Moinhos

Os caminhos para a modernidade

Tão longe e... tão perto!

AO CAIR DA TARDE

Em todo o céu se apagou a refulgência de oiro, o esplendor arrogante que se não deixa fitar e quase repele, agora apaziguado e tratável, ele derrama uma doçura, uma pacificação que penetra na alma, a torna também pacífica e doce e cria esse momento raro em que o céu e a alma fraternizam e se entendem.

Os arvoredos repousam, numa imobilidade de contemplação que é inteligente. No piar velado e curto dos pássaros há recolhimento e consciência do ninho feliz. Em fila, a boiada volta dos pastos cansada e farta, e vai ainda beberar ao tanque, onde o gotejar da água sob a cruz é mais preguiçoso.

Toca o sino a avé-marias. Em todos os casais se está murmurando o nome de Nosso Senhor. Um carro retardado, pejado de mato, geme pela sombra da azinhaga.

E tudo é tão calmo e simples e terno, que em qualquer banco de pedra em que me sente, fico enlevado, sentindo a penetrante bondade das coisas, e tão em harmonia com ela que não há nesta alma, tão incrustada das almas do mundo, pensamento que não pudesse contar a um santo.”

EÇA DE QUEIRÓS - Correspondência de Fradique Mendes

Este pequeno texto do grande vulto das Letras Portuguesas que foi Eça de Queirós retrata, com uma visão algo poética, um fim de tarde numa aldeia portuguesa, há cerca de 100 anos.

Entretanto os tempos mudaram muito e os usos, costumes e tradições foram-se adaptando aos avanços da civilização, modificando, profundamente, o modo de vida das populações rurais, quer nos seus hábitos e relações sociais, quer na angariação da subsistência do dia-a-dia, que durante séculos teve por base a agricultura e a pastorícia, para além de algumas actividades artesanais que lhe serviam de suporte e que em muitos casos funcionavam como actividades complementares do rendimento das famílias e que, normalmente, não dispensavam para os artesãos que as realizavam, o exercício da actividade agrícola como garantia de subsistência.

Nem tudo era bom na vida rural desses tempos remotos e muitos foram os trabalhos e sacrifícios dos nossos antepassados, para garantir a sobrevivência da família, com os precários meios de que dispunham, quer em termos económicos, quer em termos de educação, saúde, etc...

Mas há muitos aspectos da vida desses tempos que vale a pena recordar e registar.

Para os jovens de hoje poderá parecer impossível de imaginar a vida sem electricidade. No entanto a energia eléctrica só chegou ao Concelho de Sardoal em 1931, com a inauguração da rede eléctrica da Vila de Sardoal, com a presença do Presidente do Conselho de Ministros de então, o General Domingos de Oliveira, e que mesmo assim, em termos domésticos, só cobria uma pequena parte das habitações da Vila.

O processo de electrificação do Concelho de Sardoal teve continuidade nos anos 50 com a electrificação de Andreus e Valhascos e só terminou no final dos anos 70/princípio dos anos 80, primeiro com a electrificação de Cabeça das Mós, seguindo-se a freguesia de Alcaravela e a aldeia de Entrevinhas e as restantes povoações do Concelho.

Mais longo e esbatido no tempo foi o processo de abastecimento de água ao domicílio no Concelho de Sardoal, que se iniciou, por volta de 1905, com a ligação a 5 consumidores domésticos na Vila de Sardoal.

O abastecimento de água à Vila foi reforçado em 1954, tendo-se então generalizado à maior parte das habitações, prosseguindo já nos anos 70 com o abastecimento a Andreus, Cabeça das Mós e Valhascos, e no início da década de 80, com as aldeias de Entrevinhas, Tojeira, S.Simão e Venda Nova, obtendo-se a cobertura total do Concelho, já nos anos 90, num processo que durou quase 90 anos.

Durante séculos o abastecimento de água à população foi feito por fontenários, muitas vezes fontes de mergulho ou chafurdo que só começaram a ser desactivados ou transformados em chafarizes com torneira a partir de 1966, que pela sua localização obrigavam, geralmente a grandes deslocações das pessoas e na época estival à formação de grandes filas para encher os cântaros onde se transportava a água potável(?) para consumo humano.

Apenas a título de curiosidade refere-se a circunstância de nos anos 30, quando começaram a ser instalados os primeiros postos públicos de telefone, tal facto ser motivo de festa nas localidades onde isso acontecia e que a instalação de telefones em casas particulares só se generalizou depois de 1972, quando foi alargada a rede telefónica do Concelho e instalada uma central telefónica automática na Vila de Sardoal, para substituir a velha central manual que obrigava à permanência contínua de um(a) operador(a), na Estação dos Correios de Sardoal.

