5. Tabernas e Outros Locais de "Culto Copofónico e Gastronómico"

Falarei, agora, das tabernas, locais de copos e petiscos, hoje quase extintas, na Vila e no Concelho de Sardoal, podendo contar-se pelos dedos as que sobrevivem na actualidade.

Para o efeito socorro-me de um trabalho elaborado por mim e pelo Mário Jorge de Sousa, publicado no Boletim Cultural “ATRIUM” n.º 15, em Outubro de 1989, do GETAS - Centro Cultural de Sardoal, com o título:

memórias recentes

AS TASCAS

JÁ SE

FECHARAM

(e outras anotações curiosas)

É verdade. Lá diz o fado que “as tascas já se fecharam”. Na letra do fadista, queria isto significar a fronteira da noite, com a boémia do espírito e do corpo.

Na realidade social, a expressão ganhou inesperadamente o sentido profético dum destino que se cumpre. Das milhentas tascas existentes no Sardoal, em princípio e meados deste século, quase todas ficaram pelo caminho, esmagadas pela evolução da vida.

Hoje, apenas uma ou duas parecem ser o baluarte dum passado não muito distante e, mesmo assim, algo descaracterizadas. Depois vieram os “Cafés” e, recentemente, até abriu um “pub”, ou seja, um pequeno bar, de funcionamento moderno, com referências importadas do estrangeiro.

Disto tudo se faz História. Nós aqui no “ATRIUM” procurámos compilar algumas anotações curiosas, onde se fala destas coisas.

Por definição “TABERNA” é uma loja ou lugar onde se vende vinho a retalho. Tem como sinónimos, entre outros, bodega, tasca, baiuca, etc. Pode significar, também, casa de pasto reles e ordinária ou casa imunda e desordenada.

As tabernas de que vamos tratar neste trabalho são aquelas que têm a ver com a venda de vinho a retalho e em especial as que existiram no Sardoal.

Chegaram a ser duas dezenas ou perto disso e da recolha que fizemos (tão exaustiva quanto possível), devem ter co-existido nos anos 40-50 deste século as seguintes: Joaquim Grácio (perto do Ensaio), Felismina Mendonça (Choupa), Luísa Aguda e Joaquim Chambel (estas na Rua Simões Baião, actual Rua Gil Vicente), Joaquim Grácio (Pailó), na Rua Vasco Homem, Francisco Ramos e David (Pão Grande), junto ao Mercado Diário, Miguel do Honório (junto ao Espírito Santo), Miguel Martins, João Lourenço Bandeira, Aparício e Francisco Dias, na Rua Bivar Salgado, “Vila”, António Rei, Francisco Grácio (Chico da Rabaneta) e Avelina, na Rua Dr. David Serras Pereira e a Fádina (Taberna Seca) junto ao antigo colégio. Houve ainda a Camareira, numa casa já demolida, pegada com a casa “Pires Coelho”, na Rua Cónego Silva Martins.

Deve referir-se, ainda, que para além das tabernas, em quase todos os estabelecimentos que tinham mercearia havia um cantinho com um lavatório em pedra e uma prateleira com meia dúzia de copos, onde esporadicamente se vendiam alguns copos de vinho, em especial para celebrar negócios ou pagamentos vultuosos do “rol”. Estavam neste caso a loja do Sr. Antunes, do Sr. António Miguel e do Sr. Francisco Santos, pelo menos.

As tabernas, como o comércio em geral, tinham na época que referimos, ao domingo e pelos mercados e feiras ou quando estava a chover durante vários dias.

Ao domingo, porque a população das aldeias vinha à Vila para assistir à Missa (fosse da Almas, ou do Meio-Dia) e aproveitava para fazer compras, arranjar “patrão” para a semana seguinte e receber a “féria” ou “jorna” da semana anterior. Compravam também sardinhas, que se vendiam em grande quantidade na Rua Dr. David Serras Pereira, no local onde hoje é a Praça Nova e mesmo com esta já construída, dizendo-se, até, que uma das tílias secou nessa altura, por efeito do sal que sobrava dos caixotes, que era despejado junto dessa tília.

