10. Notícias de Valhascos

JORNAL DE ABRANTES

    • 23 de Outubro de 1904
    • Noticiário
    • Na aldeia de Valhascos, na passada terça-feira deu-se um desastre que ia custando a vida a 3 homens.
    • Foi numas obras do Padre Francisco Ferreira, achando-se sobre um andaime os trabalhadores, Manuel Jacinto da Neta, Henrique Quintas e Manuel da Silva construindo os alicerces duma abóbada que deveria cobrir um poço com 8 metros de altura, quando de repente o andaime desabou e vai tudo para o fundo do poço que continha cerca de 3 metros de água, ficando ali todos sem se poderem mexer.
    • Aos gritos aflitivos acudiu muita gente a prestar socorros, indo entre esta o dono da obra que imediatamente mandou chamar o médico ao Sardoal, vindo o Sr.Dr. Victor Mora prestar os devidos socorros médicos àqueles desgraçados. Um deles apresentava 7 ferimentos na cabeça, além de outros de menos importância, , os outros queixavam-se muito do corpo.

JORNAL DE ABRANTES

19 de Março de 1905

Efeitos do Vinho

Na aldeia de Valhascos, concelho de Sardoal, onde a produção do vinho foi grande, e a sua riqueza alcoólica atingiu um elevado número de graus, tem ele feito das suas.

No dia 7 houve pancadaria da grossa, chegando a haver sangue. Por fim, tudo acabou em paz. Na noite do dia 12, achando-se Sebastião Ferrão na taberna de Amaro Carvalho, ali começou a apregoar a sua valentia, ou antes a do vinho, dizendo que não temia homem nenhum daquela terra., etc.

Como ali perto se achasse Manuel Rodrigues Descalço, que empunhava um copo do saboroso néctar, e como não estivesse disposto a ouvir tanta valentia do importuno Sebastião, atirou-lhe com um copo à cara caindo redondamente no chão. Com a intervenção de outra gente que acudiu ao barulho, levantaram o importuno provocador, já banhado em sangue devido a um grande ferimento que tinha no rosto. Na impossibilidade de o ferido poder ser transportado para o Sardoal, a fim de receber tratamento, mandaram chamar o médico que ali chegou pelas 9 horas para o curar.

E aqui está como o diabo, digamos antes, o vinho as tece. Agora lá tem o pobre Rodrigues de ir dar contas à justiça por aquilo que fez ser provocado por um valente.

17 de Dezembro de 1905

Valhascos

António Esteves, faz constar por este meio que abriu venda do seu especialíssimo vinho da última colheita por preços convidativos.

JORNAL DE ABRANTES

14 de Janeiro de 1906

Fogueteiro

José Lourenço Galinha, dos Valhascos, vem por este meio prevenir os seus antigos fregueses, por este meio, que voltou de novo a exercer a profissão de pirotécnico, que há mais de 30 anos vinha exercendo, mas que em 1905, foi forçada a suspender por se lhe exigir uma pesada licença, o que deu causa a perder a sua antiga freguesia. Hoje está novamente pronto a servi-los nas melhores condições, podendo fornecer-lhes fogo de todas as qualidades e variedades. Também compra qualquer porção de papel, pagando conforme o seu estado.

A direcção é, além do seu nome, correio de Sardoal-Valhascos.

19 de Agosto de 1906

Valhascos-Desastre no Trabalho

Na passada segunda-feira, fracturou uma perna, numa pedreira onde trabalhava, o trabalhador Manuel Lopes da Neta, ou Manuel Jacinto, na ocasião que desabava uma barreira. O ferido em seguida ao desastre foi logo socorrido pelo Sr.Dr.Victor Mora.

18 de Novembro de 1906

Valhascos

No domingo à noite foi agredido à paulada, na taberna de Luís Vicente, o José Lopes Morgado, também conhecido por José Botas, deste mesmo lugar, que resultou ficar bastante contuso com alguns ferimentos. Por enquanto ainda não podemos indicar o nome ou nomes dos agressores, pois, têm empregado todos os meios para os encobrir. A culpada de tudo isto é a autoridade, por consentir as tabernas abertas toda a noite. Ao Exmº Administrador do concelho de Sardoal pedimos sérias providências a fim de evitar qualquer facto de consequências mais desagradáveis.

15 de Dezembro de 1907

Valhascos

Esparteiro

Fabricam-se seiras de esparto e outras feitas em corda de cairo, sendo estas até hoje conhecidas como as melhores e de fácil esprema.

Dirigir a Alfredo Mendes Mota.

Sardoal – Valhascos

Estranha-se com justificada razão que esta povoação se acha votada.

Os caminhos estão em mísero estado. A entrada do ramal está um lamaçal de tal ordem que até chega a impedir o trânsito. O que se trata é de vinganças e outras porcarias semelhantes. A câmara deste concelho, obrigou um cavalheiro de certa localidade a desmanchar uma parede que o mesmo havia construído em harmonia com a licença concedida por aquela corporação. A postura municipal no seu artigo 92, determina que a qualquer caminho seja respeitada a largura de 3 metros quando em linha recta e de 4 metros em curva. Ora, foram praticamente estas dimensões observadas pelo mesmo indivíduo quando mandou construir a referida parede. Tal modo de proceder, denota simplesmente inconsciência de quem assim procede. Às vezes é bom que assim suceda para ver se vão desempenhando. No entanto haja nesta terra alguém que se levante a pugnar pelos interesses locais, e terão cumprido o seu dever.

10 de Novembro de 1908

Valhascos

Pelo Tribunal

Agostinho Capador, solteiro, trabalhador dos Valhascos, por ofensas corporais em José Lourenço, solteiro, trabalhador, igualmente de Valhascos.

Absolvido por falta de provas. Defensor, Dr. Bairrão, escrivão, 2º oficial, juiz da comarca, Dr. Forjaz de Sampaio.

Valhascos

Aviso

José Lourenço Galinha, agente de compra de azeites para a fábrica da União Fabril de Alferrarede, durante a colheita de 1907, participa a todos proprietários com quem teve transacções, e bem assim os carreiros que fizeram os transportes, que durante o prazo de 30 dias, podem apresentar-lhe as suas reclamações sobre qualquer dúvidas havidas, nas suas contas.

JORNAL DE ABRANTES

16 de Maio de 1909

Participação

José Lourenço Galinha

Participa ao respeitável público e a todos que queiram comprar fogo bom e afiançado, que o vende, de 9 bombas a 250 réis a dúzia, e de 6 bombas a 220 réis. Também fornece fogo de artifício e foguetões em peças modernas e em cores, as mais finas e delicadas que é possível encontrar-se.

Quem quiser pode experimentar pagando no fim. Despacha-se encomendas para todo o país. Dirigir correio de Sardoal-Valhascos.

JORNAL DE ABRANTES

12 de Junho de 1910

Anúncios

Cal

Manuel Lopes Simples, participa aos seus amigos e fregueses que, tendo tomado de arrendamento os fornos de coser cal, pertencentes ao Sr. Manuel Lopes Ignez Júnior, da Barca do Pego, continua a vender de 1ª qualidade e em óptimas condições.

