastou só uma investida para deitar o colosso por terra. O escrutínio, neste concelho, só se completou na terça-feira e ganhou a lista governamental, por 159 votos.
Não se esperava, num baluarte regenerador de tantos anos, uma vitória tão assombrosa. Esta vitória estava assegurada mesmo com o Partido Regenerador no poder. Quando se começou a trabalhar na eleição ainda não se contava com a subida ao poder do Partido Progressista.
São de rasgados elogios os nossos amigos do Sardoal: Dr. Victor Mora, Padre Silva Martins, Pedro Nogueira, Padre Dias, Jacinto Milheiriço, Tramela e todos aqueles que tão entusiásticamente auxiliaram a eleição, para vencer o colosso regenerador, há muito desacreditado e agora derrubado de vez.
Depois da eleição a Música percorreu as ruas, soltando vivas aos influentes locais e direcção do nosso partido, etc. À noite realizou-se um jantar em casa do Sr. Victor Mora, assistindo todos os novos vereadores e muitos amigos pessoais e políticos daquele distinto médico. A Sociedade Fraternidade Sardoalense tocou durante o jantar, várias peças do seu magnífico reportório. Ao ‘toast’ foram levantados, além de outros, os seguintes brindes: Do delegado especial do governo, o Sr. Cónego João Henrique de Sequeira Mora, aos Srs. Conselheiros José Luciano da Costa e Barata Teixoso, ilustre governador civil do distrito, do Sr. Victor Mora ao Partido Progressista, do Sr. Francisco Augusto Simões, à extremosa mãe do Sr. Cònego Mora, do mesmo Sr., do Dr. Manuel Martins e do Senhor H. Dias Ferreira, à nova Câmara.
Durante o jantar foram recebidos pelo Sr. Cónego Mora e Administrador do Concelho, dois telegramas do Sr. Barata Teixoso.
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Os Avelaristas não saem de casa envergonhados com a formidável derrota. Viva o Partido Progressista!
Ainda no mesmo jornal e no mesmo dia, sob o título: “Ainda a eleição do Sardoal”:
Num artigo sob a epígrafe ‘As eleições municipais’, diz “A TARDE” de quinta-feira última o seguinte: - Mas para o Sardoal, mandaram um Cónego de Lisboa, com poderes discricionários, o qual Cónego prendeu o Presidente da Mesa, que era tão bom sujeito e que havia sido nomeado pelo Juiz da Comarca! Mais adiante diz que a eleição do Sardoal foi roubada. ‘A TARDE’ falta à verdade ou então está mal informada por algum Avelar Machado, Saldanha ou José Alexandre. Só assim se explica a inexactidão com que ‘A TARDE’ vem dizer o que não se passou.
É falso que o presidente da mesa fosse preso, como é falso que a eleição fosse roubada. O que ‘A TARDE’ deveriar averiguar é da legalidade com que foi nomeado o tal presidente que se diz ter sido preso.
No sorteio a que se procedeu na penúltima quinta-feira, no Tribunal desta Comarca, foram sorteados para presidir à assembleia os seguintes cavalheiros: Miguel Serrão, efectivo e Francisco da Silva, suplente.
Ora o Sr. Miguel Serrão pediu escusa por motivo de doença, mas sabem o que o digno Juiz da Comarca deliberou a este respeito?...Nomeou o Sr. Francisco Saldanha para aquele lugar!...
Aqui é que está a ilegalidade da nomeação que o próprio Juiz Sr. Dr. Alcântara, reconheceu depois. O índivíduo nomeado nunca podia, nem devia ir para o lugar de presidente, como, expressamente, está exarado na Lei Eleitoral.
Para que o Sr. Saldanha pudesse assumir a presidência era necessário que o efectivo e o suplente tivessem pedido e obtido a escusa - Lei Eleitoral, artº 45º - parágrafo 8º. E se assim não é, então o suplente da mesa de S.Vicente assumiu indevidamente a presidência da mesa que cabia ao Sr. José Alves Ferreira de Moura.
O que o delegado especial fez na assembleia de Sardoal foi convidar o Sr. Saldanha a retirar-se da presidência da mesa, ao que ele acedeu prontamente. (...)
A propósito de ‘A TARDE’ dizer que a eleição foi roubada apelamos para o proposto Sr. Saldanha e para a sua gente! Tiveram eles toda a liberdade, o que certamente não aconteceria se estivesse no poder o Partido Regenerador. Não se exerceu a mais pequena violência. O que os homens não podem tolerar é que a urna falasse tão claro, escorraçando para fora da Administração Municipal aqueles que só têm abusado do povo, esbanjando o que ele paga à custa do seu suor. Esta é a verdade que os informadores de ‘A TARDE’ não podem contestar. Mas a lágrima é livre...