Há anos atrás, a Rua Simões Baião, recentemente rebaptizada de Rua Gil Vicente, quando já foi Rua Direita e Rua do Comércio, era o principal núcleo comercial da Vila. Ainda na Praça tinha a alfaiataria do Sr. António Alves da Silva (Pardal), depois, do mesmo lado a Loja do Antunes, do outro lado um sapateiro (o Santinho), a Taberna do Chambel, a Luísa Aguda, a Choupa e uma latoaria. Havia ainda outra alfaiataria e já próximo da Igreja a Casa Paulino, com fábrica de malas, serração de madeiras, bicicletas e acessórios.

Regista-se, ainda, que por essa época co-existiram no Sardoal pelo menos quatro latoeiros, três alfaiates, três barbeiros, três casas de solas e cabedais, dez estabelecimentos de comércio diversificado que vendiam mercearias, louça, tecidos, etc., cinco ou seis sapateiros, uma casa de mobílias (chegaram a ser três ou quatro) que era de Manuel dos Santos Pinto e se situava onde era a “Casa Casado”, dois ou três salsicheiros, para além de sete ou oito malarias (Carlos Grácio, Luís Paulino, Fábrica Reis & Simples, Manuel Falcão, José Marques, Francisco Santos, Manuel dos Santos Pinto e Abílio Gomes) com a curiosidade de as ferragens serem fabricadas no Sardoal, com cunhos e cortantes feitos pelos Srs. Henrique Ribeiro (Cangalhadas) e Guilherme António (Vila).

O transporte dessas malas significava, quase só por si, a ocupação de três ou quatro carroceiros, que transportavam as malas para despacho na estação dos caminhos-de-ferro, em Alferrarede, trazendo de volta outras encomendas, quer da estação, quer do comércio de Alferrarede. Eram eles o Sr. Gilberto Ribeiro (Mula Branca), Joaquim Alpalhão, Manuel Grácio e às vezes o Nobre.

Julgamos que o primeiro táxi que houve no Sardoal, terá sido o do Sr. Manuel Pombo ou o do Sr. Joaquim Salgueiro (Bruxeiro, ou Santa Paz do Senhor), seguindo-se o dos Paulinos e o Sabino Raposo.

Por volta de 1940 existiam no Sardoal três farmácias: a de Pedro Barneto Nogueira, junto à Matriz, a de Francisco Dionísio (criador da famosa pomada “Dionisina” , no local onde depois foi a Relojoaria do Parente e a de Rafael Alves Passarinho, na Rua 5 de Outubro. No princípio do século existia, pelo menos, mais uma que era a do Dr. Henrique Aires Mora.

No entanto a principal ocupação de mão-de-obra era ainda na agricultura, existindo algumas boas casas agrícolas, como era o caso do Sr. Lúcio Serras Pereira, António Lopes Inês, Dr. Anacleto de Matos Silva, Joaquim Grácio, António Filipe de Andrade (António Largo), Casa Salgado, Pedro Barneto Nogueira, António Lopes Rei, Dr. Fernandes Agudo, a Família Tramela, João Pereira dos Santos (João d’Alvega), a Viscondessa, D. Carlota, para citar só alguns casos, devendo referir-se ainda as Quintas do Constâncio, do Coro, das Madalenas, das Gaias, o Telheiro, etc., que no seu conjunto empregavam dezenas, senão, centenas de pessoas nas suas propriedades.

Salienta-se, ainda, a existência de dois ou três ferreiros e/ou serralheiros e dois ferradores, para além de quatro ou cinco padarias e de um número considerável de pedreiros e carpinteiros.

Os dias de chuva eram, em resultado do elevado índice de ocupação de mão-de-obra na agricultura, dias de grande movimento para as tabernas, já que os homens, por não terem que fazer, passavam ali os dias, sendo frequente chegarem ao fim do dia com um “grãozinho na asa” ou completamente embriagados, já que o elevado consumo de vinho lhes retirava o apetite, o que conjugado com a já deficiente alimentação, à base de hortaliças, batatas, feijão, grão, carne de porco (pouca) e sardinhas (chegando uma sardinha a ser repartida por três pessoas), provocava um elevado índice de doenças do foro gastrointestinal e pulmonar.