Ilustrativo desta evolução a caminho da modernidade é, também, o facto de a primeira ambulância de que o Concelho dispôs, ter entrado ao serviço no final da década de 60 ou no princípio da década de 70, numa oferta da Fundação Calouste Gulbenkian à Santa Casa da Misericórdia de Sardoal, tempo em que os Bombeiros Municipais, criados em 1953, dispunham apenas de uma viatura para combate dos fogos florestais e urbanos que ocorressem no Concelho.

Não se estranhará, por isso, que a população do Concelho que apresentou o seu maior efectivo de sempre no Censo de 1940 ( 7 163 hab.) tenha vindo, sucessivamente, a diminuir até 1991 (4 430 hab.), atingindo, nesse ano, níveis inferiores a 1864 ( 4 708 hab.).

Vale a pena, no entanto, recordar e recuperar algumas memórias desse passado que sendo distante no tempo, está às vezes mais próximo do que pode parecer à primeira vista, como é o caso das azenhas e moinhos de vento, para moer cereais, de que existem, ainda alguns exemplares que podem ser recuperados e postos a funcionar, constituindo um museu-vivo, para recordar e dar a conhecer aos mais novos, a forma de vida dos nossos antepassados.

RECUPERAÇÃO DOS MOINHOS DE VENTO DE ENTREVINHAS

Para melhor nos situarmos no tempo e na função das azenhas e moinhos de vento, socorro-me de um trabalho da autoria do Exmº Sr. Dr. Manuel José Baptista, publicado no Boletim da Santa Casa da Misericórdia de Sardoal nº 21/23 - Abril/Junho de 1985:

MOINHOS & AZENHAS

OS MOINHOS - que saudade!

Essas velhas sentinelas, perfiladas no alto dos outeiros, dominando as veigas e as planícies por além fora, e que desde muito longe nos iam fazendo uma saudação amiga e prazenteira, num cumprimento largo das suas velas adejantes, são já uma relíquia do passado - embora bem viva na nossa lembrança.

Foram a máquina primitiva que nos facultou o pão, e se manteve durante a lonjura dos séculos em fora, com as suas companheiras paralelas, as azenhas, detendo, quase em «monopólio» o fabrico da farinha.

Por isso hoje nos dá pena quando topamos com alguns desses velhos moinhos, quase sempre desmantelado e a ruir, paredes desmoronadas, os paus das velas carcomidos pelo tempo, as mós arrancadas e partidas... desde que máquinas infinitamente mais poderosas e modernas chegaram, para se apoderarem do bom trigo loiro, - como outras, igualmente, deveriam aparecer, entretanto, para substituir os braços robustos dos amassadores.

As fábricas de moagem do cereal, com os seus engenhos trituradores, as suas instalações cada vez mais modernas e sofisticadas, quase mataram o moleiro, que ficou ainda uns tempos no cume dos montes, olhando as veredas por onde outrora o velho burro subia com os sacos do cereal e, no dia seguinte, retornava aos povoados, com os foles atulhados de farinha branca e leve.

Mas a freguesia fora rareando em rápida debandada e o progresso matava a tradição: - os velhos moleiros foram vendo cair, a pouco e pouco, os seus baluartes. E era um dó vê-los abandonar com desgosto a sua tebaida e, com uma saudade profunda deixaram a sua ocupação de tantos anos, quantas vezes passada de pais a filhos, num largo encadeamento de gerações!

E esses vetustos moinhos, de velas alvas desfraldadas ao sopro dos ventos, no alto dos montes e outeiros, não passam hoje de respeitosas curiosidades de um passado, cada vez mais a esfumar-se na penumbra das nossas recordações!

Na sequência desta incursão pelo passado desenvolver-se-á, a propósito, num dos próximos números um pacto curioso e original, celebrado entre a Misericórdia e os Moinhos e Azenhas do Concelho, o qual sempre se pautou pela melhor harmonia entre essas entidades.

E no número seguinte do referido Boletim da Misericórdia, continuava o mesmo autor:

...DE COMO ERA FEITO O PÃO DE CADA DIA!

Quando, no último nº do «Boletim» se abordou este mesmo tema, deixou-se em suspenso, por falta de espaço, a referência a um conflito surgido entre os moleiros do nosso concelho, um pouco antes dos finais do século passado - o qual, de algum modo, veio a estar relacionado, também com a Misericórdia do Sardoal.