Dirigir ao mesmo Correio de Sardoal, Valhasos.

Anúncio

José Lourenço Galinha, pirotécnico dos Valhascos, faz saber a todos que tenham de gastar qualquer porção de fogo de artificio e de talos se dignem de o avisar com tempo, dizendo-lhe se o fogo é para queimar no ar, no chão ou na água, a fim de poder estudar bem as peças.

Aquele que não tenha conhecimento da obra do seu fabrico, poderá mandar fazer igual porção noutra qualquer parte, pagando depois o merecimento de cada um o que merecer.

A direcção é, Sardoal, Valhascos, José Lourenço Galinha.

7 de Maio de 1911

Valhascos

O Sr.António Esteves foi há tempos à exmª câmara, queixar-se que João Lopes Caldeira, andava fazendo umas escavações em caminho público, sendo porém certo que tal serviço era feito com autorização da câmara.

Ora, o mesmo António Esteves, trazendo há muito em mira apossar-se do aludido caminho, pediu licença para fazer umas obras com o fim de impedir o transito público, vindo deste modo apossar-se do terreno que compreendia o mesmo caminho.

Esta é que é a verdade.

Agora se vamos a queixas, ouça o Sr.Esteves: Queixe-se o mesmo Caldeira, de que o Sr lhe estragara uma oliveira existente em uma sua propriedade.

Queixa-se ainda o Caldeira que temos uma parede que entestava com o Esteves, esta devido ao mau estado, caíra para o adro do Esteves, e que ele, sem sua autorização dera a pedra ao Miguel Amaro.

E, queixa-se também o mesmo Caldeira, que tendo mandado para o lagar do Esteves 52 alqueires de azeitona da última colheita, este se recusara a dar-lhe o respectivo bagaço, nem a sua importância, e que tendo sido chamado à presença do Sr.Administrador do Sardoal, negou o facto.

Ora, o Caldeira, prova com testemunhas a verdade do que afirma, ficando provado que o Esteves, não tem dúvida alguma em sujeitar-se por tão pouco.

O público que avalie da moralidade do Esteves.

5 de Maio de 1911

3 de Setembro de 1911

Festas nos Valhascos

É nos próximos dias 10 e 11 que se realizam nos Valhascos, as tradicionais festas de N.S.ª da Graça, que promete, este ano ser revestida de grande brilhantismo, para o que não se têm poupado a esforços os seus promotores.

Além da missa a grande instrumental, fogo de artifício dos hábeis pirotécnicos da aldeia, José Lourenço Galinha e Henrique Alves Ameixoeira.

5 de Maio de 1912

Valhascos

Sr. Redactor do Jornal de Abrantes, peço o favor que me publique o que aqui dou a respeito do fogo que foi feito a capricho, por José Lourenço Galinha de Valhascos e Francisco Amante de Mouriscas, no dia 21 do mês findo no Sardoal, como dizia o jornal de domingo o qual não exprime a verdade.

Pois será possível três homens, desta vila querer tapar os olhos a um arraial inteiro, não é possível fazer-se o mesmo que se faz a um animal quando se prende a uma nora. Sim o Galinha se for a votos tem 97%, sim que mesmo que à vista aumente um mosquito finge um boi, sim o Galinha naquele arraial valeu-se de uma sabedoria e representou a todos os assistentes que assistiram e a toda a curiosidade da filarmónica que se levantou com o seu boné na mão dando honras e elogios, e o outro só se valeu do seu chapéu e caridade.

Ali representou o Galinha ser um cipreste e o Amante um chorão.

Agora peço que não me falte com uma só palavra, publique tudo que vai, isto sem mais

António Martins Pintado

12 de Maio de 1912

Correspondências - Sardoal

Nós, os abaixo assinados, declaramos que tendo sido convidados pela mesa da Misericórdia desta vila, a servirmos de júri, para apreciar o fogo fabricado por José Lourenço Galinha e Francisco Amante, queimado na noite de 21 de Abril fomos de opinião de que o prémio fosse conferido ao Amante, por ser ele, o que melhor fogo apresentou no conjunto.

Fazemos esta declaração por nos ser pedida, e por amor à verdade que muito prezamos, e não, por sentirmos agravados com o que diz um tal Pinto, no Jornal de Abrantes de domingo, pois que a sua prosa é de tal quilate que nem dela merece tomar conhecimento.

José Gonçalves Caroço

António José da Silva

Rafael Alves Passarinho

Leia esta prosa que se compreende bem e note Sr. Pintado que é a expressão da verdade.

Também lhe peço, Sr.Redactor, que publique tal e qual o que vai.

Francisco Marques Amante

18 de Agosto de 1912

O vigário do Sardoal é expulso dos Valhascos

No domingo à tarde começou a constar nesta vila a notícia de que o povo dos Valhascos houvera intimado o Vigário do Sardoal, Padre Silva Martins a não mais ali voltar a dizer missa.

Achamos o caso pouco edificante para a vida republicana deste concelho, que à falta de melhores informações, que dispusemos ir na segunda-feira até àquela fértil aldeia, que só conhecemos pela saborosa fruta e belos produtos hortícolas que abastece a nossa praça e a vizinha vila de Abrantes, são sempre os melhores onde aparecem.

Por isso o passeio era duplamente agradável, porque, além de irmos conhecer tão ubérrima povoação, íamos travar conversa com o povo que tem prestado os mais dedicados serviços à República.

Mas quando nos dispúnhamos para partir, aparece um amigo conhecedor dos factos que nos diz à queima-roupa: Não sabe, o povo de Valhascos num esforço acaba de expulsar de lá o vigário do Sardoal, que ali ia dizer missa aos domingos.

Este amigo estava ao facto de tudo, por isso, dispusemos a ouvi-lo, e desistimos do nosso passeio.

Eu lhe conto, diz-me ele:

Há bastante tempo nos Valhascos a ideia Republicana se vem desenvolvendo e frutificando com entusiasmo louco, podendo dizer-se, que está ali um verdadeiro baluarte, com que a República pode contar para a defender e consolidar quando for preciso, e ainda foi da última incursão paivante, que foi necessário fazer ronda nas estradas lá esteve o povo de Valhascos sempre, embora só em parte lhe coubesse o serviço.

No primeiro dia de vigia, o administrador mandou para lá dizer que precisava de 6 homens, apareceram mais de 30 todos armados, e daí, em diante nunca abandonaram a estrada, embora fossem em menor número, por verem que era desnecessário tanta gente.

Foi também entre todas as aldeias aquela que contribuiu em maior escala, para a carinhosa recepção , que fez ao Sr.Dr. Ramiro Guedes, quando como Governador Civil foi ao Sardoal.

Foi ela, que recebeu com o mais caloroso entusiasmo, quando ali foi em propaganda eleitoral fazer o comício.

