6. Visita ao Sardoal de Sua Majestade o Rei D. Carlos

22 de Junho de 1907

Reflexos na Imprensa Regional da época


Jornal “ECHO DO TEJO” - 9 de Junho de 1907

CÂMARA DO SARDOAL

A Câmara Municipal deste Concelho deliberou na sessão de segunda-feira última representar a Sua Majestade El-Rei, contra a sua actual ditadura, pedindo respeitosa mas energicamente o restabelecimento das regalias constitucionais absolutamente necessárias ao engrandecimento da Pátria e sossego dos cidadãos.

Resolveu que fosse extraída cópia autêntica desta deliberação e que fosse enviada ao nosso amigo ilustre Sr. Conselheiro Manuel António Moreira Júnior, Ministro de Estado Honorário e Deputado por este Círculo, afim de Sua Exª. representar a Câmara, na audiência que vai ser pedida a El-Rei, juntamente com outras câmaras, para entrega de representações.

O procedimento da Câmara tem sido muito elogiado por todos os munícipes.


Jornal “ECHO DO TEJO” - 21 de Junho de 1907

Uma filarmónica do Sardoal abrilhantou em Abrantes, no Largo da Ferraria, a visita de El-Rei.


Jornal “ECHO DO TEJO” - 30 de Junho de 1907

CORRESPONDÊNCIA DO SARDOAL

A VISITA DE EL-REI AO SARDOAL - Sardoal, 22 de Junho de 1907

É impossível poder descrever-se a recepção que hoje nesta Vila foi feita a Sua Majestade El-Rei na visita que aqui se dignou fazer, acompanhado dos seus Ajudantes de Campo, Governador Civil do Distrito, Conde e Condessa de Alferrarede.

Só houve conhecimento da visita de El-Rei a esta Vila hoje de manhã, não havendo tempo das ruas por onde passava Sua Majestade serem melhor ornamentadas, o que não influiu para que El-Rei tivesse nesta pitoresca Vila uma manifestação imponentíssima, sendo muito aclamado pelo povo deste Concelho, não nos lembrando que aqui se tenha feito tão extraordinária recepção.

Se tivesse havido conhecimento desta visita régia dias antes, com certeza que a esta Vila atrairia não só povo do Concelho, como o das povoações circunvizinhas.

El-Rei e a sua comitiva chegaram aqui pelas 11 horas da manhã e foi recebido à entrada da Vila pela Câmara Municipal, Autoridades Eclesiásticas, diversos funcionários públicos e muito povo.

Logo que se avistou o seu automóvel, rompe a velha Filarmónica ( a dos Ciganos) com o Hino da Carta, subindo ao ar muitas girândolas de foguetes e El-Rei então desceu do seu automóvel e recebeu diversos cumprimentos.

Segue depois para a Praça desta Vila, aonde foi esperado pela nova Filarmónica ( a do Carapau). Em todo o percurso Sua Majestade foi muito aclamado com vivas a El-Rei, à Família Real e à Carta Constitucional.

Algumas crianças entre as quais Maria Carlota Matos Silva e Jacinto Neto Milheiriço, ofereceram a El-Rei lindos ramos de flores naturais e um pombo enfeitado com fitas de seda azul e branca, achando El-Rei muito simpáticas estas ofertas, agradecendo afectuosamente e beijando as crianças.

Sua Majestade é depois convidado a visitar os Paços do Concelho onde lhe é feita nova recepção, pelo que se lavrou no livro das actas da Câmara deste Município uma acta extraordinária, concluída nos seguintes termos:

SARDOAL, 22 DE JUNHO DE 1907

Recepção de Sua Majestade El-Rei D. Carlos, que hoje pelas 11 horas da manhã se dignou fazer uma rápida visita a esta Vila e Concelho de Sardoal.

O povo deste Concelho representado pelos vereadores do Município, pelos elementos civis e eclesiásticos, saúda o seu Rei que se dignou como prova de deferência e estima pelo seu povo, visitar-nos.

Em memória deste notável acontecimento se lavrou esta acta de recepção que Sua Majestade assinou e mais pessoas presentes.

Esta acta é lida pelo digno Presidente da Câmara Municipal, Sr. Padre António Joaquim da Silva Martins, que proferiu em seguida um pequeno discurso, cujo resumo é, mais ou menos, o seguinte:

Senhor! O povo deste Concelho surpreendido pela inesperada visita de Vossa Majestade, ufana-se deste acto memorável que não se acha registado em documento algum deste Concelho.