As tabernas abriam antes do nascer do sol, já que os trabalhadores rurais trabalhavam, então, de sol a sol e antes de irem para o campo alguns passavam pela tasca a “a matar o bicho” havendo patrões que forneciam bebida para esse fim.

“Matar o bicho”, era quase uma cerimónia e consistia em beber um bom trago de aguardente ou abafado, ainda em jejum ou quase.

Era, aliás, curiosa a linguagem utilizada para definir o volume dos copos utilizados para o vinho, desde o”copo de três”, definido pelo preço de três tostões, “a metade” ou “copo de duzentas”, que era um copo que levava um quarto de litro.

A bebida mais consumida era o vinho, seguido pela aguardente que tanto era utilizada como “mata - bicho”, pela manhã cedo ou como “sossega”, para fechar o dia ou, com mais propriedade, a noite.

Havia um taberneiro, o Sr. Joaquim Chambel, que defendia os copos de pequena capacidade, com uma frase que ficou famosa:

“Pequeninos, mas... bastinhos!”

Para além do vinho e da aguardente, eram também consumidas bebidas como “a ginja”, “o eduardinho”, “o anis” e para os mais novos existiam à venda refrescos feitos com água, xarope de limão, groselha ou capilé. Nas tabernas vendia-se tabaco em onça e os livros de papel, “mata - ratos” (cigarros avulso) e em maços, os “Definitivos”, “Provisórios” e “Português Suave” e depois “Lusos”, “Paris”, “20-20-20-Três vintes” e “Hi-Life” e só muito depois os cigarros com filtro de que uma das primeiras marcas deve ter sido o “Porto”.

Todas as tascas vendiam fósforos e pedra de isqueiro e algumas vendiam, também, petróleo e carvão.

Já nos anos cinquenta começam a aparecer os cafés.

Primeiro o “CAFÉ PROGRESSO”, do Sr. António Jorge (Jorginho do Café) e o “CAFÉ SARDOALENSE”, do Sr. Pina, depois o “CAFÉ DO SÁ”, hoje “CAFÉ DIAS” e o”CAFÉ S.J OSÉ” ou do “PERNÍCULA”, os dois últimos já nos anos sessenta e um outro que funcionou pouco tempo, na Rua Dr. David Serras Pereira, do Sr. Júlio Nunes Grácio (Júlio da Farmácia).

Com o aparecimento dos Cafés e com o envelhecimento dos taberneiros, as tascas começaram a fechar. Hoje existe um único sobrevivente, o Sr. Gilberto Ribeiro (Mula Branca), junto à Praça Nova, sendo que a sua idade leva-me a pensar que dentro de pouco tempo estarão extintas no Sardoal. Só na Rua Dr. David Serras Pereira co-existiam a Loja do Bento, de Bento Lopes Rei, o Sr. António Baptista, alfaiataria e mercearia, a Loja do Garcia, de José Rodrigues Garcia, a Taberna do Vila, a Loja do Joaquim da Sola, de Joaquim Dias Serras, a Taberna do Rei, também com mercearia e padaria, a Taberna do Chico da Rabaneta, a Taberna da Avelina, a oficina do sapateiro António Moleirinho e o Adriano das Máquinas de Costura, o Sr. Adriano de Matos, residente em Entrevinhas.

Por tudo isto, este trabalho é uma homenagem aos taberneiros, em particular, e aos comerciantes, em geral, na pessoa do Sr. Gilberto Ribeiro (Mula Branca) que tornamos extensiva, sem embargo de a Taberna do Rei ter perdido as suas características de taberna, à “Ti Eugénia”, que há quase 50 anos ali exerce a sua actividade e que, apesar da modernização, manteve alguma da sua clientela tradicional de taberna, que de forma quase afectiva ainda ali vão beber um “copo de três” ou de “duzentas”, lado a lado com os mais jovens que preferem a bica ou a cerveja.

Luís Manuel Gonçalves

BREVE TENTATIVA

DE ENQUADRAMENTO SOCIOLÓGICO

DAS TASCAS NO SARDOAL

EXPLICAÇÃO

Estas memórias não são muito antigas. Têm, quanto muito, cerca de trinta/quarenta anos, como já atrás se disse, o que na mancha do tempo é um grão de trigo numa imensa seara.