‘ECHO DO TEJO’ - 20/11/1904 - Professor ajudante do Sardoal.
Terminou no dia 10 o prazo para o provimento deste lugar. São vários os concorrentes e um deles apregoa aos quatro ventos que há-de ser nomeado.
Pensa, pelos modos, que isto de ser nomeado um professor primário é assoprar a trompa na música regeneradora. Já passaram esses tempos. Salgados, Avelares e Saldanhas, são chão que já deram vinha. E se o tempo não é mestre!...
Correspondência
Venho hoje à imprensa, não movido por paixões políticas, mas sim por amor à terra que me foi berço.
Há três anos que este concelho tem à frente do município, um menino chamado Salgado que todo o concelho odeia pelas criancices que dia a dia vai praticando. Um dia, o menino andando a brincar com o arco junto ao Café Chimpanzé, lembrou-se que havia de ir para presidente da Câmara e acto contínuo foi dizer ao papá qual era o seus desejo. O papá que se esforçou por satisfazer a vontade ao menino acedeu ao pedido. Nas próximas eleições, propôs-se a elegê-lo mas vendo que o povo não estava pelos ajustes, tratou de o impingir como vereador, com farda de presidente envolta num véu. E sabem como?
Elegeu uma Câmara em que o Sr. Saldanha era o presidente e o menino o vice-presidente. O papá que a esse tempo era administrador pediu licença e o Sr. Saldanha passou a ocupar aquele lugar. Foi então que o menino rasgou o véu e ei-lo com a farda de presidente. Querem maior insulto ao Concelho, que havia pouco tempo, se tinha oposto a que ele fosse presidente? Sentado na presidência, lugar para que ele não tinha competência, pois ali não se tratava de ensinar cavalos, nem realizar conquistas amorosas, mas sim de zelar pelo interesse do povo. Julgou o menino que deveria fazer o que lhe aprouvesse, não se elmbrando, que o povo lhe pedia contas do que tinha feito.
Ainda não se tinha passado a eleição, quando o menino procurou o Sr. Saldanha para formar uma nova Câmara, dizendo-lhe que não deviam entrar na lista os Srs. Tramela, Silva e Serras... E sabem porquê?
Por eles não quererem ser cúmplices nos seus erros, visto terem sido eleitos para zelar os interesses do povo e não para satisfazer os caprichos do menino. Foi então que o Sr. Victor Mora, Revº Silva Martins, Milheiriço, Nogueira, Tramela e outros, se propuseram escorraçar da Câmara esse menino que tão grande insulto queria lançar aos vereadores honestos. Era tal a indignação contra ele, que logo receberam adesões de todos os pontos do Concelho. Ao mesmo tempo, o Sr. Saldanha procurava várias pesoas para irem para a Câmara, junto com a criancinha, mas todos lhe responderam que não estavam para aturar as suas birras.
Foi então que o Sr. Avelar Machado escreveu a vários amigos para ver se o salvavam. Apareceram logo em seu auxílio, os Srs. Ferraz, José Alexandre e Dr. Felicíssimo, mas a causa que eles defendiam era tão injusta, que não conseguiam levantar o criançola do nível em que jaz e nunca conseguirá sair.
O que estes senhores deveriam ter feito era aplicar-lhe meia dúzia de palmatoadas e mandá-lo brincar com o arco, por bem saber que só alguns especialistas é que o poderiam salvar daquele ataque.
Enquanto isto não passava, a indignação aumentava, até que chegou o dia das eleições e o povo para mostrar que não estava pronto a aturá-lo, escorraçou-o da Câmara, dando-lhe uma derrota formidável. E era uma vez um menino Júlio que brincava com arcos, etc. - Sabem qual foi o resultado do Sr. Avelar Machado vir em auxílio da criançola? Foi a Comissão que até aqui se tinha conservado independente, declarar-se progressista e a este movimento aderia também o Revº Cónego Mora, cavalheiro que goza de gerais simpatias neste concelho e em Santarém, onde tem a sua residência.
Perguntamos nós: - O que diz a isto o menino Júlio? Aqui tem o resultado de o seu pai o querer impôr neste concelho para presidente da câmara!... Por causa da criança, a política do Sr. Avelar Machado fica reduzida a dois homens que nunca serão capazes de vencer uma eleição.
A nova Câmara tomou posse no dia 2 de Janeiro de 1905 e o acto de posse é assim descrito pelo correspondente do “DIÁRIO DE NOTÍCIAS”:
Pelas 10 horas da manhã de hoje, na Sala das Sessões dos Paços do Concelho, foi dada a posse da nova Câmara, pelo digno Administrador do Concelho Sr. Dr. Manuel Teles Feio, Câmara que há-de funcionar no triénio 1905-1907, ficando eleitos, para Presidente Padre Silva Martins, Vice-Presidente António Carvalho Tramela, Vereadores Padre Francisco Alves Ferreira, Francisco Silva e Jacinto Dias Milheiriço.