Por ter sido inesperada esta visita, não pode Vossa Majestade ser recebida mais condignamente, mas por esta expressiva e franca manifestação se mostra que o recebemos do fundo do coração com franca sinceridade.

Deus conserve Vossa Majestade por muitos anos para bem da Pátria e Povo Português, que se orgulha de empresas arriscadíssimas e gloriosas a que se tem abalançado para bem da Constituição.

Este discurso conciso e brilhante foi por vezes interrompido com muitos aplausos e o seu final foi coroado com palmas e repetidos vivas a Sua Majestade, Família Real e Carta Constitucional.

Em seguida retirou-se El-Rei da Sala dos Paços do Concelho, depois de ter assinado a acta e subiu para o seu automóvel, estando nesta ocasião as duas Filarmónicas, tocando o Hino Nacional.

El-Rei fez então as suas despedidas no meio de um entusiasmo delirante que este povo lhe manifestava, repetindo-se numerosos vivas, por milhares de pessoas.

Na manifestação a El-Rei na Praça do Comércio e na Sala das Sessões da Câmara estiveram representadas as escolas oficiais dos dois sexos com os seus alunos e pelos seus dignos Professores Srs. António Rodrigues e Maria Antónia Cardigos e Professora particular D. Maria Fortunata, assim como a Mesa da Santa Casa da Misericórdia e Irmandade do Santíssimo.

A ornamentação das ruas por onde passou El-Rei estava simples, visto não ter havido tempo para mais. No entanto viam-se muitas e lindas colchas pelas paredes e Paços do Concelho e bandeiras espalhadas pela Praça onde se viam pintadas num grande quadro as seguintes palavras: “O POVO DO SARDOAL SAÚDA EL-REI”

Em todo o trajecto foi lançada das janelas grande quantidade de flores.


A Câmara Municipal de Sardoal, à data da visita do Rei D. Carlos, tinha a seguinte constituição:

Presidente: António Joaquim Silva Martins (Padre)

Vice-Presidente: António Carvalho Tramela (Comerciante)

Vogais: Jacinto Dias Milheiriço (Farmacêutico)

Francisco da Silva (Comerciante)

Francisco Alves Ferreira (Padre)

Muito curiosas são, também, as referências à visita do Rei D. Carlos, que foram publicadas no jornal “O ABRANTES”, que se intitulava um «Jornal Democrático Independente», mas cuja linha editorial era visivelmente republicana:

“O ABRANTES” - 30 de Junho de 1907

“ECOS “ - Um discurso de truz

Foi proferido no Sardoal, no dia 22 do corrente, pelo Sr. José Alexandre, que teceu à monarquia o mais rasgado elogio, dizendo delas coisas tão brilhantes e tão espaventosas, que deixaram o próprio Monarca, como que estupefacto diante de tanta maravilha. Sem embargo do respeito que é devido às crenças de quem quer que seja, quando sinceras, afigura-se-nos que tal discurso terá concorrido para consolidar de vez os abalados alicerces do regime, cabendo ao Sardoal, na pessoa de um dos seus filhos mais dilectos, ilustres e inteligentes, a glória de semelhante feito.

Que assim seja. A História lá está para o registar.

A CÂMARA MUNICIPAL

Se não existisse seria preciso inventá-la, para glória do regime e das lusas gentes.

Vejamos os factos:

A Câmara Municipal, por intermédio de um seu Conselheiro Moreira Júnior, fez sentir ao Senhor D. Carlos, em termos de uma energia pouco vulgar em boca de monárquicos, dois dias antes de o Monarca visitar Abrantes, o seu protesto contra a actual ditadura.

Nos documentos entregues ao Monarca, sentia-se, embora vagamente, uma certa vermelhidão demagógica, saltitante aqui e ali de tropos mais ou menos revolucionários, que deram, momentaneamente, aos ilustres vereadores do Senado Sardoalense foros de «Robespierres» em camisa de cor.

Até aqui nada de extraordinário. Acompanhemos agora, em espírito, o Rei ao Sardoal.

O que vemos nós?

Esses mesmos vereadores esqueceram-se do seu protesto, ultrapassando em actos de subserviência monárquica, o que se podia ter feito num simples e respeitoso cumprimento, sem exageradas curvaturas de espinha e sem exteriorizações ridículas.

