Moinhos - II

Sobre os moinhos de vento de Entrevinhas transcreve-se uma referência publicada no livro “SISTEMAS PRIMITIVOS DE MOAGEM EM PORTUGAL – MOINHOS, AZENHAS E ATAFONAS – II MOINHOS DE VENTO”, da autoria dos Professores Jorge Dias, Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano, publicado em 1959, pelo Instituto de Alta Cultura – Centro de Estudos de Etnologia Peninsular:

“Como exemplo notável, de caracteres bem definidos e originais, que se pode incluir neste tipo geral, mas que mostra, para lá dele, uma cobertura insólita, descreveremos seguidamente em especial um moinho do Sardoal, do lugar de Entrevinhas. Este moinho é igual a outros três, já abandonados, que, com ele – único que ainda trabalha – formavam um grupo, no alto de um outeiro sobranceiro à povoação. A parede, de cerca de 4,50 m de altura, é de alvenaria miúda, e, apenas no alto, a face interior mostra um capeado tosco, de pedras maiores, formando rebordo, no qual estão abertos, nos sentidos horizontal e vertical, rasgos espaçados que servem de caixa aos tacos de madeira, sobre e contra os quais, devidamente ensebados, roda o frechal, travado apenas por uma ponte. A particularidade mais saliente dos moinhos desta região, que faz deles uma excepção única no país, está na sua cobertura: o capelo, montado sobre esse frechal, apresenta uma forma inédita, totalmente diferente da habitual: em vez do cone que se vê em todos os demais moinhos de vento, existe aqui uma cobertura a duas águas, que partem de um cume linear situado sobre o mastro, constituído por tábuas dispostas no sentido horizontal, de cutelo, em escama, que abaúlam para rematar no fechal redondo que lhe serve de base, alargando assim a meio, numa forma que lembra um barco de quilha para o ar. Essas tábuas são pregadas a barrotes paralelos lançados do fechal para o cume; e, entre os dois barrotes centrais de uma das águas, abre-se a janela, que serve de passagem para o telhado, para vistoria, e é aproveitada pelo moleiro como lugar de distracção. As águas pluviais correm deste telhado, em garnde parte para dentro do rebordo de pedra que forma o capeado atrás citado, e escorrem pelas paredes para o interior do moinho; aqui, como no moinho de Fortios, mas numa forma mais tosca, existem pequenas caleiras salientes da argamassa da parede, que conduzem essa água até ao rasgo da escada, por onde ela se escoa para o rés-do-chão.

Neste piso, encostados à parede, vêem-se os dois maciços rudes de pedra miúda e cal, deixando entre si um vazio coberto pela típica abóboda de tijolo; em cada um deles abre-se um buraco onde encaixa o urreiro (grama); e num, além desse, abre-se um outro orifício, vertical, por onde passa o aliviadouro (agulha). O pavimento do piso superior é de tijolo; mas à frente, na parte que corresponde à porta do moinho, ele é de soalho, com as pontas das tábuas removíveis, segundo a regra, para permitir a subida e descida das mós.

A rotação do capelo é, também segundo a regra deste sistema, dada por tracção à ponta do mastro (eixo). Os arganéis para prender o moinho são simples paus cravados na parede.

O maquinário motor interno não oferece nada de particular. Apenas a raposa, fixa à ponte, onde gira o veio de cima, é, contra esta, firmada por uma escora; mas já víramos este pormenor em alguns outros casos.

A moega, como nos moinhos de água da região, é munida do arrocho para regulação da quelha; mas tem além disso um dispositivo original para levantar o chamadouro (cadelo), formado por um cordão que a atravessa na parte superior, e passa por uma fenda que serve de fecho a um nó dado nesse cordão na altura precisa. O andamento irregular dos moinhos, em ocasiões de vento de rajadas bruscas, provoca por vezes um engasgamento do grão no olho da mó, sendo então conveniente suspender por um bocado a trepidação da quelha. Não vimos tal peça em qualquer outros moinhos, e ela parece-nos assim exclusiva desta região.

A construção bem concebida dos maciços que sustentam o sobrado e abrigam o urreiro e o aliviadouro, e os engenhosos acessórios da moega, contrastam neste moinho com a rudeza das paredes e imperfeição do telhado, e principalmente com o defeituoso sistema de escoamento das águas da chuva.”