Foi também aquele povo, que comprou e ofereceu o mobiliário para uma escola (que infelizmente ainda não funciona) o que lhe mereceu uma portaria do Ministério do Interior do Governo Provisório.

Todos estes actos conjugados, serviam para excitar a reacção e como ela não perdoa aos que flagelam e combatem, nascesse daí a propaganda contra aquele bom povo, dizendo-se “que Valhascos era um canto do inferno, gente de má raça e o incitamento às mais fanáticas a que mandassem os filhos aprender doutrina em prejuízo da escola”.

Tudo isto os republicanos vêm ouvindo com certa resignação, até ultimamente se reuniram em virtude das opiniões serem unanimes na expulsão do Padre, no passado domingo dirigiram-se todos ao adro da Igreja e ali chamaram o Padre Silva Martins, avisando então, de que de futuro não poderia vir a Valhascos, e que, naquele dia mal algum lhe aconteceria, mas que se teimasse em lá voltar sofreria as consequências do seu atrevimento.

Desejando saber as razões porque o expulsavam, foram respondidas que eram as que atrás citamos e dizendo ele que não era a opinião da maioria, foi feita a prova que lhe deu a triste desilusão de entre um, a multidão imensa, “só três fieis queriam o Sr.Vigário”.

De outras evasivas se valeu para ver se aniquilava o movimento, mas os resultados foram negativos, porque o povo respondeu com uma calorosa manifestação à Lei da Separação e ao Dr. Afonso Costa, manifestação que serviu para ele se pôr ao largo sem mais explicações.

Mas não imaginem que foi tudo isto de ânimo leve e autoritariamente, foi feito depois de uma reunião em que se viu o que era a opinião dominante do povo e se não o tinham feito no penúltimo domingo, foi porque o administrador do Sardoal, não sabemos porquê, nem porquê, ali mandou o Regedor e o Oficial de Diligências como guarda costas do Padre.

Mas ontem, houvesse o que houvesse e agora estarão todos os domingos dispostos a impedir a entrada do Padre, embora tenham de empregar a força, até que haja absoluta certeza de que ele já não volta lá a dizer missa.

Já o amigo vê, que nos Valhascos há uma opinião consciente e verdadeiramente democrática que defenderá a República sempre que seja preciso.

Assim terminou o nosso amigo o relato dos acontecimentos, que me sensibilizaram em extremo pela maneira ordeira, sensata, ponderada como procederam.

Mas antes de entrarmos na análise dos factos, uma pergunta ocorreu.

Porque o mandou o administrador, o Regedor Oficial de Diligências a Valhascos, sendo as autoridades de lá da sua nomeação e portanto de sua confiança?

Para defender o padre?

Para prender os que fossem intimar?

Isto é que era preciso saber-se para elucidação dos que amam e defendem a República!

Ao povo dos Valhascos a Redacção do Jornal de Abrantes, endereça as suas mais sinceras e calorosas saudações pela sua nobre e digna conduta, que é a única que no momento actual se deve seguir, para reprimir a reacção e castigar de inimigos da República e traidores da Pátria.

Alto exemplo de hombridade, prova frisante e claro patriotismo, foi o facto

praticado por aquele povo republicano.

Avante povo de Valhascos, pela Pátria e pela República!

Viva o Povo de Valhascos! Abaixo a Reacção!

1 de Setembro de 1912

Valhascos

Grandes Festas Cívicas nos dias 8 e 9 de Setembro

As festas que se vão realizar têm um carácter bem diferente das que aqui se realizavam até aqui, estas confortam e suavizam a vida das criancinhas e dos pobres.

Eis o programa:

No dia 8 cortejo cívico das 10 horas em diante, às 12 horas, bodo aos pobres, à tarde arraial e à noite fogo de artifício, pelo hábil pirotécnico desta localidade Sr. Galinha.

No dia 9, haverá um comício de propaganda republicana, corrida de bicicletas, corrida de burros e cavalhadas, à noite fogo de artifício.

No comício tomarão parte e usarão da palavra dois deputados e outros elementos republicanos.

Estas festas são abrilhantadas pela bem conhecida Filarmónica Sardoalense.

Pelo Sardoal, Desbravando

Sr Redactor do Jornal de Abrantes

Surpreendido hoje 27 pelo aparecimento do seu jornal em minha casa, favor de um amigo, pois é jornal que não leio, porque em coisas de Sardoal diz as avessas sem dúvida, probidade o informador, deparei com uma local que diz respeito: “O Vigário do Sardoal é expulso de Valhascos”.

Permita-me Sr.Redactor, lhe pergunte qual é o artigo da constituição que nos rege, que manda, ou autoriza a expulsão de um padre de uma igreja ou capela, onde celebra a sua missa, sem ofender quer que seja, e, a ser expulso quem o poderá fazer?... Será em nome da liberdade dos cultos, que a lei da separação apostoliza mas não garante, ou do livre pensamento, tão pouco livre entre nós?

E a entidade para cominar a pena de expulsão poderá ser um particular idiota ou lavrado? Pontos estes que desejo ver lavrados no seu jornal.

O povo de Valhascos não expulsa o seu capelão ou pároco, porque sabe quanto lhe é útil a missa lá, e que os mandões do sitio foram, em tempos os primeiros a pedir missa.

Venha Sr.Redactor, até aqui em digressão inteligente e moralizadora, porque os grandes republicanos da nossa terra conhecem os deveres do cidadão em regime democrático, e os nomes dos combyes em passeio., são os mais belos e saborosos: comidas na praça ou em casa são produtos muito falsificados.

Era um bom serviço a este povo cujas intenções, os republicanos daqui, nova edição, desejosos de evidência, e que tanto têm subido no capítulo da fama corrompem e desvirtuam.

Para eles fica bem o que o “País” dizia há dias: a sua adesão ao regime nascente denunciando a mais absoluta falta de pudor, não foi senão um cálculo de ciganos, que há-de degenerar num salto de lobos.

Entrando no assunto do seu local direi resumidamente:

1º Como padre não deixarei de ir a Valhascos dizer missa a custo de todos trabalhos e ameaças, compraram crianças para me apedrejar, a troco de uns litros de vinho, mas as crianças não quiseram atirar a primeira pedra e pediram á autoridade administrativa que proibisse de ir lá, mas a autoridade julgou não dever aceder a capricho de mal educados, e a vingança de corações deformados, antes garantiu segurança pessoal. No domingo dia 11 do corrente, logo de manhã, apareceu no adro da igreja dos Valhascos, o protagonista do movimento insultando os que vinham à missa e proferindo palavras que brigam com os mais rudimentares educações. Seriam uns 15, os satélites de tão luminoso astro, outro de maior grandeza, havia eclipsado o seu brilho e a presença. Deus não leve em conta “ a bondade dos seus corações”.

Que fazer perante arruaça impune e cabeças fora de si: onde o sossego e respeito pelo acto religioso e crença de cada um?...