O que vemos mais?... Um protesto em pancas-morto às mãos dos próprios que geram num momento de bom humor e de sisuda ponderação sobre a marcha de negócios públicos.

Já que o mataram, enterram-no agora.

É uma obra de misericórdia.

«O ABRANTES» - 7 de Julho de 1907

«UM DISCURSO DE TRUZ»

Subordinado a esta mesma epígrafe, publicámos nesta secção no último número de «O ABRANTES», um inofensivo suelto, acerca de um discurso proferido no Sardoal, por ocasião da visita do Monarca àquela Vila, discurso esse que atribuímos ao Sr. José Alexandre, quando é certo ter sido proferido , de viva voz, por outro cavalheiro da mesma localidade.

Desfazendo esse erro, recebemos do Sr. José Alexandre a carta que segue e cuja publicidade nos é pedida.

Sr. A. Netto

Meu Amigo

As praxes parece que estabeleceram um princípio de cada um vir à imprensa esclarecer ou destruir boatos e notícias que lhe digam respeito.

Por motivo de um gracioso suelto de «O ABRANTES» de domingo último, aqui estou, importunando-o, curvado à pragmática das praxes.

Se os anos e a experiência da já cansada vida me não permitem a minha pieguice de encoloroar com a fina chalaça, antes a aprecio, o meu ânimo, quiçá o feitio, também não consentem engalanar-me com louros que não me pertencem.

Assim, venho agradecer-lhe a boa intenção economiástica, escrita no seu jornal sob a epígrafe «Um discurso de truz», discurso que me atribui, sendo de estranhar o erro de informação cometido por vizinho próximo da porta, quando por mais de longe não o praticaram...Equívoco de reportagem, sem dúvida.

Na notícia referida, escrita com pilhéria, em estilo ligeiro, facêto, há brilho e música no dizer do Eça...

Tem graça e não ofende, antes considera e enaltece... quem deve considerar e enaltecer.

Não me cabem, porém, os louvores.

De facto saudei, respeitoso, o Chefe do Estado, como entendo ser dever de todo o cidadão, seja qual for o credo das suas opiniões políticas, porque o Chefe do Estado representa acima de tudo, das nossas crenças, do nosso ideal político, o supremo funcionamento da nação dessa Pátria que todos nós temos o dever patriótico de amar, respeitar e servir.

Saudando-o, prestando-lhe as nossas homenagens, saudámos e respeitámos a Pátria.

Assim fiz, assim pratiquei, convicto de que cumpria um dever, sem me preocupar, naquele momento, com a ditadura do Sr. João Franco e com as possíveis consequências.

Pela publicação destas linhas, que agradeço, me assino com consideração.

Seu Amigo Att. Agrdº

José Alexandre

«O ABRANTES» - 7 de Julho de 1907

«ECOS» - Um discurso de truz (continuação) - Resposta do Sr. Aurélio Netto ao Sr. José Alexandre.

Agora diremos de nossa justiça.

Houve efectivamente um equívoco de reportagem que não lamentamos, visto ele não envolver desconsideração pessoal para quem quer que seja, nem ameaçar, sob qualquer aspecto porque o encaremos, a paz da Europa ou a estabilidade das constituições monárquicas.

Posto isto, que é proclamado sem modéstia, permitam-nos esta veleidade!!

Vamos dar, por dever de lealdade e ainda pela muita estima que nos merece o signatário da carta acima transcrita, ligeira justificação a este equívoco, esperançados que o nosso estilo, apesar do seu brilho e música(?) não incorrerá nas penas do inferno, nem no desagrado dos lusos mortais.

A nossa reportagem sobre a visita do Monarca ao Sardoal, coincidiu com uma outra:

A da passagem do ditador no Entroncamento. Havia da nossa parte o propósito deliberado de estabelecermos uma certa correlação entre um facto e outro. A razão a que a tal nos movia pertence ao foro íntimo da nossa consciência e isso nos dispensa de maiores desenvolvimentos sobre o assunto.

Ora no desempenho de tal tarefa, segundo os factos demonstram, trocámos apenas os nomes e nada mais.

Por pessoa fidedigna foi-nos comunicado que o nosso amigo, Sr. José Alexandre, aplaudiu entusiasticamente o franquista do VALE DA URRA (Aldeia da Beira-Baixa), no Entroncamento e que ao toast, depois de muito rogado, aquiescera a comer um pratinho de morangos em legítimo Madeira.