O diferendo em causa ocorreu há cerca de 100 anos, números redondos, pois se situou temporalmente entre 1880/1890. Alguns elementos permitem, com efeito balizá-lo entre aqueles dois extremos, se bem que não se conheça, já, com rigor, a data exacta.

Por essa época ( e como vinha acontecendo, aliás, de tempos mais recuados), a Misericórdia mandava cozer o pão para o consumo do seu Hospital, todos os dias, em um forno da própria Instituição. Com efeito, na altura as padarias eram, ainda, estabelecimentos quase de «luxo», sobretudo nos meios pequenos da província e tinham uma venda bastante reduzida e limitada, que não dava garantia de abastecimento regular a comunidades de certo porte (como hospitais, asilos, quartéis, orfanatos), sobretudo nos casos em que poderiam ter população flutuante. Daí que, pelo menos em zonas como a nossa, essas instituições mandassem cozer o pão de que necessitavam para seu consumo, quer em fornos próprios (que muitas possuíam), quer nos de utilização pública - que, muitas vezes, tinham sido mandados fazer pela Câmara. Aqui em Sardoal, havia alguns deste último tipo mas que, na altura, já eram propriedade de «forneiras» particulares.

Essas mulheres, cujo mister era, exactamente, cozer pão para as pessoas que lhe confiavam tal encargo, tinham uma remuneração que era normalmente retirada, em espécie, do próprio cereal, numa determinada percentagem, a que se chamava a «maquia» - forma de pagamento ainda hoje utilizada pelos lagares de azeitona desta área. Mas, havia, igualmente, quem preferisse pagar-lhes em dinheiro, a tanto a fornada.

Além disso, a mulher-do-forno recebia sempre, como gratificação extra, a oferta de um pão grande e de uma merenda doce, por cada tarefa que lhe confiavam. Era um hábito consuetudinário que, com o andar dos tempos, veio a ser tomado como «lei».

O trabalho dessas mulheres era bastante duro e penoso, uma vez que passavam dezenas de anos sempre em contacto com a alta temperatura dos fornos quase em brasa, na espinhosa tarefa de converterem o cereal panificado em belos pães redondos, muito loiros. Toda a gente apreciava, na altura, o pão cozido e aloirado; - essa característica, sempre tomada a preceito, fazia o crédito e a fama profissional daquelas tarefeiras. Estava-se bem longe, ainda, das actuais massas esponjosas e encruadas dos «croissants» e seus afins, com que muitos habitantes dos grandes centros, nos dias de hoje, se dão por satisfeitos, considerando-os como suporte e base de uma pretensa «refeição», insípida e desalinhavada.

Como se referia, a Misericórdia que, por esta altura tinha sempre o Hospital cheio de doentes e protegia e amparava, tal como hoje, muitos outros necessitados, nos terrenos adjacentes ao Hospital, conhecidos pela designação de «a cerca» - e, em consequência do volume da sua cozedura diária, mantinha uma forneira privativa, para todas as tardes, uma vez que a amassadura era feita da parte da manhã, por empregadas do Hospital.

Para as necessidades diárias da farinha correspondente, utilizava os serviços de três ou quatro moleiros da zona, de entre os vinte e tal que laboravam na área.

Aconteceu, porém, que por aquela altura, a citada mulher-do-forno do Hospital da Misericórdia veio a casar com o moleiro de azenha - o qual, por acaso, não pertencia, até então, aos contratados pela Misericórdia pela Santa Casa. Mas, a partir dessa altura, porém e como facilmente se deduz, ele veio logo a fazer parte dos fornecedores da Misericórdia!

Só que isso deu origem a uma espécie de conflito entre os seus colegas de ofício e todos se passaram a considerar, então, com direito a servir, também, a Santa Casa...até porque o volume das suas encomendas era bastante significativo.

Esse mal-estar começou a dar origem a incompatibilidades e rivalismos pessoais, com desentendimentos graves numa classe que havia sido, desde sempre, ordeira e convivente.

Então, a Misericórdia, no sentido de acalmar os desavindos e restabelecer um clima de paz e de concórdia, chamou-os a todos, para uma reunião conjunta - talvez um «plenário», como se usa empregar na moderna terminologia.

E, depois de ouvir os pontos de vista apresentados, fez a todos uma proposta conciliadora.