Pedir à autoridade policias para o templo num regime de liberdade de separação, profundo engano quando a maldade transborda o coração com aparência de lei e honestidade.

2º Investigue Sr.Redactor, a história de umas eleições aqui realizadas há pouco, por louvados do concelho, e em que se tinha passado um sindicato para explorar a quinze tostões ao dia, pergunte mesmo aí ao digno representante do Dr.Juiz que veio assistir à segunda eleição e terá resolvido o problema que enunciou o seu jornal de 18 do corrente.

Tais não Sr.Redactor, os factos por lealdade jornalística e em homenagem à verdade, espero que publicará no número do seu jornal, e os factos são o que são. Eles só por si valem um poema, definem um caracter, uma raça, talvez.

São a melhor escola e o mais autentico inferno.

Sardoal,27 de Julho de 1912

Padre Silva Martins

8 de Setembro de 1912

Ainda o Caso de Valhascos

Propositadamente, e para sermos coerentes com os nossos princípios inserimos no último número do nosso jornal a prosa do Padre Silva Martins e fizemos também para que os nossos leitores, vissem aquela prosa virulenta e insidiosa como um só génio jesuítico ou dementado pode produzir tentando defender-se, só se agravou mais, pois que, na pseudo defesa só há agravos e insinuações pessoais e uma grande ironia, cínica, quando fala da Lei da Separação, do que o acusaram nada ele refutou e isso pela simples razão que a verdade não é fácil de destruir.

O que lastimamos, é o reverendo, não ler o nosso jornal, porque, a sua última ser proveitosa, porque aqui só se diz a verdade, e defendem os verdadeiros princípios patrióticos.

Pela razão e pela verdade e a nossa divisa embora ela por vezes lhe custe a tragar, mas tenha paciência reverendo, porque o que deu é produto da sua vaidade, insensatez e malevolência, e lá diz o ditado ”quem semeia ventos colhe tempestades” e foi isso que lhe aconteceu.

O que parece tê-lo magoado foi mais a “epígrafe” o vigário do Sardoal é expulso dos Valhascos.

Sim, expulso, é esse o verdadeiro termo a empregar, e foi-o por não ter qualquer com um homem como falsamente pretende fazer acreditar, mas sim, por ter agravado uma povoação “honesta e democrática” com as suas estúpidas e venenosas palavras.

E foi o não uns quinze como hipócrita e mentirosamente diz, mas sim pela população quase toda. Esta é que é a verdade em toda a sua nudez.

Sobre idiotas e larvados isso é teima para uma dissertação cientifica.

Faça-a reverendo e depois manda para cá, porque muito desejamos saber as conclusões a que tinha chegado.

Que insensatez!

Agora agradecemos o convite que nos fez para ali darmos um passeio, e, comunicarmo-lhe antecipadamente tínhamos resolvido ir até lá confraternizar com esses republicanos que parece incomodá-lo bastante, ou que para eles dever má glória.No momento actual o ser-se agredido por um padre que está ao serviço da reacção breia que é uma honra: Por isso no dia 9 lá iremos e lá esperamos encontrá-lo e como há um comício eis a ocasião propícia para o reverendo ver que ali não se dão aos meios para conseguir os fins.

O que ali há é uma grande força de vontade de bem servir a pátria e a República por isso, avante povo de Valhascos, pelos sãos princípios liberais.

22 de Setembro de 1912

Festas Cívicas dos Valhascos

Nesta importante aldeia do concelho do Sardoal, realizaram-se nos dias 8 e 9 do corrente, importantes festas cívicas que decorreram animadíssimas.

No dia 8 houve bodo ás crianças, arraial e à noite um vistoso fogo de artificio e do ar.

Em 9, arraial, corrida de burros, de bicicletas e o comício de propaganda republicana, e à noite brilhante fogo do ar fabricado pelo incansável pirotécnico desta povoação Sr. José Lourenço Galinha.

Cerca das 14 horas chegaram a esta aldeia o ilustre deputado deste circulo Dr. João Damas, acompanhado dos amigos e velhos republicanos José António dos Santos, Manuel de Oliveira Neto e António Augusto Salgueiro, seguindo todos para casa do cidadão José Dias Conde, onde foi cumprimentado por grande número de cavalheiros e pela Filarmónica União Sardoalense, sendo erguidos muitos vivas ao deputado, como também ao ilustre tribuno Dr. Afonso Costa cujo nome foi alvo de uma grande manifestação de simpatia.

Às 15 horas foi servido em casa do Sr. José Conde um lauto jantar a que assistiram muitos amigos, durante o qual se fizeram variados brindes todos repassados de um brilhante entusiasmo, havendo alguns puramente dedicados à família Conde, pela forma cavalheiresca como recebeu todos os convivas.

Em seguida dirigiram-se todos para o lugar onde deveria realizar-se o comício.

Eram 17 horas quando o cidadão Rafael Alves Passarinho, subiu ao estrado, declarando aberto o comício, depois de explicar os seus fins, propôs para presidir o velho e prestigioso republicano de Abrantes, José António dos Santos, natural de Sardoal, mas ali residente há longos anos e para secretários os cidadãos, António Carvalho Tramela, conceituado comerciante no Sardoal e José Dias Conde, proprietário nos Valhascos, o que tudo foi aprovado no meio de calorosos aplausos.

Depois do presidente agradecer tão carinhosa manifestação, deu a palavra ao cidadão António Dias Conde, que historiando a questão religiosa desde o seu principio caiu a fundo sobre a seita jesuíta mostrando quanto ela tem sido funesta à família e os destinos da paz.

Falou em seguida o cidadão António Augusto Salgueiro que, descreveu a incursão picante nas suas diversas faces mostrando à evidência que os traidores eram mercenários e bandidos sem nível e sem Pátria. Seguiram-se no uso da palavra o cidadão Eduardo Valente, que analisou várias leis da separação, da família, do Registo Civil e recrutamento militar, afastando a ideia que muitos têm de que a republica pouco tem produzido. Por fim falou o deputado Dr. João Damas, que, em frases arrebatadoras e ressoadas de entusiasmo, começou por agradecer a carinhosa manifestação que lhe acabavam de lhe fazer e que ele tomava como se fosse feita à Republica.

Disse estar no firme propósito de explicar aos seus eleitores os motivos que o levaram a filiar-se no grupo democrático, mas ao chegar ali um facto o sensibilizou em extremo, que é ver sobre o peito de quase todos, o retrato do emigrante homem do Estado, verdadeiro sustentáculo da Republica e glorioso chefe do Grupo Democrático Afonso Costa.

Esse facto, disse, leva-o a desistir do seu propósito, porque vê que todos partilham das suas ideias e que o seu gosto traduziu muito o pensar daquele honesto e trabalhador povo de Valhascos. Fazendo análise dos desmandos da monarquia, pôs em destaque as roubalheiras que então se praticavam e que conduziriam à ruína se a República não viesse salvar-nos.