Por essa mesma pessoa que é um diplomata de truz e ilustre, foi-nos dito, também, que o Revº Padre Silva, dando largas à retórica economiástica do Município a que preside, pronunciara um discurso em honra do Rei, prestando à secular monarquia os protestos da sua vassalagem, ainda maior que o Colosso de Rodes.

Depois de obtermos esta informação o que fizemos nós?

Botámos asneira.

Pusemos o discurso do Sr. José Alexandre e os morangos, com açúcar e tudo, nos lábios do Revº Padre Silva.

Foi quasi uma heresia, bem sabemos, mas quem há aí, neste mundo de Cristo, que as calce e as não limpe?...

Perante a imunidade do delito, apresentamos as nossas desculpas.

Aurélio Netto

Ainda no mesmo jornal e no mesmo dia, sob o título “Estilo Sardoalense”:

O povo do Concelho do Sardoal, representado por vereadores do Município, pelos elementos civis e eclesiásticos, saúda o seu Rei, que se dignou como prova de deferência, estima que tem pelo seu povo, visitar-nos...

Deferência? Estima pelo seu povo?...

Vá Senhor Conselheiro, derrame duas lágrimas, que os homens borram-lhe a pintura...

Ele sempre há cada ingrato!...


No mesmo jornal, do dia 14 de Julho de 1907, vem descrito de forma humorística um episódio, com o título “O MONARQUISMO DE UM BARBEIRO”, cujo teor é o seguinte:

O episódio que vamos contar tem foros de autenticidade.

Passou-se no Sardoal, por ocasião da visita do Monarca àquela Vila.

Um barbeiro da terra, sentindo crepitar dentro de si o sagrado fogo de um monarquismo ainda isento de sombra do pecado, ergue um viva à Majestade e abeirando-se um pouco mais do automóvel real, brada como um possesso: Saiba, El-Rei, que já fiz a barba ao senhor seu mano! Se Vossa Magestade precisar, cá o Luiz também lha faz!

O Senhor D. Carlos, medindo o mestre esfola de alto a baixo, esboçou um sorriso prazenteiro, mas ele prosseguiu impávido no mesmo tom de voz:

-Se Vossa Majestade me arranjasse um emprego, eu, mais a minha mulher e os meus filhos, ficamos muito obrigados e reconhecidos!

El-Rei, sorrindo, sempre acrescentou:

-Vá ao Paço!..

Da Imprensa Nacional apenas conhecemos uma notícia publicada no Jornal “O SÉCULO” de 23 de Junho de 1907 que a seguir se transcreve:

SARDOAL - C. -Às onze horas da manhã chegaram em automóveis a esta Vila, El-Rei, O Senhor D. Carlos, o seu ajudante Sr. Figueiredo da Câmara, o Governador Civil do Distrito Dr. Cardoso de Meneses, os Senhores Condes de Alferrarede e Condes de Argos.

A visita para que muito concorreu o Sr. Conde de Alferrarede, que a esta Vila vota muita simpatia e consideração deu causa a uma imponentes entusiástica manifestação ao régio visitante.

Só hoje de manhã houve notícia oficial, confirmando a visita de El-Rei.

As escolas dos dois sexos, a Câmara Municipal, a autoridade administrativa, todos os funcionários públicos, os principais homens desta Vila, comerciantes, artistas, jornaleiros, todos, enfim, aclamaram, na praça fronteira ao edifício municipal, El-Rei e a Família Real.

Duas bandas de música executaram o Hino da Carta.

El-Rei subiu aos Paços do Concelho e na Sala das Sessões recebeu as apresentações e os cumprimentos. O Sr. Presidente da Câmara Revº Silva Martins, numa breve mas eloquente alocução, deu a El-Rei as boas-vindas, exprimindo de uma forma elevada quanto o povo deste Concelho se sentia ufano e grato pela honra que lhe foi conferida. Para comemorar a visita de El-Rei lavrou-se a acta, que Sua Majestade assinou, bem como todos os presentes. Tanto na Sala das sessões, como na Praça, as aclamações a El-Rei e à Família Real, revestiram uma imponência extraordinária, continuando até que os automóveis se perderam de vista.


BREVE ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

Em 1901 dá-se uma cisão interna no Partido Regenerador, com a saída de João Franco e de cerca de 30 deputados, os quais em 1903 formaram o Centro Regenerador Liberal, novo partido liderado por João Franco. Também no Partido Progressista aconteceu em 1905 uma dissidência liderada por José Alpoim, Ministro da Justiça no governo presidido por José Luciano.