Assim passava a estabelecer contrato com todos os moleiros do concelho ( e só do concelho!), sem qualquer excepção. Em cada mês eram destacados dois, para servirem a Misericórdia, trabalhando em dias alternados - excepto domingos e dias-santos. Durante o Inverno, mais concretamente, nos meses de Novembro/Abril, o trabalho ficaria confiado aos moleiros-de-azenha, para aproveitar os caudais pluviosos dessa época do ano; nos restantes meses, era adjudicado aos moinhos-de-vento.

Foi feita, então, e logo a propósito, uma escala a tempo largo, obtendo-se por sorteio a ordem dos participantes.

Esta solução, tão simples e prática, que emergiu de um diálogo sereno e bem-intencionado, veio a merecer a concordância de todos os interessados. E o problema, que a princípio se mostrara intrincado e chegara, mesmo, a ganhar proporções, resolveu-se assim, sem mais entraves nem dificuldades.

E não consta que alguma vez, mais, se tivesse reacendido!

No meu livro “SARDOAL - DO PASSADO AO PRESENTE - Alguns subsídios para a sua monografia”, sobre moinhos e azenhas, escrevi o seguinte:

...De Inverno e enquanto as ribeiras corressem água suficiente, a moagem (dos cereais) era feita nas azenhas, com o aproveitamento da força motriz da água, que era desviada para as levadas nos açudes, às vezes situados a algumas centenas de metros, por questões de nível ou ponto e corria para uma represa com um sistema de comportas de madeira, onde se abria a água que era conduzida por um canal feito em alvenaria ou madeira, até ao rodízio, roda em madeira com uma espécie de pás, que trabalhava na horizontal, transmitindo o movimento a um eixo vertical que movimentava a mó.A azenha tinha duas mós: uma era fixa e a outra móvel de dureza e texturas diferentes, conforme o tipo de cereal a que se destinava.

O ceral (conhecido por «pão») era colocado numa caixa de madeira, a canoura ou moenga, na forma de pirâmide quadrangular invertida, com um mecanismo simples que permitia a saída, quase grão a grão, dos cereais, pela tremonha, cujo funcionamento era regulado por uma pequena roda de cortiça que girava sobre a mó de cima, caindo a farinha no tremonhado ou tremolhal, estando as mós resguardadas pela cambeira, que evitava que a farinha se espalhasse.

As azenhas dispunham, regra geral, de mecanismos muito simples para duas funções: a primeira era acordar o moleiro quando se acabava o cereal na tremonha e que em linhas gerais consistia num chocalho pendurado sobre a mó, atado a um cordel que, por outo lado tinha na outra extremidade um pedaço de madeira ou uma roda de cortiça que era colocada no fundo da tremonha, onde ficava preso pelo peso do cereal. Quando se soltava por falta de cereal, obrigava o chocalho a cair sobre a mó, fazendo um tal barulho que não sono, por mais pesado, que lhe resistisse.

O outro mecanismo era de funciomamento análogo e permitia ao moleiro ausentar-se com a azenha em funcionamento, sem correr o risco de as pedras ficarem a trabalhar em seco, o que lhes provocava grande desgaste e que consistia numa peça idêntica à que referimos para o chocalho, mergulhada no cereal, ligada com um cordel por um sistema de roldanas a uma tábua que quando o grão se acabava, caía sobre a entrada da água no rodízio, desviando-a e impedindo, assim, o seu movimento.

Quando a água faltava nas ribeiras, recorria-se, então, aos moinhos de vento e eram muitos os que existiam no Concelho de Sardoal. A aldeia de Entrevinhas tinha quatro. Perto da Presa existiam dois. Um na Quinta de Arcez, perto da Lapa. Cabeça das Mós tinha dois ou três. Em Valhascos existem ruínas de um e, decerto, pelo Concelho existiriam muitos mais, cujas ruínas se perderam ou não conhecemos.

Os moinhos do nosso concelho eram de pedra.Tinham a forma de um tronco de cone, quase um cilindro, com paredes largas, com uma porta e uma janela; a porta, quase sempre voltada a sul e a janela a nascente, sendo rematados com um tejadilho cónico ou em forma de pirâmide, que assentava a meio da parede, deslizando sobre ela, normalmente por tracção do mastro. Toda a estrutura de cobertura e o mastro eram móveis, o que permitia adaptar a posição do mastro a ventos mais favoráveis.

No mastro eram colocadas as varas, regra geral oito, onde se punham as velas de lona ou pano e o vento actuando sobre elas, imprimia um movimento circular que se comunicava à entrós ou entrosga, roda dentada que engrenava noutra, propagando o movimento à mó através de um eixo de ferro. Tinham dois pisos, ligados por uma escada interior, também de pedra. A moenda com as mós, também como nas azenhas, uma móvel e outra fixa, ficava no piso superior, resguardas pela cambeira, tendo também o tremonhal, a canoura, a tremonha, etc...