Deste modo terminou o ilustre deputado, por entre calorosas vivas à República e ao Dr. Afonso Costa. Findo este discurso propôs o Sr. António Dias Conde se enviasse um telegrama de saudação ao Dr. Afonso Costa em nome do povo dos Valhascos.

Como ninguém mais quisesse usar da palavra, o cidadão presidente agradeceu a todos a maneira ordeira e cordata, como se portaram o que, a si, era bastante significativo e encerrou o comício com vivas ao povo dos Valhascos.

Todos os oradores foram proclamados entusiasticamente e os seus discursos encurtados com vivas à república e Dr. Afonso Costa.

E, deste modo terminou a imponente festa republicana que a todos deixou gratas recordações, e que para a República constituiu um triunfo, por ser a primeira festa cívica que ali se fez, em substituição das religiosas onde a reacção ainda pretende dar leis.

Foi este grande povo, essencialmente republicano, que ainda há pouco expulsou daqui o vigário do Sardoal, Padre Silva Martins, por dizer que a gente dos Valhascos era de má raça e ainda outras heresias próprias da reacção. Por isso, após a expulsão de um padre nada mais belo que uma festa cívica onde se afirmou a solidariedade de todos perante aquele acto cheio de verdadeira alegria e entusiasmo.

À comissão dos festejos especialmente a José Dias Conde e António Esteves os nossos sinceros agradecimentos pela obra que empreenderam: É preciso não esmorecer para que de futuro continuem trabalhando com a guarda avançada da República nos Valhascos. Ao fim da tarde o Sr. António Esteves convidou para sua casa vários amigos a quem ofereceu o clássico copo de água. Fizeram-se vários brindes, sendo o primeiro à família Esteves e o principal oferecido pelo Sr. Dr. Serras Pereira. Correu tudo na melhor ordem, e todos se retiraram extremamente penhorados pela amabilidade do Sr. Esteves, que ainda nos acompanhou ao bota-fora.

Viva o povo de Valhascos.

E assim terminou a grande festa.

6 de Abril de 1913

Correspondente Sardoal

À hora que o último número deste jornal se estava imprimindo o povo dos Valhascos verdadeiramente entusiasmado por ver finalmente satisfeita a sua maior satisfação, aclamava delirantemente o seu professor, Sr. Alfredo de Macedo, que ali acabava de ser colocado.

Era esta a maior aspiração de Valhascos e para uma satisfação tudo fizeram, incluindo a compra do mobiliário, subscrição entre todos os habitantes e se há mais tempo não tinha sido provida, foi devido em sucessivos concursos ter ficado deserta.

Hoje, põem Valhascos que tanto desejava a instrução de seus filhos, já possui um professor que vem precedido de melhor fama e oxalá que ele saiba corresponder à simpatia com que foi recebido.

Foi no sábado 29, de manhã que se soube que ele viria à tarde, pois aquele povo trabalhador, tudo abandonou para ir esperar o mensageiro da instrução.

Em todos os rostos transparecia a alegria que ia na alma, e por sinal festivo, durante o dia as girândolas de foguetes sucediam-se, mas quando o entusiasmo chegou ao rubro foi aí pelas 12 horas quando o referido professor chegou, então os foguetes eram constantes e os vivas ao professor e à República eram sucessivos. Depois de algum tempo de descanso em casa do Sr. José Dias Conde, encaminharam-se para a casa da escola e era tal a quantidade de povo que formaram um cortejo cívico.

Ali fizeram pequenos discursos, os cidadãos, Srs. António Dias Conde, encaminharam-se para a casa da escola e era tal a quantidade de povo que formaram um cortejo cívico.

Ali fizeram pequenos discursos, os cidadãos, Srs. António Dias Conde, Zeferino Carvalhal e o professor que a todos agradeceu tão carinhosa recepção, prometendo cumprir com maior zelo e dedicação os deveres a seu cargo.

Ao povo de Valhascos e ao ilustre professor, o Jornal de Abrantes endereça as suas calorosas saudações.

16 de Agosto de 1914

Exames do 2º Grau

Foram aprovados nos exames do 2º grau os seguintes alunos:

Alberto Matias, Augusto Serras Pereira, Luis Batista, João Dias Alfaiate e António Martinho.

Também fez exame do 2ºgrau a menina Benedita Maria de Sousa, que foi aprovada.

Alunos dos Valhascos

Aprovados: Bento Esteves, Boaventura Lopes Paulo e Leal Lourenço Galinha de Valhascos.

JORNAL DE ABRANTES

8 de Setembro de 1914

A certa hora da noite, depois de muitas pessoas verem passar uma luz, da casa do Sr. Bispo de Viseu, para uma casita que fica ao lado, pertencente ao mesmo, foi o povo alarmado com gritos de “acudam ao fogo” à porta do Sr. Bispo!

Tudo correu em direcção ao local indicado, verificando toda a gente que o fogo era de pouca importância, sendo na tal casita por onde tinha passado à pouco tempo antes, reconhecendo todos quantos presenciaram, que o incêndio tinha sido derivado de qualquer descuido de pessoa que ali entrasse.

Mas, como a festa era cívica, e não houvesse cantochões na igreja, não foi preciso mais nada, para a família do Bispo a causa do incêndio, foi o fogo da festa!

A família do Bispo sabe muito bem, que o fogo começou, antes do começo do fogo, e tal não podia ser e a tal hora não subiram foguetes nenhuns ao ar, estando o telhado da casita todo bem vedado de argamassa, como declara o próprio pedreiro que o fez, como é possível ser derivado ao fogo da festa?...

Agora sabe-se de fonte limpa, que um sobrinho do Bispo, de nome Francisco Lopes Ferreira, encarregado da quinta do tio, chamou a casa 2 indivíduos dando a cada um 5 litros de azeite, pedindo-lhe para dizer que o fogo foi derivado ao fogo da festa.

Tal é o ódio, que a maldita seita negra de Loiola tem aos republicanos.

4 de Novembro de 1914

Joaquim Calvário

20 de Dezembro de 1914

Valhascos

Maldita reacção

O vigário do Sardoal, não se cansa de enviar exemplares de “O Apostolo” para os Valhascos gratuitamente, para assim conseguir introduzir na aldeia o catolicismo.

Já lá vai o tempo, que os agentes da maldita seita de Loiola, sugavam até à última gota os papalvos que tinham a infelicidade de cair na esparrela de os acreditar.

O Sr. Vigário, não se lembra, no tempo em que dizia missa nos Valhascos, quando começava com as suas práticas, o povo, voltava as costas e saía da igreja, ainda antes de ouvir a missa, alegando que não estava disposto a ouvir baboseiras, o povo, está farto de saber, que os representantes de Cristo na terra, foram sempre os maiores criminosos, os que em nome de deus e da igreja têm cometido as mais horrorosas infâmias e as mais estupendas brutalidades, como há-de ele agora acreditar nas patranhas de um órgão de tais tartufos.

E por esse motivo, naturalmente, que o povo dos Valhascos está em um canto do inferno, e que a maior parte dos seus habitantes, estão excomungados.