Em Maio de 1906 deu-se a demissão do último Ministério regenerador, presidido por Hintze Ribeiro, «O Ministério dos 58 dias», tantos quanto durou.

João Franco foi incumbido de formar governo, com um projecto anunciado como «tolerante e liberal» e em que se prometia a revogação da Lei de 13 de Fevereiro.

Acreditando que podia ultrapassar pela esquerda o movimento republicano, procede a uma profunda transformação do Estado e realizando reformas sociais de interesse operário que lhe atraíam o voto das camadas trabalhadoras. Anunciando que queria “caçar no mesmo terreno dos republicanos” levou a que estes percebessem que o Franquismo representava um perigo para o seu partido, mobilizando todos os esforços para derrubar o Ministério, com a acção enérgica e notável dos deputados republicanos António José de Almeida e Afonso Costa e grandes manifestações de rua, como o funeral de Heliodoro Salgado e uma greve académica que começou em Coimbra e rapidamente se estendeu a todo o País, incluindo os alunos das escolas secundárias. O governo mandou encerrar as Câmaras, dissolvendo o Parlamento. Iniciava-se a ditadura de João Franco, que provocou um enérgico movimento de repúdio e contestação, com violentas manifestações de rua, em que a Carbonária teve um papel relevante, severamente reprimido pelas forças policiais. A revolução republicana tomava corpo e os seus dirigentes foram presos (Afonso Costa, Egas Moniz, António José de Almeida, João Chagas, França Borges, etc.) e o governo preparou um decreto que autorizava a sua expulsão do País ou o seu degredo para as Colónias, que D. Carlos assinou, em Vila Viçosa, em 31 de Janeiro de 1908.

No dia seguinte, ao desembarcar em Lisboa coma Família Real, no momento em que ia a entrar na Rua do Arsenal, um popular aproximou-se e desfechou dois tiros que o mataram instantaneamente. Outro atirador alvejou o Príncipe D. Luís Filipe, atingindo-o, também, mortalmente. O Infante D.Manuel recebeu ferimento ligeiro. Consumava-se o Regicídio, que ocorreu num momento estratégico importante. Com o fracaso da tentativa de 28 de Janeiro, a fuga de José Alpoim e a prisão de todos os chefes republicanos, parecia que aquilo que se chamou “o Franquismo” e que traduzia o pensamento político de D. Carlos, iria triunfar. No entanto, morto D. Carlos, João Franco desapareceu da cena política. Formou-se então um governo de coligação entre o Partido Regenerador e o Partido Progressista, presidido por uma personalidade independente. Para presidir a este Ministério foi escolhido o Almirante Ferreira do Amaral, com grande folha de serviços, que tinha abertas as portas do Paço, mas que dispunha de amigos entre os Republicanos.

Entre o sector republicano, também se fizeram sentir e muito as consequências do Regicídio. O acto partira da Carbonária, sociedade secreta republicana, não aceite pelo Directório do Partido, que no entanto, ficou claro, prestou um serviço à causa republicana, ao decidir a morte do Rei. Logo após o Regicídio, a Carbonária deixa de ser um pequeno movimento clandestino e terrorista e torna-se o grande motor popular da revolução e segundo o seu chefe, Luz de Almeida, no Outono de 1909, atingia 3 400 membros, disseminados por todo o País, tendo conseguido a adesão de figuras importantes como o Engenheiro António Maria da Silva e o Comissário Naval Machado dos Santos, contando com o apoio do Contra-Almirante Cândido dos Reis.

Em Abril de 1908, realizaram-se eleições de que resultou a quase completa desagregação do bloco franquista. Os antigos partidos recuperavam, no conjunto a posição maioritária, mas nenhum deles tinha a maioria absoluta. Ainda em 1908 os Regeneradores retiram a confiança política ao gabinete de Ferreira do Amaral, provocando a queda desse Ministério. Sucedem-se vários Ministérios: Campos Henriques (25 de Dezembro de 1908), Sousa Teles (1 de Abril de 1909), Venceslau Lima (14 de Maio de 1909), Veiga Beirão (22 de Dezembro de 1909) e Teixeira de Sousa (26 de Junho de 1910), indicando as datas referidas o início das suas funções.

A linha geral destes governos foi a prática de uma política liberal, anticlerical, condescendente perante as oposições.

A 5 de Outubro de 1910, caía a Monarquia e nascia a República.