O acto foi extraordináriamente concorrido, subindo nessa ocasião ao ar muitos foguetes, executando a velha Filarmónica Sardoalense(a do Carapau), o hino da Carta Constitucional.
Em seguida ao acto de posse dirigiram-se em cortejo, a Câmara e todos os assistentes para a Igreja Matriz, onde se realizou um solene Te-Deum que foi abrilhantado pelos Srs. Padres Sabino Paulino Pereira e José Maria dos Santos, cantores do Seminário de Santarém e Faustino Lopes e Cândido Leinger, também cantores, desta Vila.
Terminado o Te-Deum, dirigiu-se o cortejo para casa dos Srs. Mora, onde pelo Presidente da Câmara foi oferecido um opulento Copo de Água, em que tomaram parte os mais nobres filhos do Sardoal: Dr. João Serras e Silva, digno Lente da Faculdade de Medicina de Coimbra; Dr. João Henrique de Sequeira Mora, Cónego da Sé de Lisboa e ilustrado professor do Seminário de Santarém, João Serras da Conceição, Major do Exército e que consta será proposto nas próximas eleições ou por este círculo ou pelo de Leiria, Dr. Victor Mora, digno Lente de Farmácia e Médico Municipal deste Concelho, por quem muito tem trabalhado, em especial para o bom êxito do resultado da nova Câmara, Padre José Dinis, Silvério Carvalho Tramela, Fernandes Agudo, Pedro Barneto Nogueira, Padre João dos Santos, José Dias Conde, Anacleto Martins Bexiga, Faustino Lopes, Inácio Maria Xavier de Oliveira, António Henriques da Silva, Américo Lopes de Andrade e de muitos influentes do Partido Progressista das aldeias circunvizinhas.
Houve vários discursos e entre eles merece especializar os do Sr. Dr. Serras e Silva, Victor Mora, Manuel Teles Feio, Major Serras e Conceição e Padre Silva Martins, que foram muito aplaudidos, pelas suas elequentes frases embuídas de amor pela sua Terra Natal, por quem estão prontos a trabalhar de alma e coração. Bem haja que ainda o Sardoal possua filhos que desejam enobrecê-lo. Levantaram-se vários vivas ao Concelho de Sardoal, nova Câmara, Família Mora, Família Serras e Silva. Não há memória que no Sardoal, pela posse de uma nova Câmara se realizassem manifestações tão patrióticas.
A velha Filarmónica Sardoalense que abrilhantou toda esta íntima e deveras simpática festa, foi à noite cumprimentar os novos vereadores.
Esperamos que o Partido Progressista saiba cumprir a missão que lhe acaba de ser confiada, levantando o Concelho do letargo em que há muitos anos se encontra, pois tem a seu lado homens de valor, filhos desta terra e temos as nossas fundadas esperanças de que há-de trabalhar nesse sentido.
A esta festa pública, dizia o “ECHO DO TEJO”:
Há mais de 20 anos que a política do Sardoal estava decadente e nas mão de quem não sabia dirigir em harmonia com as necessidades dos munícipes: Há mais de 20 anos que as coisas corriam de mal a pior e tão mal, que o concelho vendo já perto a sua ruína, o seu desfalecimento, levantou o grito de alarme protestando enérgicamente contra a política perniciosa que o dirigia e o protesto foi tão eficaz que fez vingar uma Câmara nova que nós admiramos pelas qualidades que a recomendam e que saberá muito bem levantar o Município do caos em que há muitos anos jazia.
Depois da posse, o Presidente, fez a apresentação da nova Câmara aos seus muitos amigos e agradeceu a sua eleição, como a dos seus colegas, prometendo envidar todos os esforços, tanto quanto é capaz, para governar bem o concelho, sendo no fim, muito cumprimentado.
Na Igreja Matriz houve Te-Deum com grande assistência de todos os políticos da terra e em casa dos Srs. Moras houve um abundante copo de água, havendo muitos discursos políticos e brindes políticos e pessoais.
À noite Suas Exªs., ofereceram um lauto jantar a que assistiram muitos amigos de Sua Exª., havendo no fim um sarau musical a que assistiram todos os políticos progressistas que se encontram nesta Vila.
Tocaram piano a Exmª Srª D. Prudência Serras e Silva e o Padre Sabino Paulino Pereira, que foram muito aclamados.
A filarmónica progressista (a do Carapau) acompanhou todos estes actos e subiram ao ar muitas girândolas de foguetes.
O que dirão os outros agora!???