Pois fique certo, Sr.Vigário, que o povo dos Valhascos heróico povo republicano, não acredita nem acreditará nunca nas ilusórias de míseras gazetas reaccionárias, nem no palavreado o “Santinha e Nosso”, do missionário, de cada um, do Barbaça da Ponte, baboso satélite do Sr.Vigário, adoradores do carunchoso tronco da igreja e fieis de Deus, apaixonados pela já extinta e podre monarquia.

São tão apaixonados que um tal Manuel da Horta, mais conhecido pelo “cada um” chegou a oferecer não sei a quem duzentos mil réis, se conseguisse restaurar a monarquia.

Coitados rezem-lhe por alma, depois de morto!

15 de Dezembro de 1914

Joaquim Calvário

8 de Novembro de 1914

Valhascos

Dez litros de azeite para jurar falso

No dia 8 de Setembro, realizou-se, nos Valhascos, uma festa cívica, festa muito contrária à vontade do Sr. Bispo de Viseu, e de muitos reaccionários, que infelizmente existem ainda, na aldeia de Valhascos.

Foram mordomos da festa, uns três ou quatro rapazes, dedicados republicanos, que com muito boa vontade se empenharam, para que não ocorresse nenhum incidente.

Esta festa, foi abrilhantada pela Filarmónica do Sardoal, havendo também, fogo preso e do ar, estando a festa muito animada.

31 de Janeiro de 1915

Valhascos

Graça Maldita

Consta-nos que uma fanática, Maria Batalha, moradora no Penedo, aldeia de baixo, vai dar princípio a sua costumada missão de ensinar doutrina cristã às crianças de ambos os sexos.

Esta, como é sabido, é uma célebre reaccionária, que tem por hábito, andar de porta em porta, a apoquentar as pobres crianças e suas mães para que frequentem a sua escola, dizendo-lhe que se não aprendem doutrina cristã, vão para o inferno.

Com as mesmas pantominices tenta também, o parvalhão do “Santinho é Nosso”, iludir as pobres crianças, que não podendo converter à sua fé aqueles de idade pensante, procuram todos os meios para fazer entrar numa seita maldita as crianças que ainda não pensam.

Toda a gente dos Valhascos sabe que o Santinho é nosso tem sido um grande jacobino, um rebelde, um reaccionário, um cruel inimigo da República e um antigo súbdito dos agentes da maldita quadrilha de Roma.

Infelizmente não há inferno, se o houvesse os próprios ministros da igreja, seriam os primeiros a sentir os seus tormentos, porque são esses vândalos, são esses cobardes, são esses hipócritas os maiores profanadores e os maiores criminosos que sem escrúpulos, sem vergonha e sem sentimentos, têm cometido em nome de Deus e da religião, as maiores selvajarias.

Os pais e as mães devem retirar os seus filhos daquelas cafurnas, que se chama verdadeiros coios de jacobinismo, que as pobres crianças, agora, são obrigadas a frequentar e mais tarde quando tenham o uso das suas faculdades intelectuais, poderão talvez odiar.

Mandem-nos pois para a escola, que hoje, felizmente os Valhascos tem o condão de ter um inteligentíssimo professor, um bondoso e amável coração, todo cheio de carinho e amor para as crianças.

A instrução é uma das melhores heranças que podeis deixar aos vossos filhos.

Mandai-os para a escola, que o ilustre professor vai recebê-los de braços abertos e lhes introduzirá no cérebro, os preceitos da civilidade.

Mais tarde quando eles chegarem a ter idade pensante, e que tenham conhecimento preciso, eles seguirão sem obstáculos o caminho traçado pela sua consciência, eles se filiarão neste ou naquela seita ou eles permanecerão sempre imparciais.

Vómitos Negros

O Santinho é Nosso, vomita cóleras negras por não ver satisfeita a sua vontade.

O Senhor Santinho lembra-se que no dia 20 de Dezembro, quando passava junto de um tal grupo de indivíduos, na ocasião que estava lendo o Jornal de Abrantes?

Bom seria que dê um ponto na língua, para que não lhe ponham a calva à mostra, ou para que não lembrem ao Sr. Administrador do concelho, uma visita de olhos pelos Valhascos, a fim de mandar acabar com certos brutos que andam à rédea solta.

28 de Janeiro de 1915

Joaquim Calvário

JORNAL DE ABRANTES

7 de Março de 1915

Correspondência dos Valhascos

A minha última correspondência no Jornal de Abrantes, modesto semanário que se encarrega de abrir os olhos a tantos cegos, que se deixam arrastar nos turbilhões empestados da vil troupe do clericanismo fez com que o germanófilo, Santinho é Nosso aparecesse um dia com o nariz mordido!

O caso, segundo consta, passou-se da seguinte forma:

Numa ocasião em que um cucado do Santinho, de nome Francisco Pimenta, afirmava ser verdadeira a dita correspondência, logo o Santinho é Nosso, furioso como um cão de fila, se agarrou às orelhas do cunhado, puxando-as violentamente cobrindo-as ao mesmo tempo de afrontas e injúrias, chamando-o pelos nomes mais torpes próprio de tais línguas que a decência não manda declarar.

O Francisco Pimenta, vendo-se agredido e insultado por um Santinho, que tem Deus na boca e o Diabo no coração, e não tendo consigo um bom cacete para lhe tosar o pelo, viu-se obrigado a deitar os dentes ao nariz mordendo-o! “O Santinho é Nosso” foi apupado por todos que presenciaram a cena, o Francisco Pimenta recebeu de toda a gente os maiores elogios.

Há dias, quando um dedicado rapaz de nome Manuel Esperto, filho do Sr. Joaquim Esperto, importante proprietário e honrado republicano, nesta aldeia, fazia entoar a “Portuguesa” ao som de um harmónio, todos os assistentes tiraram o seu chapéu.

Diz logo um freguês, que estava de lado:

Se passasse por aqui o “Santinho”, não tiravam o chapéu, de tão boa vontade.

É para que se saiba freguês, que o povo ama a nossa querida República e odeia assim como eu um vil canalha clerical.

Fora vil canalha...

Viva a República Portuguesa...

Viva a Lei de 20 de Abril de 1911

Valhascos, 20 de Abril de 1915

Joaquim Calvário

16 de Maio de 1915

Valhascos

Para onde vamos!

Que invasão a está que parece querer levar aos empurrões a República Portuguesa para um enorme precipício!

Envoltos no mais profundo mistério, todos caminham às cegas sem saber onde vamos parar!...

O povo sincero e republicano sempre fiel à República, sacrificará o seu sangue e até a sua vida para defender, mas está cada vez mais impressionado com a atitude do governo do Sr. General Pimenta de Castro?