Pretende-se, com a sua divulgação, registar sumariamente alguns factos curiosos que ajudem as diferentes gerações a entender melhor a vida colectiva do Sardoal, num período determinado.

Porque a História de uma localidade não é propriedade exclusiva de mitológicos personagens reais, de decisões político/administrativas, cleros e fidalguias, mas sim - também - da vivência anónima das pessoas, no seu quotidiano de comportamentos, a que se poderá chamar, talvez, “arqueologia social”.

E VAMOS AO QUE INTERESSA...

Tentando fazer um enquadramento sociocultural das tabernas, convém lembrar que em tempos idos não havia televisão. Quando ela foi introduzida em Portugal, apenas alguns (poucos) aparelhos chegaram ao Sardoal, pertença de famílias abastadas e de um ou dois “cafés”. O primeiro televisor “público” da Vila foi adquirido pelo “CAFÉ PROGRESSO”, de António Jorge, por volta de 1957.

Posteriormente, o “CAFÉ SARDOALENSE”, na altura conhecido por “CAFÉ DO PINA”, propriedade de Lúcio Grácio (Lúcio Carteiro), viria igualmente a ser dotado de uma dessas máquinas revolucionárias. Anos depois, então Centro de Recreio Popular, colocou um receptor à disposição dos sócios, na sua sede da Rua Simões Baião (hoje Gil Vicente), e ainda na década de 60, o “SÁ DOS FRANGOS” ou “CAFÉ DO SÁ”, de José Jorge Pereira de Sá, abriu as suas portas, equipado com uma dessas “caixinhas de imagens”.

Os “Cafés” funcionavam, então, como autênticas salas de espectáculo, mercê dessa inovação tecnológica.

Aos sábados à noite e aos domingos à tarde era a romaria generalizada de famílias e vizinhanças para assistirem aos programas recreativos, a troco de “uma despesa” em bicas e pastéis de nata. A “gentalha miúda” aparecia em tão grande número, que alguns proprietários desses estabelecimentos eram obrigados a severa selecção, deixando permanecer no local apenas aqueles que mostravam as respectivas moedas para adquirirem um refrigerante, amendoins ou os tradicionais “cinco tostões” de rebuçados.

Os outros eram “postos na rua”, ficando à porta, de semblante triste ou revoltado, olhando com inveja os eleitos da sorte.

Festivais da Canção, transmissões de Fátima, discursos políticos importantes e, sobretudo, jogos de futebol em directo, enchiam esses locais “pelas costuras”. Ainda hoje muitos se recordam das pequenas multidões que se juntavam à porta do “CAFÉ PROGRESSO”. Sem lugar no seu interior, as pessoas iam-se amontoando da entrada até ao meio da rua, espreitando em bicos de pés, para o canto onde o receptor estava instalado.

A TELEVISÃO

Aliás, o aparecimento da televisão no nosso País, introduziu novos hábitos, comportamentos e posturas sociais, fez esbater características regionalistas e foi o grande responsável pela “standartização” (uniformização) de diversos valores culturais importantes, designadamente o linguarejar, o vestuário tradicional e o artesanato. Como é óbvio, o Sardoal não escapou a essa mudança, mas isso já é conversa para outra altura.

A RÁDIO

Antes da TV, havia a Rádio, como grande mediador comucacional. Mesmo assim as telefonias existentes no Sardoal não eram tantas como isso. Para suprir essa lacuna, a própria Câmara Municipal, instalou um sistema de amplificação sonora, com dois gigantescos altifalantes colocados em prédios, um na Praça da República, onde hoje funciona a “Loja da Isilda”, na altura a “Loja do António Miguel” e outro na Fonte da Preta, no prédio onde funcionava a “Taberna do Bandeira”. Daí, eram retransmitidos os relatos de futebol, da então Emissora Nacional e se divulgavam diversas informações úteis, entre as quais, por exemplo, os títulos a exibir no Cine-Teatro Gil Vicente.

“É O VINHO!”