A espessura das paredes permitia construir três cavidades: uma mais baixa, onde se guardavam os foles, outra mais alta onde se abrigava o moleiro, resguardando-se da chuva que a cobertura de madeira não conseguia evitar e uma mais pequena para guardar a lanterna de iluminação.

Para além da imagem de alguns moinhos que vimos trabalhar em Entrevinhas e em Cabeça das Mós, guardamos na memória a chiadeira que se ouvia quando os moinhos funcionavam, fruto do ranger das madeiras.

As azenhas e, em especial, os moinhos de vento, obrigavam a trabalhos de carpinteiros especializados e pode dizer-se que eram autênticas obras de arte e engenho.

É claro que as modernas moagens permitem o fabrico de farinha de melhor qualidade e de forma mais rentável, mas como ilustração de um estágio da nossa civilização, seria óptima ideia a recuperação de pelo menos um moinho e de uma azenha, para que os mais novos pudessem verificar, ao vivo, a história dos seus antepassados e ainda é tempo, porque existem mecanismos quase completos e os seus donos não engeitariam a oportunidade de os voltar a ver, montados e a funcionar, nem que fosse esporádicamente.”

Os quatro moinhos de vento localizados no monte sobranceiro a norte à aldeia de Entrevinhas, constituíram o mais importante núcleo de moinhos do Concelho de Sardoal e até da região, sendo o estado de conservação das suas paredes muito razoável, excepto num deles, que se encontra, parcialmente, em ruínas.

Na perspectiva da sua recuperação foram adquiridos há alguns anos pela Junta de Freguesia de Sardoal (3) e pela Câmara Municipal de Sardoal (1) e, bem assim, a sua zona envolvente, o que possibilitou o arranque da sua recuperação.

Os acessos foram já melhorados, ainda que careçam de uma intervenção com vista à sua remodelação.

No local está já colocada energia eléctrica e o abastecimento de água potável é bastante fácil de fazer, uma vez que ali existe um furo artesiano com água em qualidade e quantidade.

Regista-se, também, o facto de a zona envolvente dos Moinhos de Entrevinhas ter um excelente enquadramento paisagístico, sendo um miradouro de grande amplitude, em especial para sul e poente.

OBJECTIVOS DO PROJECTO:

O principal objectivo deste projecto é a recuperação total de dois dos moinhos de vento existentes no alto de Entrevinhas, com a criação de uma zona de lazer na área envolvente, aproveitando-se os outros dois moinhos para a instalação de algum equipamento de apoio.

Numa segunda fase pretende-se criar um circuito turístico, em torno do que podemos chamar a «rota do pão», que incluirá, também, as azenhas ainda em funcionamento ou que poderão, facilmente, ser recuperadas, na Ribeira das Sarnadas (Vale do Cabril), para onde está prevista a construção de uma praia fluvial e na Ribeira do Vale Formoso, que confluem próximo da Lapa, constituindo a partir daí a Ribeira de Arcez, numa zona que, a ser construída a Barragem da Lapa, ficará submersa pela sua albufeira.

Refere-se, igualmente, a grande tradição dos moleiros de Entrevinhas e Palhota, que durante séculos e até há pouco mais de 20 anos, garantiam a moagem dos cereais destas duas aldeias, da parte sul da freguesia de Alcaravela, de parte da freguesia de Valhascos e da Vila de Sardoal, entre outras, nos tempos em que a produção da farinha para o fabrico do pão e para alimentação dos animais era garantida, em grande parte, pela produção cerealífera dos seus habitantes.

O projecto técnico deste empreendimento foi elaborado pelo GAT de Abrantes, estando já aprovado pela Câmara Municipal, tendo um orçamento previsto, na ordem dos 29 000 contos.

Sardoal - Janeiro de 1999

Luís Manuel Gonçalves

Este trabalho foi elaborado em 1999, no âmbito da preparação do projecto de recuperação dos Moinhos de Vento de Entrevinhas. Este projecto foi parcialmente concretizado mas, hoje, os Moinhos de Entrevinhas encontram-se ao abandono.

A Câmara Municipal de Sardoal é, também, proprietária das azenhas do Porto de Mação, ainda em condições de funcionamento. Para quando a sua utilização para fins turísticos e pedagógicos. Estará essa utilização prevista no projecto de museu a que se refere o PPI de 2010?