Já nos leva a acreditar que alguns titulares governantes, são datados de um grande espirito monárquico, que satisfazendo as suas paixões, só contam amigos pessoais, subscrevendo nomeações de criaturas incapazes de exercer missões oficiais de um regime que odeiam e afrontam constantemente, como se vê agora na nomeação do Vigário do Sardoal, para presidente da câmara, sendo este sotaina, como é notório, um grande reaccionário, um terrível inimigo da República, sendo também os restantes membros do município, vultos conhecidamente monárquicos, que passam parte do seu tempo, com os olhos fitos nas colunas de “O Dia, A Nação, O Nacional, A Liberdade” e outros pasquins, monárquicos e católicos, crentes, que ainda um dia hão-de ver resplandecer no horizonte a estrela cadente da monarquia.

Não sou democrata, não sou evolucionarista, nem unionista, sou republicano imparcial. Estimo e admiro as ilustres figuras proeminentes da revolução de 1910, valorosos heróis, sempre prontos a sacrificar a sua saúde, o seu sangue, a sua vida, para ver triunfar na gloriosa manhã de 5 de Outubro esta jovem república que o povo recebeu cheio de contentamento e alegria e não me abstenho de dizer bem alto que o governo do Sr. Pimenta de Castro não trilha bem pelo caminho que lhe compete, porque assim, tenta livrar os sentimentos liberais de um povo!...

Não há ninguém que se considere cidadão republicano, que possa apreciar as obras de um governo, cujo governo pense em republicar um povo com procissões pelas ruas e com nomeações de católicos, reaccionários ou monárquicos militantes para autoridades administrativas de municípios.

As fantochadas dos espantalhos pelas ruas e as nomeações de inimigos do regime para lugares de confiança, só servem para vendar os olhos aos ignorantes, para abarrotar as algibeiras dos esfomeados para engrossar o número de monárquicos católicos e para arrastar a República ao maior dos precipícios.

Um governo distintamente republicano deve deitar ao desprezo certos farsantes que são apenas republicanos na ponta da língua, a fim de que o povo se vá republicanizando, para que se não deixe abalar, arrastado pela cauda de negros turbilhões do agoirenta jesuitismo vil canalha de que de mãos dadas com os monárquicos, agora saúdam e pulam de contentes, com generosidade e benevolência do governo do Sr. Pimenta de Castro.

Ao Manuel José de Moura, administrador do concelho do Sardoal, cumpre também apreciar os bons serviços que actualmente vem prestando à República com a sua coerência com os mariquitas católicos que nas cadeiras do município hoje se chamam dirigentes do nosso concelho.

Não resta a menor dúvida, que Sua Exc. de braço dado com eles, vá assim retirando os obstáculos da estrada da perdição, em vez de a tornar ainda mais intransitável.

Republicanos alerta que a hora de justiça soará

Bicos, 10 de Maio de 1915

Joaquim Calvário

23 de Maio de 1915

Valhascos

O Vigário do Sardoal e as modas de Paris

Santo Deus! Até os modos dos meninos causam impressão do espírito imundo do vigário do Sardoal, que afirma não terem entrada no céu, aquelas que usam saia travadinha.

Foi no Domingo, dia 9, que o Padre Vigário António Martins, um pouco antes da missa na ocasião em que assistiam algumas dezenas de pessoas à sua costumada ladainha de Maio, na Igreja Matriz, profetizou que não entrariam no reino dos céus nem considerava católicas as meninas que usassem saia travadinha.

Serão estes disparates próprios das pessoas que se têm na conta de cultos inteligentes.

Tais são as rigorosas penitências que temos de cumprir neste mundo para ganhar o céu! O homenzinho desde que se empoleirou nas cadeiras do município, parece que está cada vez mais parvo.

17 de Maio de 1915

Joaquim Calvário

13 de Junho de 1915

Valhascos

Xilófagos Tóxicos

Segundo foi afirmado com uma carta que recebi de um meu amigo dos Valhascos., pessoa séria, em que tenho toda a confiança, que um certo dia, a casa do António Cunha Boneco, com loja de mercearia na estrada, se formou verdadeiro centro monárquico, aonde se reúnem meia dúzia de petulantes e imbecis antipáticos, que estando ali um pobre rapaz de nome José Moleiro, o obrigaram junto com eles dar vivas à Monarquia.

Ignoro por enquanto o nome de tais farsantes, que julgo, naturalmente, serem daqueles estúpidos que de olhos vendados seguem atrás do chocalho que o vigário do Sardoal empunha e agita, não deixarei de lamentar a imprudência do Sr.António Cunha em consentir que debaixo das suas telhas se formasse uma assembleia com o fim único de enxovalhar e desrespeitar as leis da República.

Ao Sr.António Cunha, apesar de não os auxiliar com vómitos tóxicos recomendamos a não continuação de tais pessoas em sua casa de onde podem resultar consequências graves, mesmo para a sua pessoa, e para não causar suspeitas misteriosas na cabeça de ninguém.

Quem sabe, se alguém envolvido em profunda meditação, pergunta à sua própria consciência, se tal casa será um cóio onde os inimigos da República terão as reuniões secretas?

É natural que assim não seja, mas... não deixaremos de pedir a atenção do Exmº Sr. Administrador do Concelho, a fim de investigar o caso.

Consta também que o missionário “O Santinho é Nosso”, o Luis da Gatinha, o Batista da Estrada e o Barbaça da Ponte, babosos satélites do vigário, atiravam já com as suas parelhas de coices, que pareciam estar nas suas sete quintas.

Coitadinhos!... eles bem sabem que o tempo da última revolução, foi para eles um desengano e uma severa lição de moralidade, e lição formidável que deve estar bem clara na memória daqueles que pretendiam conduzir a República portuguesa a um abismo fatal.

Foi uma estrela resplandecente que veio iluminar o entendimento daqueles que ás escuras enveredam pela vereda tortuosa que a sua vã consciência com tanta infelicidade lhe havia traçado.

Foi a voz afirmativa que veio dizer ao povo luso-latino que a República está bem enraizada, que ainda muitos que sejam os esforços dos seus inimigos para o seu extermínio, serão sempre malogrados.

Eles bem sabem que a evolução de 14 de Maio, foi uma tremenda trovoada artificial que se desencadeou na atmosfera política do nosso país, a fim de pôr termo às represálias e ao despotismo de um governo tirano, que sem a nítida compreensão dos seus deveres, sem consciência, sem escrúpulos, sem remorsos, nem piedade, deixou ensanguentadas as páginas da história, tornando-se inevitável a horrorosa catástrofe em vista dos processos bárbaros com que faziam justiça, e em vista da benevolência para com os “Crocães” inimigos externos, dando-lhes o indulto para mais depressa se restabelecerem da grande nostalgia que os atacava, para, unidos com os internos, mais à vontade afrontarem a República...

Malograda Intentona!

Em vista da incredulidade de algum, cujos nomes tenho bem na memória, termino hoje esta correspondência gravada com o seu próprio punho, dizendo que não são os calos cansados pelo cabo da minha enxada, que me privam de atirar aos quatro ventos da publicidade as frequentes correspondências que espirram dos bicos da minha pena, como julgam certos cavalheiros incrédulos do Sardoal, que não acreditam que o autor das ditas seja o próprio que as assina.