Por outro lado, a repressão fascista era um facto, não havia divertimentos, o livre associativismo era desmobilizado, a instrução registava índices muito baixos, as redes viárias eram péssimas. A desigualdade era uma pedra basilar do sistema político.

Neste contexto, culturalmente isolado, as tascas eram a única quebra à rotina do então grande número de trabalhadores rurais e empregados de serrações e malarias para quem os “Cafés”, quando do seu aparecimento, já pertenciam à realidade de uma nova ordem social.

Mas as tabernas uma instituição popular que já existia muitos anos antes. A tasca era um refúgio, por excelência. Ali se comiam frugais petiscos, se bebia vinho, se jogava às cartas e ao dominó, se descansava as costas e os braços e se faziam contas à vida, deixando no álcool o preço da nostalgia e frustrações. Tudo isto iluminado por velas ou candeias (depois “petromax’s”) em tanoeiros cenários com mobílias de madeira encardida.

De quando em quando, uma zaragata e, refere o senso comum que a taberna era, muitas vezes, o prelúdio ou o fim, para arrear uma sova na mulher ou nos filhos. Mas tudo estava preparado para desculpar o infractor:”Não é ele, é o vinho!...”

Os frequentadores das tascas, eram, em geral, homens rudes, mesmo quando jovens, precocemente envelhecidos pela dureza do trabalho, debilitados pelas más condições de alimentação e salubridade habitacional, a que se juntavam os factores sociais atrás enunciados. Daí, ser abusivo dizer que as tascas eram fontes geradoras de conflitos emocionais. Quando muito, as tascas eram, tão só, o palco plausível para manifestações de recalcamentos adquiridos ao longo de uma vida servilista e sem esperanças de futuro melhor. Às vezes formavam-se pequenos grupos para jogar ao “belho” ou ao “burro” e, alguns anos mais tarde, com o benefício da electrificação, para ouvirem os relatos de futebol, em arcaicos aparelhos de válvulas.

Embora quase todas as tascas abrissem de madrugada, para servir o “mata-bicho” aos homens que iniciavam que iniciavam a laboração, era à noite (cerca das 22 horas) que elas registavam mais frequência e animação.

Um sardoalense, Fernando Val do Rio Grácio, chegou a escrever, nos anos 60/70, uma letra que foi popularizada como o “Fado do Sardoal”. Começava assim: “As tascas já se fecharam”. E prosseguia: “As luzes já se apagaram/ e há reunião da malta/ há viola e há guitarra/ adegas prontas para a farra/gente castiça não falta”.

Esta visão, algo romântica da noite sardoalense, deverá apenas circunscrever-se a uma certa (embora, por vezes, numerosa) tertúlia de “boémios” locais, grande parte, proprietários agrícolas, estudantes e jovens quadros. No entanto, esta alusão às tascas, reflecte um pouco a ideia de que o encerramento desses locais determinava o fim de um ciclo diário da vida activa da localidade.

As tascas eram, igualmente, responsáveis pela criação de um certo código de linguagem. As “duzentas”, significavam um copo de 2 decilitros e as “trezentas”, um decilitro acima.

Não era prática corrente das tabernas terem uma designação comercial. Elas eram, vulgarmente, conhecidas pelos nomes ou alcunhas dos seus proprietários.

Mário Jorge de Sousa

ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS DO CONCELHO DE SARDOAL (1930/1940)

Extracto da Acta da Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Sardoal, de 19 de Fevereiro de 1931.

ALVARÁS SANITÁRIOS: Foram lidos os seguintes requerimentos, pedindo alvará sanitário nos termos da Portaria nº 6065, de 3 de Março de 1929:

