Cónego António Joaquim da Silva Martins

Nasceu em Entrevinhas, freguesia de Sardoal, em 15 de Março de 1868, filho de Joaquim da Silva e de Maria Lourenço Martins. Fez os estudos primários na Escola da Presa, tendo como professor Francisco Martins Pimenta. Fez os estudos teológicos no Seminário de São Bernardo de Portalegre, onde foi admitido em 29/09/1885. Recebeu todas as Ordens das mãos do Arcebispo-Bispo de Portalegre D.Gaudêncio José Pereira: a Ordem do Diaconado, em 05/04/1890 e o Presbiterado a 20/09/1890. Habilitado com Património, por sentença de 22 de Março de 1890, é aprovado e classificado em 1º lugar no Concurso por Provas Públicas para provimento da Igreja Paroquial de Nossa Senhora das Neves, de Flor da Rosa, em 15 e 16 de Abril de 1891, de que não chegou a tomar posse. Foi apresentado na Igreja Paroquial de São Silvestre do Souto, por decreto de 03/12/1896 e colado em 30/0371897. Tomou posse em 18 de Abril de 1897 e aí paroquiou até 12 de Dezembro de 1901, acumulando a Paróquia da Aldeia do Mato, desde 22/09/1897, até 12/12/1897. Apresentado na Igreja Paroquial de São Tiago e São Mateus do Sardoal por decreto de 27/09/1901 e colado em 22/11/1901. Tomou posse a 02/01/1902 e no Sardoal permaneceu até ser transferido para a Paróquia de S.Vicente de Abrantes, sendo nomeado Arcipreste desta cidade por despacho de 22/02/1927, permanecendo nessa função até ao seu falecimento, que ocorreu na sua casa no Sardoal, em 25/12/1943.

No Sardoal criou no ano de 1919 o “PATRONATO INFANTIL” e a “ASSISTÊNCIA AOS INVÁLIDOS”. Em 1921, promove a reconstrução da Torre da Matriz, demolida no dia 13 de Janeiro de 1921, por uma faísca.

Em Abrantes foi um dos grandes impulsionadores da criação do Colégio de Nossa Senhora deFátima e promoveu a construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, de Alferrarede.

Enquanto permaneceu no Sardoal teve uma intensa actividade política, sendo por diversas vezes Presidente da Junta de Paróquia e da Câmara Municipal.

Por ocasião do seu falecimento foi publicado no jornal “O Distrito de Portalegre”, o seguinte artigo, da autoria do Padre Dr. João Milheiro de Carvalho, do seu Arciprestado:

Cónego Silva Martis - NAQUELE TEMPO HAVIA GIGANTES

“Era este o pensamento que me ocorria sempe que tinha de encontrar-me com a personalidade forte e bem marcada do Cónego Silva Martins. Conheci-o quando a minha inexperiência, ferida do trato com os homens, atravessava horas de crise.

Tinha sonhado outra coisa, diferente o meu conceito de vida.

Foi então que o encontrei bem de frente.

Não lhe eram favoráveis as minhas impressões e todos sabem como o seu aspecto era avesso a simpatias, na primeira hora.

Não obstante, o Cónego Silva Martins impusera-se, estava feita a conquista.

Quais foram as determinantes dela?

Surpreendi nele, desde logo, o homem superior, pairando acima de toda a vulgaridade. Da maior parte, será conhecida a sua inteligência penetrante, a sua memória vastíssima e tenaz, a facilidade de elocução, a comunicar-se numa riqueza verbal correspondente à riqueza do seu pensamento, o seu desprendimento e pobreza do seu viver.

Não será tão conhecida a riqueza da sua fé.

Numa época que chamaram já de “lides refrigescens”, fé enlanguecida, fazia bem à alma ver perpassar na sua conversa, descobrir nas suas atitudes, fé da que ilumina, que torna inútil sob vários aspectos, toda a apologética. Quantas vezes saí da sua presença mais contente de ter seguido o Senhor, de me ter dado à Igreja, resolvido a servi-la, apesar de tudo, com o entusiasmo do primeiro dia! A sua fé nada tinha de aparências, era qualquer coisa de amassado à carne e ao sangue e, por isso, conseguiu fazer sensação, iluminar-me interiormente tanta vez! Fica assim explicada a forma por que tratava os homens e os problemas. Uns e outros mereciam atenção particular, sabendo fugir à onda corrente das soluções em série.

A visão larga do seu espírito facilitava o trabalho dos sacerdotes do seu arciprestado. Era encantador vê-lo, entre eles - quási todos ordenados há poucos anos - de espírito moço, sorridente, a aceitar-lhes as ideias e a comunicar-lhes as lições dos anos dos homens e da vida, sem fazer gelar a ânsia de renovação e sacrificando de bom grado, os resultados imediatos, quando as circunstâncias aconselhavam a esperar.

Amava-os e, por isso, compreendia-os.

Homem como era, não é de admirar se porventura tiver errado.

Certo é, porém, que temia ser injusto, angustiava-o essa possibilidade, e com sacrifício bem pesado, às vezes, tomava lealmente atitudes ditadas pela consciência, impostas pelo amor à Igreja que, escrupulosamente, serviu.

Possa o seu exemplo de padre verdadeiramente apostólico, atrair à prática das mesmas verdades os sacerdotes da diocese, alcance a sua oração junto de Deus o que em vida tanto zelou.

E voltará a haver gigantes.