8 de Junho de 1915

Joaquim Calvário

1 de Agosto de 1915

Exames de 1º grau no Sardoal

Começaram no dia 1 do corrente (Julho) os exames de 1º grau neste concelho, sob a presidência do Exmº Inspector Sr. José Piedade Correia, cujos resultados no dia 15 de Julho foram os seguintes:

Alunos apresentados pelo professor Armando Dias Louro

Óptimos: Alberto Andrade e Silva, Alberto Luz, António Ferreira Campos, António Nunes, Hermínio Mendonça, Joaquim Maria Serras e Manuel Alves Vilelas.

Bons: António Marques Ferreira., João Ramos, João dos Santos, Manuel Milho, Máximo Ribeiro Dioniso, Victor Constantino e Severino Alpalhão.

Alunos de Valhascos apresentados pelo professor Alfredo Macedo

Óptimo: Francisco Clemente

Bons: André Vicente, António Garcia, João Boaventura de Matos, José Guilherme, Nicolau Morgado e Serafim Sebastião.

No dia 16 de Julho

Da professora D. Clotilde da Costa Marçal

Óptimas: Maria Conceição Pombo e Maria Conceição Salgueiro.

Bons: Augusta Santos Napier, Eugénia Conceição Marçal e Inocência da Conceição Alves Reis.

Da professora, D. Júlia Ascensão Brito Ribeiro, do Andreus

Óptimos: Maria Natividade Salgueiro, Alfredo Jorge, António Rodrigues Falcão, Francisco Martins Cascalheira e Manuel Pires Lobato Correia.

Bons: Beatriz Lobato Correia, Maria da Conceição Passarinho e Belmiro Alves Vilela.

Do professor Adelino Dias Cassola, de Alcaravela

Óptimo: Augusto Serras

Bons: António Lopes, Francisco Santos Serras e Manuel Lopes

Ensino doméstico:

Óptimo: Adelina Conceição Grácio

Suficientes. Manuel Jorge e José Alves.

5 de Setembro de 1915

Exames de 2º Grau

Realizaram-se na penúltima semana no concelho de Sardoal, presididos pelo digno inspector do circulo Sr. José Piedade Correia

Alunos do professor Sr.Armando Dias Louro

Aprovados: Carlos Nunes Oliveira, Dioniso Milheiriço, Felicíssimo Mendonça, Francisco da Silva, Joaquim Salgueiro, José António, Primo Miguel do Nascimento, Sabino Batista Raposo, António Alves Reis e António Milho.

Do professor oficial Sr. Manuel Pires: Zeferino António.

Da professora oficial Sr.ª D. Clotilde da Costa Marçal:

Dalila da Silva Moleirinho, Isilda da Silva, Maria do Carmo Nascimento Falcão, Maria José Marques, Adelina da Conceição Grácio.

Andreus, da professora oficial D.Júlia de Brito Ribeiro, Aprovado: Francisco Martins Cascalheira.

Valhascos, do professor oficial Alfredo Macedo:

Aprovados: Francisco Lopes da Neta, José de Oliveira Esperto, Manuel Henriques, Manuel Morgado e Miguel da Silva Amaro.

Valhascos

O Povo de Valhascos, ficou deveras impressionado, quando no passado domingo viu nesta aldeia o Capitão Tavares, do Sardoal, e o Bispo de Viseu, um terrível inimigo da República, numa carruagem puxada por uma parelha de mulas, pertencente ao Estado.

Está muito bem. São os próprios oficiais do exército português que andam de braço dado com os maiores inimigos da República e vilegiaturando com eles puxados por uma parelha que pertence ao Estado.

Não mais voltaria a falar no caso se na segunda feira seguinte à publicação desta notícia, eu não tivesse conhecimento de que um aspirante de artilharia de nome Oscar Ribeiro de Freitas aparecesse todo zangado na redacção do mesmo jornal a exigir a minha morada, dizendo que, não estando na terra o Sr. Capitão Tavares desejava pedir-me explicações acerca de tal notícia.

Toda aquela semana me conservei munido de uma couraça de cortiça, sobre a camisola, receoso que o referido aspirante aparecesse subitamente com algum pau ferrado, a esburacar-me as costelas.

Afinal sempre escapei desta!... O homem não veio cá.

Coitado, pois... com que cara seria ele capaz de vir dizer-me que não estava na terra, o Sr. Capitão Tavares, ou que não tivesse ido aos Valhascos no dia 12 de Setembro...sendo este aspirante, o próprio que serviu de cocheiro na carruagem , aonde vilegiaturavam o Bispo de Viseu e o mesmo capitão Tavares, puxados por uma parelha de mulas de artilharia de Abrantes?

Para que se saiba, que a verdade é clara e que se impõe sempre mesmo, para que se arrepelam de ouvir: transcrevendo-lhe alguns trechos de uma carta recebida no dia 29 do passado, de um distinto e honrado cavalheiro do Sardoal.

È certo o capitão Tavares, ter ido a Valhascos, buscar o reaccionário Bispo de Viseu, chegando a esta vila, o referido oficial, o Bispo e um sobrinho (estudante) trazendo como cocheiro do carro que os conduzia, sendo uma parelha do Estado, o aspirante a Oficial que tem o nome de Oscar Ribeiro de Freitas...

Posso mesmo acrescentar que o Capitão Tavares servia de trintanário ou lacaio do Bispo (como queira) pois foi ele que abriu a porta do carro todo cheio de blandícias e ajudou o Bispo a descer, oferecendo-lhe a mão!...

O Sr. Freitas não procedeu bem, ora neste caso para que foi com tais disparates à redacção do Jornal de Abrantes fingindo ignorar o caso?

Valha-o Deus...

Bicas 12 de Outubro de 1915

18 de Maio de 1919

Ao Povo de Sardoal

Vilmente desrespeitado em noite de 13 do corrente quando com alguns amigos regressava no meu carro, de Valhascos, localidade onde havia ido agradecer a pessoas que me acompanharam nas eleições para deputados e em que fomos atacados e perseguidos a tiro por indivíduos que, certamente se julgam muito altos e que rastejam como o mais nojento verme na choça mais imunda, eu, venho aconselhar-vos que a melhor maneira é protestar contra tão repugnante processo de querer vencer, amedrontado, é, vir com a sua vontade própria, com a sua consciência para a urna e votar na lista daqueles que sempre se têm encaminhado para a ordem e trabalho.

Dr. José Gonçalves Caroço

Sardoal, 14 de Maio De 1919

JORNAL DE ABRANTES

29 de Agosto de 1920

Festas em Valhascos

Prometem ser muito concorridas as festas à Sr.ª da Graça, que como nos anos anteriores se realizam nesta aldeia em 8 e 9 de Setembro, e que constarão de festa de igreja com sermão e missa cantada, fogo de artificio, confeccionado pelos dois afamados pirotécnicos da localidade e arraial, abrilhantado pela Filarmónica Sardoalense.