De António Martins de Oliveira, para exploração da sua taberna na Rua Simões Baião, nesta Vila. De Carlota de Jesus, idem, idem. De David de Oliveira, idem, idem. De André dos Santos, para exploração da sua taberna na Rua dos Quinchosos, desta Vila. De Miguel da Silva, para sua taberna sita na Praça da República. De Maria do Carmo, para sua taberna na Rua de Santa Catarina. De António Luís Novo, idem, idem. De Francisco Lopes Rei, para sua taberna na Rua do Chafariz da Murteira. De Francisco António, idem, idem. De Luísa Agudo, idem, idem. De José Mendes, idem, na Praça Máximo Serrão. De Miguel Martins Reis, idem, na Rua do Chafariz da Murteira. De Joaquina da Conceição, idem, na mesma rua. De Francisco António dos Santos, para uma taberna na Rua Máximo Serrão. De Guilhermina Rosa, idem, na Rua do Chafariz da Murteira. De Joaquim Grácio para exploração de uma taberna e hospedaria, na Rua Vasco Homem. De António Delgado, para explorar uma salsicharia no Chão da Garcia. De António Lobato, para montar e explorar uma taberna na povoação de Panascos, freguesia de Alcaravela. De Manuel Lopes, idem, em Panascos, na mesma freguesia. De João Lopes Hespanhol para uma taberna no Monte Cimeiro, freguesia de Alcaravela. De Daniel Lopes, idem, sita na Presa. De Manuel Dias, idem, na mesma aldeia. De José Catarino, para uma taberna em Mivaqueiro, freguesia de Santiago de Montalegre. De José Pereira, idem, idem, De José Gaspar, para sua taberna, sita em S. Domingos, freguesia de Santiago de Montalegre. De Francisco Serras, para sua taberna na mesma povoação. De Manuel Dias, para sua taberna em Entrevinhas, freguesia de Sardoal. De Manuel Lopes Rei, idem, na mesma povoação. De Genoveva Carlota, para sua taberna na aldeia de Valhascos. De Manuel Antunes Júnior, idem, na mesma povoação. De António da Cunha, idem, na mesma povoação. De José de Oliveira Esperto, idem, na mesma povoação. De Nicolau Lourenço, idem, na mesma povoação. De António da Cunha Júnior, para sua taberna na povoação de Cabeça das Mós. De Bento Pimenta, idem, idem. De Manuel Pimenta, idem, idem. De Joaquim Mestre, para sua taberna, sita na povoação de Andreus. De Joaquim Luís Salgueiro, idem, na mesma povoação. De Miguel Lobato Correia, idem, idem. De Rodrigo Alves Milho, idem, idem.

Ao todo 41 requerimentos.

Na mesma sessão foi presente um requerimento assinado por 11 comerciantes desta Vila – alegando que os seus estabelecimentos só vendiam fazendas e mercearias, exclusivamente, e pedem para que o critério a seguir no cumprimento da Portaria 6065, de 30 de Março de 1929 referente a alvarás, seja idêntico ao seguido no vizinho concelho de Abrantes, onde só hotéis e talhos são obrigados a possuírem o dito alvará. Foi deferido até novas instruções.

MERCEARIAS EXISTENTES EM 1935

Joaquim Dias Serras (Joaquim da Sola), Bento Lopes Rei, Francisco Lopes Rei, David de Oliveira, Manuel Antunes Júnior, Olímpia da Conceição, António Miguel, Joaquim Grácio (Pailó), Francisco Ramos, Miguel da Silva, João Dias Milheiriço, António Carvalho Tramela (Herdeiros), José Maria de Sousa, João Marques Ferreira, Manuel Lourenço, Miguel Lopes Rei (Herdeiros), Joaquim Baptista, Joaquina da Conceição e António Salgueiro

DROGARIAS (1941)

António Carvalho Tramela (Herdeiros), Francisco Augusto da Silva e Manuel dos Santos Pinto.

MATADOUROS (1934)

Câmara Municipal, Júlio Grácio, David Grácio e Francisco António.

PANIFICADORAS / PADARIAS (1935)

Máximo Pombo, Francisco Lopes Rei, Hermenegildo Bernardo, André Marques.

MODISTAS – Proprietárias de atelier’s (1935)

Eugénia Marçal Simples, Dalila da Silva Moleirinho Marçal, Maria Rosa Alves Reis e Inocência Alves Reis.

LAGARES: Ainda que não me tenha sido possível localizar uma listagem completa dos lagares de azeite existentes no concelho de Sardoal, nesta altura, através de correspondida pela Câmara Municipal de Sardoal, em Maio de 1935, conclui-se que o concelho tinha cerca de 50 lagares de azeite.

Luís Manuel Gonçalves